Metendo Bronca: Qual o papel da “imprensa especializada”?

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Certo, isto até pode soar como um tiro no próprio pé. Mas a bem da verdade é que sofremos hoje com dois problemas quando se fala de mídia especializada: falta de espaço e falta de profissionalismo. E é daí que o termo “imprensa especializada” começa a ganhar um tom bastante pejorativo.

Pensemos no primeiro problema. Em geral temos alguns grandes veículos de divulgação para gêneros como o metal e, com muito esforço, para o rock mais underground. Mas se pararmos para pensar, veremos que os outros sites menores acabam sendo, no fim das contas, replicações de conteúdos já publicados e pouco material original. Daí qual vai ser a preferência?

Isto acontece sobretudo porque boa parte da nossa “imprensa especializada” tem uma dificuldade enorme de encontrar um espaço adequado, para um público adequado. Tanto que se você procurar por páginas sobre metal, verá que tem sempre as mesmas coisas, não somente por falta de opção, mas sim por não ter como se encaixar neste meio.

É claro que você pode navegar contra a corrente. Além do Groundcast, que de longe nem é o ideal em termos de diversificação (sim, a autocrítica é necessária aqui), temos o excelente Intervalo Banger, que é um dos sites mais bacanas para quem gosta de metal underground, o Na Mira do Groove, que tem um pouco da pegada que temos e, sem fazer cerimônia, a versão em português no Noisey. Todos são sites com propostas muito diferentes dos outros e que conseguem dar certo exatamente por isto.

Contudo, isto nos leva ao segundo problema: profissionalismo. Veja, ser profissional não implica em necessariamente ganhar algum troco com o site e viver dele. Falo de posturas e posicionamentos como alguém que irá produzir material e vai interagir num mundo onde se exigem coisas como responsabilidade e ética profissional. E também respeito com as outras pessoas que também estão ali no meio, exercendo a mesma função.

Na mentalidade de muita gente que começa com site de música, montar um site implica em, obrigatoriamente, ganhar cds e entrar em shows de graça. Não que estas duas partes não sejam importantes, mas vamos ser bem honestos: fazer review de show e de cd traz pouco retorno em termos de acessos, exceto se forem shows grandes ou, ainda, for um texto muito bom. E cobrir eventos é bem menos divertido do que pagar para ver. Falo por experiência própria, uma vez que eu fotografo e também tento fazer a descrição de como foi o evento da forma mais fiel ao que eu vi,

E resenhar discos é sempre uma tarefa bastante demorada. Muitas pessoas que me pedem review não sabem que se leva tempo para ouvir e analisar bem um disco. Claro, ainda sim boa parte do que recebo para avaliação me deixa um prazo bacana para poder levantar os pontos bons e ruins do trabalho. Mas muitos dos que recebem estes discos sequer se preocupam em dar às bandas um feedback sobre o trabalho.

E também se preocupam pouco com produzir material próprio, como entrevistas e matérias. A gente aqui entrevistou uma porrada de gente, dos mais variados estilos e sempre estamos abertos a novas bandas. Sinto que falta em boa parte dessa “imprensa especializada” a produção de material que fuja do convencional. O site Wikimetal, por exemplo, abre um espaço bacana para isto. Parece que as pessoas têm medo de fazer coisas como vídeos, podcasts, textos e outras coisas relacionadas ao universo musical. A gente precisa, sem dúvidas, de mais coisas.

E qual seria a solução? Talvez essa galera começar a colocar a mão na massa e se unir também.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.