Entrevista com Nahtaivel

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Nathaivel é um artista já conhecido no meio metal, tendo participado de bandas como o Insane Devotion. Atualmente possui um trabalho na linha mais dark electro/EBM e nos concedeu uma entrevista muito bacana.

Foto por Tamara Lopes

1. Muito obrigado Fernando por nos ter concebido esta entrevista. Então eu gostaria de começar perguntando como você começou sua carreira de músico?

Eu comecei com aulas de piano quando eu tinha uns 13 anos, mas já por volta dos 15 anos eu parei com as aulas e comecei a tentar montar uma banda de black/death metal com meu irmão (Adriano, ex-guitar do Necrotério) e amigos do colégio, o que eventualmente se tornou o Insane Devotion. Após alguns anos voltei a estudar piano, mas a alguns anos parei novamente, infelizmente demanda uma quantidade de tempo que eu não tenho e devido a isso me frustrava muito o fato de não conseguir chegar onde eu queria.

2. Em 2005 você compôs a trilha sonora e a sonoplastia para a peça de teatro”O que diz Sim” e “O que diz Não”, que contava com uma adaptação do texto de Bertold Brecht. Qual o seu envolvimento com outras formas de expressão artística?

Era uma montagem de um grupo de teatro Curitibano, não sei quantas apresentações foram feitas, mas acredito que foram poucas. Inclusive uma das músicas que fazia parte desta peça é a Into the TranCendenZ, que utilizei depois uma versão editada no álbum Opus 93. Foi uma experiência interessante, mas fazer uma trilha sonora é muito diferente de compor músicas avulsas ou um álbum, você é uma espécie de ferramenta do diretor e deve seguir sua visão, na época isso não estava claro para mim, o que causou alguns atritos, eu queria ir para um caminho, e o diretor para outro, na época isso me chateava, mas hoje sei que eu estava errado e saberia qual o meu papel. Eu gostaria muito de ter a chance de trabalhar numa trilha original novamente, vou mandar meu novo álbum para o Peter Baiestorf, quem sabe ele se interessa, seus filmes são muito bons. Fora isto há trechos de duas músicas de meu álbum “Killer Speaks” utilizadas pelo canadense Laszlo Kovacs em seu longa-metragem Abstract Messiah, e uma música do Opus 93 utilizada no curta metragem brasileiro Damballah Negra, do pessoal da Fraternidade do Medo.

3. Você é membro também da banda de black metal Insane Devotion, além de ter participado dos grupos Reverennce e A Tribute to the Plague. Conte como foi tocar nestes outros projetos musicais?

O A Tribute to the Plague foi onde tive minhas primeiras experiências em estúdio e no palco, é uma ótima banda com grandes músicos, gravei o debut CD e todas as demos da banda. Se você gosta de doom na linha do Candlemass, para mim eles são os melhores em nosso país. O Reverence infelizmente teve uma vida muito curta, com apenas dois shows e uma demo, acredito que tinham um ótimo futuro, mas durou pouco. Um dos fundadores da banda era o Douglas Evanstorm, um grande amigo meu e que era vocalista nos primeiros ensaios do Insane Devotion, banda que está parada a muitos anos devido a alguns problemas de distância e saúde. Mas agora estamos com quase 3 músicas novas compostas, gravaremos o material e mandaremos para gravadoras para tentar um contrato. As músicas estão muito boas e estou ansioso para terminarmos. Além destas bandas fiz parte da primeira formação do Evilwar, fiz o primeiro show com eles e tenho uma pequena participação no primeiro cd. Azarack (ex-guitar Evilwar, Murder Rape e Insane Devotion) é um grande amigo meu e infelizmente o Edilton (baterista do Evilwar) não está mais entre nós, ele me convidou a entrar na banda e tenho ótimas lembranças da época.

Foto por Tamara Lopes

4. Atualmente você está em carreira-solo. Como você definiria o som do Nahtaivel?

Eu definiria como uma música eletrônica pesada, distorcida, insana, profana e doentia. Com grande influência vinda do black metal e também de bandas eletrônicas clássicas como Skinny Puppy, Frontline Assemblye Depeche Mode.

5. De onde veio o interesse pelo EBM/Dark Electro?

Eu sempre gostei de Depeche Mode, escutava a banda mesmo antes de conhecer o heavy metal, pois as músicas deles faziam muito sucesso na época, assim também como Duran Duran e Sigue Sigue Sputnik também faziam. É claro que não são EBM, mas foram as primeiras bandas eletrônicas/new wave que me chamaram a atenção. Assim após o Samael lançar seu cd Passage, que flertava com a música eletrônica, eu comecei a procurar por outras bandas e conheci projetos como Das Ich, Skinny Puppy e Frontline Assembly. Após algum tempo também Ice Ages e Mortiis. Uma banda puxa a outra e todo um universo de bandas neste estilo eu conheci. Mas não é só a música eletrônica underground que me interessa, gosto muito também de Prodigy, Chemical Brothers, Infected Mushroom, Kraftwerk, etc…

Foto por Tamara Lopes
Foto por Tamara Lopes

6. Quais suas bandas favoritas e quais artistas te influenciam e influenciaram?

Minhas bandas favoritas dentro do heavy metal são Mercyful Fate/King Diamond, Slayer, Morbid Angel, Emperor e Bathory. Mas fora dele gosto muito dos já citados Skinny [Puppy], Frontline [Assembly] e Depeche Mode. Radiohead, Beatles, King Crimson, Yes e ELP, são bandas que gostou muito também, além de compositores clássicos como Mahler, Beethoven, Stravinsky, Chopin, Liszt etc… Escuto uma infinidade de bandas e estilos musicais, e acho que tudo o que ouço me influencia de alguma forma, atualmente devido aos relançamentos em 5.1 do acervo do King Crimson estou passando por mais uma fase “crimsoniana”.

7. Na Europa este tipo de sonoridade já está bem estabelecida, tendo como um dos grandes nomes o Suicide Commando, seguido do Grendel, Hocico, Agonoize e outros. E no Brasil isto está começando, uma vez que o seu projeto foi um dos primeiros a surgirem por aqui com este tipo de influência. Como é a cena no Brasil para o Dark Electro?

Não sei se há uma cena específica para o Dark Electro aqui, acho que seria algo mais entrelaçado entre industrial, EBM, noise e demais subgêneros. Pelo menos é assim que vejo aqui em Curitiba, onde numa mesma noite estes estilos estão muito bem lado a lado, e mesmo junto com gabba, metal industrial,etc… Então se for pegar por este âmbito mais geral com certeza eu não sou um dos primeiros, mas um dos mais novos a surgir. Bandas como O Símbolo, Gengivas Negras, Mecanotremata, A Industrya, 3 Cold Men, etc… surgiram e estão batalhando há muitos anos, e temos excelentes bandas surgidas na última década como Pecadores, Euphorbia, Hatech, Lagrima Negrae eu incluiria Nahtaivel também,hehehe

8. Houve alguma rejeição por parte dos fãs dos seus projetos voltados ao metal?

Não, nenhuma rejeição. Inclusive muitos gostam e os encontro nos shows. É muito mais fácil alguém que goste de metal apreciar também o tipo de som que faço no Nahtaivel, do que por exemplo alguém que goste de Tiesto e psytrance gostar de ebm/industrial Apesar de ser também música eletrônica, há uma distancia muito maior. É curioso isto, mas devido aos temas polêmicos e à violência sonora o tipo de som que faço não é palatável a estas pessoas, mas para quem está acostumado com Burzum e Napalm Death certamente tiraria de letra 🙂

Foto por Tamara Lopes

9. O seu primeiro disco foi disponibilizado via internet, em forma de download gratuito e os outros saíram pela Wave Records, um selo de grande prestígio na cena alternativa nacional. Qual sua opinião com relação ao compartilhamento de discos via internet, uma vez que o seu CD anterior (o Killer Speaks) apareceu até mesmo em sites russos de downloads?

Realmente, o Killer Speaks saiu em diversos sites russos apenas um ou dois dias após o lançamento, curiosamente o único país que fez prensagem própria do cd além do Brasil foi a Russia (pela gravadora Shadowplay Records), eles até prensaram o dobro de cópias que fizemos por aqui. Eu sou totalmente a favor do compartilhamento gratuito de discos via internet. As bandas não ganham dinheiro com discos, e sim com shows (pelo menos lá fora, aqui nem com shows…), então quanto mais divulgado for o álbum, mais shows poderão surgir. É claro que eu gostaria que você comprasse o meu álbum se você gostar das músicas, mas se você por qualquer motivo não for comprar, mas quiser ouvir, eu ficaria feliz que você baixasse. O que mais quero é que de uma forma ou de outra a minha música alcance quem tem interesse nela. Se o interesse for a ponto de querer ter o trabalho completo, com ótima arte e qualidade sonora, letras e dados técnicos, ótimo, mas se for apenas ter uma pasta com o mp3, ótimo também. Eu acredito que o mercado de mídias físicas será restrito apenas a colecionadores.

10. Você fez um remix para a música “Quem Não Morre Não Vê Deus” do Pecadores. Como rolou o convite? Você gostou de ter trabalhado com eles?

O Alex Twin (Pecadores/3 Cold Men/ Wave Records) me convidou para fazer o remix, e agora convidou para fazer um para o 3 Cold Men também. É muito bom trabalhar com ele tanto nesta questão dos remixes, quanto nas questões que envolvem a Wave Records. Através dele fui convidado para fazer um remix para a banda Otto Dix também, espero que a música saia em breve.

11. O disco novo, o MIDNIGHT SESSIONS, possui influências no Techno/ electro rock. Conte-nos mais sobre este trabalho.

O álbum MIDNIGHT SESSIONS está bem diferente dos meus outros CDS. Este é um objetivo que tenho, fazer um cd diferente do outro. No Killer Speaks a parte rítmica na maioria das músicas é bem reta e voltada para o trance. Já no novo álbum ela é bem quebrada, lembrando a parte rítmica de bandas de big beat como Prodigy e Chemical Brothers. Além disto acredito que as músicas estão melhor produzidas, inclusive desta vez a masterização foi feita fora, em um estúdio texano. Cada letra no álbum é baseada em um filme diferente, e cada música tem seu próprio clima. Como um todo acredito que o álbum está soando bem doentio, melódico mais ao mesmo tempo sujo e pesado. Com certeza um grande avanço do que fiz no Killer Speaks e espero que as pessoas gostem dele.

12. Existe alguma possibilidade de vê-lo tocando metal?

Em um futuro próximo apenas com novas gravações em estúdio com o Insane Devotion, mas ao vivo acho difícil, pois o Maurício não quer tocar ao vivo. Eu gostaria muito que fizéssemos shows, mas teria de ser com bateria eletrônica, algo que não sei se ele iria topar. E procurar baterista está fora de cogitação, tivemos por demais experiências ruins nesta procura para começar tudo novamente.

13. Conte-nos algum episódio inusitado que ocorreu em algum show seu.

Nos shows tenho um cálice cheio de sangue. Em um dos shows na hora que fui beber bem perto do público várias pessoas tentaram pegar um pouco do sangue para beber também, o problema é que uma delas enfiou o dedo bem fundo na minha boca quase me fazendo afogar… Cara… foi nojento. Sei lá onde esta pessoa tinha enfiado o dedo antes, além do mais era em um show que tinha dark room, sabe-se lá onde estava aquele dedo antes. Pô… e era dedo de homem, o que piora e muito a situação.

Outro fato foi ao fim do show do Project Pitchfork que abrimos em SP. Tivemos de sair correndo do bar já de manhã para não perder o ônibus para Curitiba. O problema é que eu estava carregando uma manequim toda ensanguentada, passamos sangue em algumas partes de modo dela parecer estuprada, mas de dia ela parecia é muito menstruada. Não tínhamos capa para ela e a carregamos correndo através da rodoviária de SP com todos olhando para nós… Parecíamos dois lunáticos correndo e carregando uma guria nua e menstruada através da rodoviária.

14. Muito obrigado pela entrevista, Fernando. Esta é a deixa para uma mensagem aos leitores do Groundcast e aos seus fãs. Manda bala.

Eu que agradeço Fabio pela oportunidade. Muito obrigado a você e a todos que estão lendo esta entrevista, e parabéns pelo Groundcast, é um ótimo site e com certeza acompanharei seu crescimento. Um grande abraço e não deixem de conferir o meu novo álbum, Midnight Sessions.

Links Relacionados

www.nahtaivel.com

http://www.myspace.com/nahtaivel93

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Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.