Metal Open Air: Fiasco à Moda Brasileira

6 min


0

Mais uma vez temos a triste notícia de algo que não dá certo em nosso país. Sim, estou falando do “maior” festival dedicado ao metal no Brasil, o Metal Open Air, realizado pelas produtoras Negri Concerts e Lamparina Filmes & Produções. Vamos analisar algumas coisas. São Luís do Maranhão, 40 bandas confirmadas no cast (se este número estiver errado, por favor, corrijam-me) e um ingresso por “apenas” 450 dilmas. Praticamente uma pechincha, uma oportunidade de nos equipararmos aos melhores festivais europeus, como o Wacken e o Hellfest.

Como se não fosse suficiente, teríamos também 20 bandas nacionais, consagradas e no underground, contendo nomes como Krisiun, Shadowside, Almah, Shaman, Stress, Ratos de Porão, Matanza e outras, de diversas vertentes e épocas, mostrando a união que existe entre os povos que habitam a cena metal nacional, deixando uma excelente impressão em todos aqueles que esperam de nós, brasileiros, a força e a garra de sempre.

Claro, este texto seria possível num festival de verdade. E sabemos que o Metal Open Air esteve bem distante disto.

Uma sucessão de erros que explodiram justamente no dia do evento, vejam só. Nestes meses todos o festival corria maravilhosamente bem e ocorreu de forma esperada. Bastou a quinta-feira chegar, na véspera, para problemas misteriosamente eclodirem diante dos produtores, estas pessoas intrépidas e sagazes, heróis do metal nacional (e quiçá mundial). Claro que o dinheiro para pagar as contas desapareceu misteriosamente, fruto de algum ladrão, mais ou menos como nossos representantes legais, cujo dinheiro milagrosamente aparece em suas contas. Mas para os donos, o milagre foi inverso e tiveram suas economias surrupiadas. E é tudo culpa do Megadeth, afinal de contas, que atrasou as coisas e, com certeza, o dinheiro e a vergonha na cara.

O que justifica, afinal de contas, tamanhos problemas dignos de um filme dos Trapalhões? A lei de Murphy se aliou a Lei de Gérson para, no final, termos a lei do Metal Open Air? Na qual os fãs são tratados como burros, com direito a estábulo, sem nem ao menos providenciarem a alfafa. Ainda sim, segundo o dono da Negri, o evento transcorreu, como mostrado neste tweet:

Mas é claro que a relação entre as duas empresas é de total apoio e respeito, onde cada uma das partes cumpriu com o combinado. Podemos notar, por exemplo, o quanto esta amizade é recíproca, ao ponto de termos quase uma declaração de amor neste momento aqui:

Vou contar para a minha mãe, você vai ver.

No final das contas tivemos uma excelente produção, que conseguia, a cada vez que se pronunciava, emitir desculpas de credulidade duvidosa. Mas não podemos fraquejar, uma vez que temos pessoas como Edu Falaschi e Thiago Bianchi para fazer do metal nacional uma potência a ser explorada, capitalizada e, quem sabe, até mesmo digna de ser homenageada. Praticamente o nosso pré-sal, só que em forma de metal genuinamente brasileiro.

Conta tudo para sua mãe, Negri.

Seria legal que este texto não existisse. Que as bandas tivessem tocado, as pessoas gostado e, no final das contas, pudéssemos nos orgulhar de tudo o que aconteceu. Poder bater no peito e afirmar, com toda a certeza, que podemos fazer algo fora do eixo Rio-São Paulo e levar a outros Estados o que temos de bom por aqui. Sim, poder inclusive, num futuro próximo, pensar até mesmo em eventos itinerantes, que conseguissem até mesmo baratear os custos para quem não é daqui de Sampa.

Vamos ser realistas: o fato de ter sido no Maranhão minimizou um pouco o tamanho da encrenca. Se fosse numa cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro, certamente o estrago teria sido muito maior. Não ter dinheiro, não ter infraestrutura, não ter sequer o devido planejamento teria, sem dúvidas, feito com que o MOA aqui em Sampa algo ainda mais desastroso. Basta olhar que estamos em sites como Blabbermouth, Metal Underground e até mesmo na Globo. Ou seja, toda a repercussão que foi possível aconteceu, de forma bem negativa.

Pensemos também que o desrespeito aos grupos brasileiros. Todos não receberam seus devidos cachês e passagens aéreas. Declarações afloraram via twitter e páginas dos artistas envolvidos. Ou seja, no final das contas o que tivemos com este evento foi uma demonstração de o quanto o nosso país ainda possui muitos amadores e muitos aventureiros, gente que se desculpa o tempo todo pelos erros. Tanto que foram culpados o governo, o Megadeth, os patrocinadores etc e quem produziu agora está num jogo de empurra extremamente nojento. E é aí que mora o perigo.

É muito curioso ter uma declaração de gente apoiando o evento, como aconteceu com o Edu Falaschi, que apontou as dificuldades que a produção encontrou. Bonito, é lindo demais mostrar que fazer um festival de grande porte é muito difícil, mas no que isto é interessante para o público? Ninguém pagou o preço que pagou para ter que se preocupar com os problemas técnicos. Também é de um amadorismo sem igual deixar tudo para a última hora.

Claro que o festival não poderia estar completo sem as desculpas esfarrapadas. Elas dão mais que chuchu na cerca e estão mais rodadas que saia de baiana. Para que tenha uma noção completa do que falo, vamos começar por um dos organizadores, o dono da Negri Concerts:

“Falando brevemente a todos, porque estamos trabalhando intensamente para corrigir os problemas causados:

1) Nossa empresa é a responsável pelo BOOKING das bandas. Nós negociamos a participação de todas as bandas INTERNACIONAIS no festival, EXCETO POR ROCK N ROLL ALLSTARS;

2) Sobre o Venom, apoiamos o comunicado da banda e explicamos a todos que a “culpa” não foi da banda, do promotor local ou da NEGRI CONCERTS. Foi um erro no momento da emissão do mesmo.

3) Mesmo assim, nossa empresa NÃO É RESPONSÁVEL pelo pagamento dos cachês.

4) Não somos responsáveis pela PRODUÇÃO / ESTRUTURA / SERVIÇOS / SOM / LUZ e VÍDEO providos no festival. Nossa função em São Luis é prestar apoio na recepção, hospedagem, transporte e assuntos relacionados a backstage das bandas internacionais. Os fornecedores foram contratados e são de responsabilidade da LAMPARINA FILMES E PRODUÇÕES.

5) Nossa empresa foi pessoalmente pedir desculpas às bandas pelos contratempos técnicos que NÃO SÃO DE NOSSA RESPONSABILIDADE.

A NEGRI CONCERTS também pede desculpas a todos os fãs, amigos, bandas nacionais que nos conhecem e apoiam o nosso trabalho e bandas internacionais que conhecem nossa reputação, estão no festival e estão conosco até o fim. Também lamentamos todos os problemas que as demais bandas nacionais tiveram com o cancelamento de suas apresentações, ressaltando que infelizmente essa área não era de nossa responsabilidade e nem de nosso conhecimento sobre tudo o que estava acontecendo.

Agradecimentos especiais à Nuclear Blast, a todas as bandas do primeiro dia que trabalharam em conjunto conosco e nos emocionaram com a real atitude de amizade, respeito e consideração que existiu com os fãs.”


Fonte: Metal Open Air: Negri Concerts fala sobre problemas – Novidades (Notícia)
http://whiplash.net/materias/news_840/152867-metalopenair.html#ixzz1skGXdJbf

A primeira reunião antes do festival

O mesmo produtor mandou todo mundo chupar (sabe-se lá o quê, mas possivelmente um picolé de chuchu) agora não assume que era responsável pelo evento. Agora o culpado é apenas um, afinal a empresa, que está no cartaz como uma das organizadoras de tudo isto, foge do seu destino. Sinto muito, mas você ainda é responsável, senhor Negri, pelos problemas. Vai responder a processo caso alguém queira uma retratação pelo ocorrido e com certeza muitos irão querer.

Vamos pensar que no próximo evento que o senhor organizar (talvez junto com seu amigo), para deixar bem claro como você, pagante, será visto, cumpra-se os seguintes itens obrigatórios:

  • Um saco de alfafa, para não faltar comida;
  • Uma cocheira com teto solar e ar condicionado;
  • Fossas individuais, para as necessidades básicas;
  • Arreios individuais, marcados por cor.

Depois disto, basta também armar umas barracas, colocar um picadeiro e o circo certamente estará armado, com alguns animais e muitos palhaços para divertirem a nação metaleira. E os organizadores, certamente, estarão felizes e contentes com o belo resultado das suas bandas imaginárias, que tocarão sem receber nenhum centavo. Ou melhor, receberão dinheiro e passagens para a terra da fantasia, onde certamente irão encontrar o Cliff Burton e o Beto Carreiro.

No fim das contas aconteceu mais um episódio da comédia mais sem graça chamada falta de profissionalismo. Notamos o quanto o senhor Negri e o senhor Natanael continuam, incansavelmente, a jogar a culpa no outro e a dizer que o festival estava bom. É vergonhoso saber que isto aconteceu no Brasil e quanto eu (e toda a equipe do Groundcast) nos sentimos tristes por tamanho descaso com as bandas nacionais. Trabalhos que merecem muito respeito, bandas que conheço desde a formação (como o Shadowside, que até possuo a demo aqui em casa) e outras cujo crescimento acompanhei. Notar que dois amadores foram os responsáveis por mostrar o quanto ainda precisamos de profissionais para o “underground”, de pessoas que entendam, de uma vez por todas, qual o papel do músico. E o quanto os próprios músicos precisam ser mais profissionais e não esperar “pagamentos na hora” ou tocar de graça

Quando tivermos tudo isto, junto de um pessoal competente, aí teremos, quem sabe, o heavy metal e todas as suas vertentes tratadas com respeito. Com dignidade. E, acima de tudo, sem ser apenas algo de “fã para fã”. Quem sabe quando este dia chegar (talvez antes do fim do mundo) é que pessoas como o Falaschi e o Bianchi se tornem apenas mais um personagem que povoa a nossa fauna, adornando o mundo com seus discursos pró-metal e pró-evento.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.