Labirinto – Gehenna (2016)

3 min


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Post-metal / Post-Rock, Dissenso / Pelagic Records

É complicado falar do novo disco do Labirinto. Primeiro porque foram dois anos desde o último trabalho, Masao e seis anos desde o primeiro disco full, Anatema. E, sinceramente, é possível notar que esta é uma banda totalmente diferente destes dois trabalhos, sobretudo nos quesitos complexidade e estilo.

Masao já prenunciava que o direcionamento do grupo seria mais voltado ao metal. Gehenna pode ser chamado de uma continuação lógica deste EP, inclusive por conta de algumas melodias soarem mais diretas e menos atmosféricas. Esse é o ponto forte do disco, pois ao abrir mão do som ambiente puderam trazer canções que conseguem mostrar o talento e a técnica de cada músico envolvido.

Abandonando o caráter atmosférico dos discos anteriores, o grupo paulista arrisca uma sonoridade muito mais pesada e direta, com melodias mais fortes e também com músicas muito mais complexas. Isso é notório num primeiro momento pela bateria da excelente Muriel Curi, onde ela literalmente desce a mão e cria linhas bastante intrincadas, com quebras de ritmo, com direito a marcações de tempo que modificam a música por completo. As guitarras de Erick Cruxen também ganharam muito mais corpo e remontem, ainda que não propositadamente, ao rock progressivo, junto do uso de alguns drones e também de riffs bastante épicos. O baixo de Ricardo Pereira soa mais cristalino do que nos trabalhos anteriores, resultado desses dois anos de produção intensa, onde a banda deixa que todos os músicos tenham vez.

Musicalmente falando, estamos diante do mais puro post-metal, essencialmente calcado no jeito do grupo de fazê-lo. Não espere que soe como algo que você já conheça, as influências elas existem aos montes, mas de uma forma tão peculiar que elas não se sobressaem nas composições. Isso também é o amadurecimento de uma banda que, nesses dois anos, conseguiu também trazer um pouco do que se pode notar nas apresentações ao vivo, onde o peso e a técnica se mesclam sem tornar a música cansativa. O uso de sintetizadores está muito bem marcado, sobretudo por eles não só servirem como um “tempero” para as músicas, fato comum em bandas de metal. Aqui eles servem como parte da experiência auditiva provocada pelo álbum.

O disco abre com a excelente Mal Sacré e uma introdução com um pouco de noise, que também estará presente em outras canções. Ela introduz o ouvinte ao que virá nas faixas seguintes, um som mais pesado e com uma bateria bastante prenunciada. Enoch começa com a bateria e, aos poucos, vai assumindo a forma de uma composição densa. Tem inclusive uma pegada rock industrial em alguns momentos. Qumran é uma música mais épica, mais simples e contém uma mensagem muito importante no meio da música, para depois partir para uma linha de guitarra mais pesada, mais complexa. Aung Suu tem um começo com alguns ruídos e depois parte para uma sonoridade que abraça bem o estilo post-metal, com linhas instrumentais mais melódicas. Locrus é fruto da parceria da banda com Mathieu Vandekerckhove, do Amenra e é, talvez, a música que mais lembre os trabalhos antigos do grupo. Serve como interlúdio, como uma quebra para todo o peso que veio antes e que virá a seguir.

Avernus, assim como Alamut, já haviam sido mostradas num clipe, junto da música Masao. Elas trazem um pouco do estilo mais antigo do Labirinto, com passagens instrumentais intercaladas por momentos mais tranquilos. Aludra é uma das músicas mais bonitas deste trabalho, utilizando até mesmo algumas cordas aqui e ali e algumas vocalizações. É algo que precisa ser escutado com toda a tranquilidade possível. Q’yth-El traz também um pouco daquele post-metal com fortes traços de hardcore que ficou consagrado com o Neurosis, mas de uma maneira mais harmoniosa e melódica. E o disco encerra com a faixa título, Gehenna, que, tal qual, serve como um grande encerramento para o trabalho, na qual a bateria aparece junto de outras percussões, no tom certo, remetendo a muito do que a banda faz no final dos seus shows.

Foram dois anos que valeu esperar. Ainda mais porque, neste disco, eles se consagram não apenas como a maior banda de post-rock do Brasil, mas também de post-metal.

Links Relacionados

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Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.