ENTREVISTA – Todtgelichter

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Vindos de Hamburgo, Alemanha, a banda Todtgelichter pode ser considerada um dos grandes nomes do Avantgarde/Extreme metal alemão. Com quase 15 anos de trajetória a banda possuí 5 álbuns e mostra uma progressão visível com o passar dos anos. A banda começou com músicas em alemão e desde 2010 incorpora músicas em inglês em seus CDs Todtgelichter tem muito a oferecer e seu último álbum “Rooms” é certamente um prato cheio para os amantes de boa música. Conversamos com Tentakel P. (baterista) um dos fundadores da banda.

Conte-nos um pouco da história de como a banda começou.

Embora considere histórias de origem à partir do quinto álbum, em 14 anos é praticamente inútil, pois foi coberta em vários meios de imprensa, deixe-me fazer uma análise rápida: Dois amigos planejavam começar uma banda enquanto tomavam umas cervejas, eles estavam com preguiça de ensaiar cover e por isso começaram a escrever o próprio material – e com isso lançam uma demo, conseguem um contrato com algum selo/gravadora e acham mais gente para poder tocar ao vivo – então após cinco álbuns e mudanças na formação e muitos shows mais tarde, estamos ainda na ativa.

Quais são as suas influências?

Música boa e honesta que vem da alma, não nos importamos com o estilo que nos guia. Isto acontece em uma escala subconsciente, não há bandas que tentamos copiar, ao invés disso, consumimos tudo que tem algum sentimento, como disse anteriormente, nunca fizemos um cover ou versão de alguma coisa e acredito que isso seja parte do que somos. Felizmente temos muitas ideias saindo de nós e por isso não posso pontuar influências para a banda, posso dizer das minhas próprias, sinto-me inspirado por artistas como Genesis, Enslaved, Ulver e Solefald – bandas que se reinventam constantemente.

A banda existe desde 2002 e tem 5 álbuns, uma compilação e uma demo. Fale um pouco dessa trajetória.

Se você tivesse me perguntado há 15 anos o que acho que aconteceria nos próximos 15 anos não imaginaria que tudo isso teria acontecido. Naquela época estava segurando nossa demo, que nós mesmos produzimos. Nunca imaginaria que tocaríamos junto com o Primordial, Finntroll ou Katatonia ou para mais de 2000 pessoas em festivais ou o que acontece mais frequentemente, sermos considerados uma das bandas mais importantes de Avantgarde/Progressive/Extreme Metal e constantemente citados por bandas mais novas. Algo que nos enche de orgulho e ao mesmo tempo nos deixa com os pés no chão. Em cada lançamento nós melhoramos como músicos, como escritores e posso perceber isso a cada lançamento. Em cada álbum temos a chance de trabalhar com convidados mais importantes a medida que ficamos mais importantes. São 15 ótimos anos e eu espero ter mais 15, haha…

Desde os primeiros álbuns a banda sempre mostrou uma sonoridade madura e sólida, o que mudou nesses 15 anos de existência?

Não diria que nosso primeiro álbum foi “maduro” e isto não é uma piada. Você pode ver como evoluímos com o passar do tempo, não podíamos tocar nada relevante quando gravamos nossa primeira demo. Frederic e eu, e em certo momento, Marta, pois ela está conosco há muito tempo, sempre tivemos interesses além do (Black) metal e conforme fomos ficando melhores com nossos instrumentos, mais podíamos colocar isso nas músicas. A mudança de estilo era apenas uma questão de tempo. As pessoas acham que mudamos de estilo deliberadamente, mas isso está longe de ser verdade – com o aumento de nossas habilidades, nos tornamos capazes de integrar mais e mais das nossas influências originais e é por isso que hoje soamos como soamos.

A banda lançou este ano o maravilhoso “Rooms”, você pode nos contar sobre os conceitos por trás desse lançamento?

“Rooms” é uma metáfora para mudança, memórias e nostalgia. Com as salas (Rooms, em inglês), elas mudam assim, conforme as pessoas passam por elas. A forma como você vai se lembrar de um determinado cômodo depende fortemente de um período específico (que alguém viveu lá por exemplo) e quando essa pessoa se muda ou morre o cômodo é esvaziado e redecorado, a associação que você tinha de lá some – e você quiser visitar novamente, poderá apenas fazer em sua mente. Tudo a nossa volta muda. Eu considero importante manter as memórias e tento habitar nelas quando descanso, mas ao mesmo tempo sei que tudo está em um fluxo constante, nada permanece o mesmo e algumas coisas nunca vão voltar. Mesmo que você recrie algo do passado – você nunca poderá ter o mesmo sentimento novamente, algo “real” sempre estará faltando.

Como são feitas as composições, existe um compositor principal?

Tudo é feito em conjunto, normalmente os guitarristas trazem alguns riffs, algumas vezes nosso baixista também traz algo. Então nós fazemos uma jam na sala de ensaios e vamos modificando isso juntos até que se encaixe como queremos. Fácil assim (exceto de que não é tão fácil na maioria das vezes hahaha). Com as letras, a maioria sou eu que escrevo, mas cada vocalista tenta incorporar algo, mesmo Frederic tenta escrever algo. Não é nada escrito em manuscritos, mas é mais ou menos assim que surgem as coisas.

Vocês começaram cantando em alemão e desde o álbum “Angst” começaram a misturar algumas letras em inglês. Por que aconteceu essa mudança?

Primeiro por colocarmos grande importância nas letras e nós queremos que nossos ouvintes internacionais as entendam também. Segundo, um dos membros que mais queriam colocaram músicas em inglês era eu – achamos que era a hora de tentar algo novo e neste período comecei a ter melhores ideias em inglês. Então do dia para a noite eu tinha um novo mundo de palavras para usar. Foi como pintar e perceber que você usa apenas uma pequena parte da paleta de cores disponíveis. Mas a razão mais importante foi: apenas achamos que era o certo, então vamos manter isso.

A Alemanha tem uma longa história com bandas de metal e no Brasil nós conhecemos elas aos montes. Agora que moro aqui na Alemanha tenho contato com muito mais coisas da sua cena musical. No Brasil a cena metal é algo realmente complicado e não é comum as pessoas acharem que em países europeus tudo é muito mais fácil ou melhor. Você pode explicar um pouco como é a cena metal da Alemanha?

Não acho que posso realmente responder essa pergunta, pois não me sinto parte de alguma cena apenas por ter uma banda. Temos amigos de outras bandas aqui em Hamburgo e constantemente vamos a shows para nos encontrarmos. Posso apenas imaginar que tudo é muito diferente no Brasil. Um dos meus amigos de longa data, Nachtgar do Negator, que estava na América do Sul (quando fez parte do Dark Funetal), acho que em 2012 ou algo assim – me contou histórias que você não acreditaria sobre os maníacos que tem por lá hahaha. É completamente diferente aqui. Penso que é porque a Alemanha tem uma enxurrada de shows e festivais e isso é comercializado como se não houvesse amanhã, veja o que o Wacken se tornou por exemplo. Então ser “Metal” hoje em dia não é algo difícil e os Metalheads daqui tem dinheiro para comprar os álbuns ou o merch da banda e metal chegou em um nível mais mainstream por esses lados, então me desculpe, mas acho que não posso de certa forma desmistificar o que pensam daqui (baseado na realidade que estou inserido), as coisas por aqui são REALMENTE mais fáceis, se você tem uma banda você consegue um selo ou gravadora, pode fazer shows, vender seu merch, sem muito esforço…eeeeeee eu acho que esqueci qual era a pergunta mesmo, mas espero que tenha matado um pouco a curiosidade de vocês.

Estamos na era da internet, onde pessoas podem fazer download de quase tudo de graça. Qual a sua opinião a respeito disso?

Sempre existirá um pequeno público de cópias físicas – incluindo a mim. Amo ver uma bela arte e encarte e saber que posso colocar algo que “existe” na minha estante de CDs, mas hoje em dia o número de CDs não aberto cresceu, eu escuto mais via Spotify e quando os CDs são lançados eu compro, mas não tem nem motivo para que os tire da embalagem. As coisas vão cada vez ficar mais digitais e não tem como para essa evolução, perceba que muitas bandas nem mesmo lançam cópias físicas mais. É tris, mas você tem que seguir em frente – a menos que você queira se tornar um velho homem amargo que fica reclamando e dizendo que antigamente era tudo melhor.

Recentemente vocês apoiaram o Patreon do Ne Obliviscaris e hoje em dia possuímos muitas plataformas como Spotify, sites de Crowdfunding. O que você pensa a respeito disso.

Comecemos que o Ne Obliviscaris é uma excelente banda e eles trabalham muito para isto – e são excelentes pessoas para se conhecer e merecem cada centavo e podem ganhar com isso, para ser honesto, apenas postamos isso, pois nos conhecemos, eles são nossos amigos de gravadora e eu constantemente converso com Xenoyr sobre isso ou aquilo, costumamos dar opiniões um da banda do outro. Então queria ajudar com o que eles estavam planejando. Sou totalmente a favor para cada renovação que se possa ter, para melhor ou para pior. Eu amo as novas possibilidades que temos com streaming, mas também vejo os problemas que as bandas têm para viver disso. Para mim não são os serviços que são ruins, mas como isso é monetizado e para quem enche os bolsos com isso. Isto é algo que tem que mudar, dar mais poder para as bandas que fazem essa indústria girar e não estou culpando qualquer selo ou gravadora aqui.

O que o nome Todtgelichter significa para a banda?

Traduzindo porcamente, significa “parente da morte”. É único e inequívoco e isto remete a unidade e conexão entre os membros da banda. Sei que é difícil de acreditar se você olhar nossas formações, mas isso é a verdade em cada período da banda. É o contraste das forças que guiam tudo isso durantes os anos – Frederic e eu – é como um Yin/Yang onde os outros membros tentam se colocar em um pouco até que se encaixem, haha.

Quais são os planos futuros da banda?

Vamos colocar “Rooms” nos palcos. Estamos planejando 3 turnês e por isso um pouco ocupados (e claro um novo álbum), o título e o conceito do sexto álbum já foi acertado e começaremos a trabalhar nele após nossa turnê.

Obrigado pela entrevista, agora o espaço é de vocês para dizer algo aos nossos leitores.

Nós amamos fazer exatamente isso – então, venha nos ver na turnê de 2016, estaremos ocupados! Veja as datas em nosso facebook – www.facebook.com/Todtgelichter – e assista um desses shows!

20.05.2016: DE, Oberhausen, Helvete Metal Club

21.05.2016: DE, Stuttgart, Club Zentral

22.05.2016: CH, Zürich, Dynamo Zürich (offiziell)

23.05.2016: DE, München, Feierwerk

24.05.2016: AT, Salzburg, Rockhouse Bar

25.05.2016: DE, Würzburg, Cafe Domain

26.05.2016: AT, Wien, Viper Room Vienna

27.05.2016: DE, Leipzig, Hellraiser Leipzig

28.05.2016: DE, Wenheim, Café Central

 

Links Relacionados

https://www.youtube.com/TheTodtgelichter
http://facebook.com/Todtgelichter
http://todtgelichtershop.bigcartel.com/

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Ilustrador, designer, vocalista, artista plástico e pentelho ans horas vagas. Fã de heavy metal e outras coisinhas mais.