Edi Roque: entrevista com o músico e produtor

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Edi Roque é um destes músicos singulares que, infelizmente, ainda não tem o destaque que merece. Com um repertório que vai do rock clássico ao blues, sem soar como algo desconexo, possui uma carreira como músico e também como produtor. Confira a entrevista que ele concedeu para o Groundcast.

 

Agradeço muito a você por conceder-nos uma entrevista para nosso querido blog Groundcast. Sem rodeios, por favor, nos conte um pouco sobre sua trajetória como músico, como começou e porque começou?

 

Comecei na música muito cedo, minha aproximação foi muito cedo, pois havia um teclado em casa. Estudei piano com 5 ou 6 anos e, aos 12 passei para a guitarra. A música desde cedo foi o fator decisivo em minha formação enquanto ser pensante e criativo. Sem o poder da música certamente eu não estaria aqui.

 

Quais são as suas maiores influências? Porque ao ouvir os seus trabalhos (tanto o CD quanto os vídeos no youtube), nota-se uma versatilidade muito grande, indo do blues até algo próximo do Hard Rock, sem soar uma colcha de retalhos.

 

Fico feliz em transparecer essas qualidades através do meu trabalho. Os guitarristas que admiro são tantos que seria preciso uma matéria só com uma parte da lista (risos), mas alguns de meus preferidos são Jimi Hendrix, Andy Timmons, Gary Moore, John Norum, Paul Gilbert… Quando comecei na música existia um pensamento generalizado que dizia que “para ser músico você precisa tocar de tudo”. Tive muitos colegas que acabaram se rendendo à profissão mesmo, tocando coisas que pessoalmente eles não gostavam, apenas pelo dinheiro. Durante algum tempo cheguei a fazer isso também: freelances, bandas de baile, bandas temáticas, covers, etc. Tudo isso causa no músico uma certa ilusão de que toda experiência é válida mas, no meu caso, tudo o que fiz apenas pelo dinheiro só serviu pra me afastar do que realmente valia a pena: minha música. Não discrimino quem faz isso, mas infelizmente essas pessoas acabam se tornando reféns do dinheiro e dificilmente vão sair desse ciclo, tem muita gente boa deixando de criar música pra ficar tocando lixo comercial, muitas vezes acompanhando cantores ridículos com o ego maior do que o talento. Se os bons músicos se unissem e fizessem um tipo de “greve” te garanto que muita coisa ia mudar.

 

De onde veio a ideia de gravar uma versão de “Ai se eu te pego”?

 

Ahh, você assistiu, kkkkkk.  Preciso tirar isso do ar… Na verdade isso foi uma brincadeira, literalmente acordei num domingo de manhã e gravei aquilo no primeiro take pra “tirar um sarro”. Se fosse o Caetano Veloso, o vídeo se tornaria uma polêmica, mas no meu caso ninguém entendeu a crítica (risos). Mas, pelo menos foi divertido, pra mim (risos).

 

Conte-nos sobre o disco “Caminho”, como ele foi produzido e por que ele é todo instrumental? Pessoalmente eu gostei muito mais de ver as músicas no vídeo, ela soam muito bem para apresentações.

 

Ao vivo as músicas ganham uma dinâmica e expressividade maiores porque o público te leva a interpretar com mais pressão. Esse disco foi produzido em meu próprio estúdio e a ideia de gravar temas instrumentais foi algo que aconteceu naturalmente. Tenho 2 discos “vocais” anteriores e em cada um já existia sempre uma faixa instrumental. Existem assuntos que palavras não conseguem expressar e voz nenhuma é capaz de dizer. Posso te adiantar em primeira mão que “Caminho” é o primeiro CD de uma trilogia e que já estou em produção do segundo CD para breve.

 

Você possui alguma religião? Pergunto isto por notar que no cd “Caminho” referências a versículos da Bíblia Sagrada.

 

Sou cristão. Mas a música é common, todas as faixas servem como uma trilha sonora para as pessoas buscarem a referência Bíblica, independente da religião. Existem uma melhor percepção das músicas quando você procura o texto em que elas foram inspiradas e as escuta sabendo da história. Crianças tentem isso em casa (risos).

 

Desde quando decidiu se tornar produtor? Quais artistas ou trabalhos realizou neste tempo?

 

Não escolhi ser um produtor. Mais uma vez foi um caminho. Trabalhei em estúdio muito tempo, fui auxiliar de produção, auxiliar de mixagem (na é% do analógico) até começar a assumir trabalhos no estúdio e tempo depois montar o meu próprio estúdio. Gravei e produzi muita gente, inclusive um artista internacional, sem citar nomes para não deixar ninguém de fora, acredito que tudo foi um aprendizado e tive o prazer de trabalhar com bons músicos.

 

O Brasil é um país cujas pessoas valorizam muito pouco a cultura e a música. Como é viver de música num país como o nosso?

 

O Brasil é um país muito grande. O problema é que a mídia está pautada por coisas superficiais que geram lucro a curto prazo. Mas sinto que algumas pessoas estão se cansando das modinhas e da massificação que os canais tentam empurrar diariamente. Existe ainda uma massa muito carente e que absorve essas coisas, mas cabe aos artistas de verdade encontrar uma forma de levar sua arte ao povo sem depender dessa divulgação comprada e monopolizada por gravadoras. Já falei sobre isso, mas a culpa dessa desvalorização vem do próprio músico. É ridículo ver um músico de jazz tocando sertanejo pra pagar as contas, mas esse é jeitinho brasileiro de sobreviver. Enquanto o músico não se aceitar e se assumir em fazer a sua verdade na arte, nada vai mudar.

 

Como tem sido a rotina de shows? Muitas apresentações?

 

Atualmente, devido a produção do próximo disco, não estou com tempo pra cuidar de uma agenda mais ativa, mas tenho feito alguns workshops e eventos divulgando algumas das empresas que me patrocinam como a Peavey. Em breve estarei lançando a turnê de divulgação do novo CD.

 

Normalmente as casas de shows preferem bandas cover àquelas que fazem som próprio. Você sofre com este problema?

 

Já sofri. Inclusive tenho outro ponto de vista sobre isso: As pessoas querem ouvir o novo! Basta assistir 2 ou3 bandas na noite para perceber que basicamente todas elas tocam o mesmo repertório, isso acontece no rock, samba e sertanejo. Vejo as bandas indo pelo caminho mais fácil: todo mundo quer tocar o que está na moda, ou o que já foi consagrado. O que eu vejo é que o pessoal não aguenta mais ouvir as mesmas coisas, geralmente cópias mal feitas inclusive, tipo “linha de produção”. Cabe às bandas apresentar o novo, o inédito, mas pra isso tem que ter coragem. Encarar a má-vontade de alguns e se manter firme no propósito. Meu lema é: se você não tocar a sua música, quem vai?

 

Você disponibilizou gratuitamente o seu álbum “Caminho” para download. O que você pensa sobre a distribuição ilegal de mp3?

 

Penso que existe uma confusão muito grande nesse assunto. Bandas independentes tentam usar a internet para divulgar seus trabalhos enquanto bandas “famosas” sentem-se lesadas, pois deixam de lucrar com as vendas. As pessoas ainda estão aprendendo a lidar com isso. Meu trabalho está disponível no meu página www.ediroque.com.br, mas muita gente prefere o CD em formato físico e pode adquirir nas apresentações. Temos que ter a consciência de que uma banda do mainstream sofre menos com downloads gratuitos do que uma banda independente, então é apenas uma questão de bom-senso do público. Acho o download uma forma bacana de conhecer novos trabalhos, mas faço questão de comprar aquilo que me agrada. O mp3 pra mim é apenas uma “amostra grátis”.

 

Muito obrigado pela entrevista Edi. Agora é o seu espaço para deixar um recado aos leitores do Groundcast. Manda bala.

 

Em primeiro lugar, muito obrigado pelo espaço e pelo conteúdo da entrevista e do blog. Quero agradecer também a todos que acompanham o meu trabalho e prestigiam minha música. Tudo o que faço é com muita dedicação e sinceridade. Receber o carinho de pessoas que se identificam com isso é algo maravilhoso. Por último, pode parecer clichê, mas digo isso de coração: não desista dos seus sonhos. Deus é justo e jamais vai colocar em você o desejo de realizar algo impossível. Esteja firme e faça tudo com amor. As coisas começam a acontecer quando você primeiramente faz a sua parte.

 

Links Relacionados

 

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Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.