Mike LePond: “os fãs se tornam a gravadora do artista”

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A gente aqui no Groundcast de vez em quando recebe umas propostas bacanudas de entrevistas com bandas. E sei que vocês estavam com saudades das boas entrevistas, então tivemos a honra de contar com Mike LePond, baixista do Symphony X, que está divulgando seu primeiro trabalho solo, Silent Assassins. Confiram que ficou bem legal a entrevista.

Gostaríamos de te agradecer por esta entrevista, senhor LePond. Apreciamos seu bom trabalho com o SYMPHONY X e seu maravilhoso álbum solo, Silent Assassins. Começando esta entrevista, poderia nos contar um pouco sobre sua carreira, quando decidiu tocar baixo…?

Agradeço a vocês por esta entrevista. Quando tinha 13 anos meu pai me levou para ver um show do KISS em Nova Iorque. Fiquei maravilhado pelo show. Gene Simmons estava cuspindo sangue e fogo e voando como um super-herói. Desde este dia eu decidi que seria um baixista como ele.

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Aqui no Brasil não é muito comum as pessoas começarem tocando baixo e eu vejo com você o seu primeiro instrumento foi justamente o baixo. Por quê? Tem algum “carinho especial” por ele?

De certo modo o baixo não é o instrumento mais popular em uma banda. Eu sempre o amei porque se ajusta à minha personalidade. Sou um cara quieto e tímido e tocar baixocaptura as minhas emoções. Também acho que ele pode ser usado de formas tão criativas num grupo ou até sozinho.

Normalmente eu não curto trabalhos solo feitos por baixistas ou guitarristas por eles darem uma ênfase errada em um único instrumento, para mim isto me incomoda um bocado. Mas no seu trabalho é diferente, pois soa para mim como uma banda nova com uma proposta interessante. A música “Red Death”, por exemplo, começa com uma introdução estilo indiana, não muito comum em discos de power metal e algumas passagens de guitarra mais “thrashy”, poderia comentar sobre a produção e as inspirações para este disco?

Há mais de quarenta anos de inspiração neste álbum. As mais evidentes são as minhas influências oitentistas, como JUDAS PRIEST, IRON MAIDEN e BLACK SABBATH, mas também sou influenciado por bandas sinfônicas, como RHAPSODY e BLIND GUARDIAN. O BLACKMORE’S NIGHT também é uma grande influência neste CD.

Mike and Alan
Mike and Alan

Falando francamente contigo, já fui um grande fã de power metal quando era adolescente. Hoje não escuto mais tanto por causa dos novos e velhos grupos soarem para mim como uma repetição de qualquer banda americana ou alemã das décadas de 1980 e 1990. Mas este álbum recuperou minha fé no gênero, pois soa mais que um disco de power metal. Como você o descreve musicalmente?

Acho que Silent Assassins é um disco de power metal, mas é feito de uma forma moderna. Os riffs são tradicionais, mas feitos com toda uma orquestração moderna que as bandas hoje utilizam. Na década de 1980 todo mundo temia o uso de teclados. Penso que são eles que fazem este disco ter esse sentimento de fresco e novo.

O disco foi lançado após uma campanha bem-sucedida no Kickstarter. Aqui no Brasil o crowdfunding está no começo, com alguns bons álbuns gravados com a ajuda dos fãs. Quão importante é este formato de financiamento para o artista? É uma alternativa para o mercado musical?

Com as gravadoras fechando o tempo todo, acredito que o crowdfunding é uma forma muito boa para bandas conseguirem levar ao público sua música. Promove grande interação entre o artista e os fãs. Na verdade, os fãs se tornam a gravadora do artista.

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Em um período de tempo bem curto perdemos dois grandes nomes da música, David Bowie e Lemmy Kilmister. O que você sentiu sobre essas fatalidades?

Ambos são homens que nunca serão substituídos. A música do Bowie era arte no sentido mais amplo da palavra. Ele é um dos maiores escritores de música de todos os tempos. A música do MOTORHEAD influenciou mais bandas de metal que qualquer outra banda. Eu adoro a carreira musical do Lemmy.

O que você pensa sobre o compartilhamento ilegal de mp3? Aqui no Brasil não é fácil conseguir lançamentos de metal, porque não temos muitas lojas físicas e virtuais que vendam esse tipo de material e, em tempos recentes, muitas lojas estão fechando suas portas em virtude de as pessoas não estarem comprando nada.

Download e compartilhamento ilegais estão matando a música de todos os gêneros. Hoje é quase impossível ganhar dinheiro com a venda de álbuns. As bandas devem fazer uma turnê para conseguirem ganhar alguma coisa agora. É muito triste porque acho que algumas pessoas ainda não perceberam que o que elas estão fazendo é errado.

E sobre os serviços de streaming como o Spotify, Deezer, Apple Music etc.? São uma boa alternativa? Escutei o seu disco solo usando o Spotify, porque é mais barato do que eu comprar uma cópia física e creio que muita gente conheceu seu trabalho usando um destes serviços.

Estes serviços de streaming são uma alternativa melhor para o compartilhamento ilegal, mas eles ainda pagam praticamente nada às bandas. Para mim não tem problemas, pois prefiro sacrificar uma quantia do meu pagamento em troca da exposição que estes serviços podem dar a um artista.

Há planos para uma turnê solo? Espero vê-lo por aqui e conseguir uma cópia autografada para mim (hahahaha).

Eu amaria fazer uma turnê solo e a América Latina seria o primeiro lugar que eu escolheria. Apenas preciso coordená-la junto com a turnê do Symphony X que vai acontecer este ano. Ficaria muito feliz de te dar uma cópia autografada para você e também jantarmos juntos.

Mike Foto

O que você tem escutado recentemente? Quais discos você recomenda?

Recentemente tenho ouvido muito a banda GHOST. Realmente gosto desta banda. Também tenho ouvido muitas bandas de viking e folk metal. Eu amo todos os diferentes instrumentos que eles usam junto com as guitarras, baixo e bateria.

Eu gosto de perguntar aos artistas sobre a vida na estrada, porque excursionar com uma banda como o Symphony X dá boas histórias. Qual foi a situação mais divertida, estranha ou “bizarra” que já aconteceu contigo durante as turnês?

Com o Symphony X não tem acontecido nada muito divertido, estranho ou bizarro, apenas temos bons momentos junto com nossos fãs, vendo todos estes belos países e vivendo nossos sonhos.

Agradeço de verdade por esta entrevista, aturando minhas perguntas tão longas. Por favor, deixe para os nossos leitores uma mensagem final. Manda bala.

Para todos os que leem esta entrevista, obrigado pela lealdade e suporte. Amo todos vocês e espero encontrar cada um de vocês em nossa turnê. Que Deus os abençoe.

Obrigado,

Mike LePond

 


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.