ENTREVISTA: Hannes Grossmann, baterista do Obscura

4 min


0

Recentemente Hannes Grossmann, baterista do Obscura me concedeu essa entrevista para o Groundcast.

1. Para começarmos, você pode nos dizer como a música entrou na sua vida?

Eu cresci com a música que meu pai escutava, como as coisas dos anos 60 e do começo dos 70. Eu não sei explicar direito, foi como uma dessas bandas antigas, como por exemplo The Who, que realmente me fascinavam. Comparado ao que rolava no rádio, esse rock mais antigo soava mais novo e excitante, por mais jovem que eu fosse.

2. Por que a escolha de tocar bateria?

Eu acho que todos os garotos têm vontade de tocar bateria porque faz um barulhão. Uma vez eu fui à casa de um amigo que possuia um kit de bateria e eu senti como se fosse a melhor coisa que eu já tocara. Eu tocava piano antes, e meu professor disse que eu tinha um pouco de talento pra rítmica, então meus pais me deram uma bateria de Natal.

3. Por que o interesse no Metal Extremo?

“Metal Extremo“ me parece ultimamente o tipo de música que tem a pegada mais progressiva na composição de toda a gama do rock. O Death Metal moderno é o verdadeiro Prog Metal praticamente. Claro que existem muitas bandas limitadas, que não querem explorar coisas novas, mas quando você vai a fundo na busca de bandas que inovam, você obviamente as encontra. O alto nível dos músicos em muitas dessas novas bandas ‘técnicas‘ é algo realmente interessante, e mesmo que esteja relacionado e baseado nas bandas do Heavy Metal ‘old school‘, o Metal Extremo é uma nova vertente. Existem tantas coisas que podem ser feitas, nas quais nenhuma outra banda já tentou.
Claro que também é uma questão de gosto e feeling pessoal. Quando eu tinha 9 anos e ouvia Beatles, eu curtia mais ‘Helter Skelter‘ do que a ‘While my guitar gently weeps‘, então pode-se dizer que eu sempre curti mais música agressiva.

4. Você pode nos citar algumas de suas influências?

Além das coisas dos anos 60, minha primeira banda favorita foi Led Zeppelin. Eles me influenciaram muito, assim como Deep Purple e Rush, claro. Quando eu era jovem, curtia muito o hard rock e o prog dos anos 70. Na adolescência eu procurava bandas com mais distorção e uma imagem mais ‘bizarra’, então eu curti muito Iron Maiden. Aos 13 anos, eu descobri os primeiros três albuns do Dream Theater e então eu vi o tipo de música que eu queria tocar: o chamado Metal Progressivo. Meu gosto musical foi se tornando mais e mais extremo, e eu descobri Watchtower, Death, Emperor, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Dissection e Opeth. Eu sempre fui de curtir bandas, e não muito apegado à músicos específicos. Claro que existem exceções pra bateristas. Eu admirei (e ainda admiro) Dave Weckl, Marco Minnemann, Steve Smith, Simon Phillips, Buddy Rich.

5. Conte-nos como foi tocar por quatro anos com os ícones do Death Metal Técnico, o Necrophagist?

No começo foi empolgante, e depois um pouco estranho. Aquele tipo de metal era exatamente o que eu queria tocar nos meus 20 e poucos anos, mas por algum motivo minha perspectiva mudou e tocar as mesmas e mesmas músicas se tornou algo chato.

6. Como é entrar em turnê com os maiores nomes do metal hoje em dia?

Com certeza você não está falando do Obscura, haha. Mas estamos viajando com o Cannibal Corpse, The Black Dahlia Murder, Atheist, Devin Townsend e Children of Bodom. Eu não penso muito nas classificações por popularidade. Se a música é boa e eu o pessoal é legal, eu vou gostar de sair em turnê com eles.

7. Seu DVD chama “Progressive Concepts for the modern metal drummer”. Quais conselhos você poderia dar para bateristas iniciantes de metal?

É difícil. Há tanta informação por aí sobre bateria…eu diria “Arrume um bom professor que pode te explicar o básico. Se você começar errado, talvez nunca pegue direito. Não se importe com o que os outros dizem, aprenda a ler partitura e tudo aquilo que pode te ajudar a melhorar. E não pense em certo ou errado, se alguma coisa parece musicalmente certo, provavelmente é”

8. Como você classificaria seu estilo de tocar?

É metal-fusion, haha. Ou melhor, eu toco rock pesado, com muita influência de fusion, e sei blast beats. Ao integrar estilos diferentes ao metal, eu me torno um baterista de metal progressivo.

9. Na internet podemos achar informação de que você alcançou 240bpms(batidas por minuto) num blast beat. Como você ficou tão rápido?

Na verdade no último álbum o maior tempo é 260 bpm. Mas a velocidade só é importante se a música precisar dela. E como você alcança esse tempo? Muita prática! Eu desenvolvi alguns métodos para tirar vantagens da velocidade, que podem ser assistidos no meu DVD. Claro que tempos rápidos podem impressionar alguns, no entanto, velocidade só é boa pra expressar algo concreto. Não há um propósito em apenas se tocar rápido, é a música que determina o tempo.

10. Você desenvolveu métodos para ensinar pela internet, isto é incomum. Qual o lado bom e o lado ruim disso?

O lado bom é que os alunos aprendem muito rápido, comparados àqueles que eu leciono no meu estúdio. Com os vídeos, os caras ficam muito mais focados nos exercícios e também não há tempo perdido nas conversas ou coisas frívolas, então definitivamente você aprende mais rápido. O lado ruim é que é um grande esforço.

11. Além do Obscura, você pode nos falar do Blotted Science?

Nós lançaremos um EP com 7 músicas em Outubro, e eu estou muito empolgado com ele. Cada música foi composta em cima de um filme, então se havia algo muito óbvio, eu tive que orquestrar pra encaixar na bateria. Foi bem desafiador e provavelmente as músicas mais intensas que eu já ouvi.

12. Como você avalia o cenário do metal hoje?

Eu não o avalio de maneira alguma, porque isso iria mostrar que eu sei mais que os outros, o que não é verdade. Existem bandas que eu adoro e bandas que eu não curto. Os fãs de metal são os melhores, porque eles vivem para música e esse estilo em particular é realmente importante pra eles e isto é algo que eu realmente admiro no metal. De maneira geral, há muita variedade hoje em dia.

13. Nós somos do Brasil. O que você conhece do nosso país e do nosso cenário musical?

Na verdade, eu conheço muito pouco do Brasil e do seu cenário musical, mas eu espero que isto mude logo e tenhamos a chance de finalmente ir praí e tocar para vocês. Claro que eu conheço Krisiun e Sepultura, quem não conhece…

14. Obrigado pelas respostas, Sr. Grossmann. Deixe uma mensagem para os leitores do GroundCast e aos seus fãs no Brasil (e por favor, nos diga que o Obscura virá ao Brasil logo)

Eu adoraria te dizer isso, haha…estamos trabalhando nisso. Só uma nota ao final: se você está interessado no que eu faço musicalmente, dê uma olhada no meu site, você também pode adquirir meu DVD lá. Eu gostei muito desta entrevista e gostaria de agradecer a oportunidade de me apresentar aos nossos fãs no Brasil. Espero vê-los em breve.

Para quem não conhece, Obscura é uma banda alemã de Death Metal Técnico/Progressivo.


Brasileiro, baterista desde 2003, professor de História, viciado em música, principalmente Metal e Rock, mas transita bastante no Folk, Jazz, Blues e Música Clássica. Pós-graduado em Tradução. Também gosta muito de Fantasia e coisas que orbitam o Planeta Nerd. Dorminhoco nas horas vagas, escreve muito raramente para o Groundcast.