Rock e preconceito: quando o sujo fala do mal lavado

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O discurso do rock

Primeiro precisamos entender qual o discurso vendido pelo rock, baseado em sua materialidade discursiva. Não pretendo me alongar muito, senão ficará muito confuso e demasiado extenso o texto. Vamos analisar o contexto em que surgiu o gênero.

Quando surgiu, em meados dos anos 50, era uma mescla do blues com a country music, dando origem a um gênero que incorporava, além da música, uma atitude de contestação. Era uma forma, segundo seus adeptos, de ir contra a sociedade, que por sua vez tinha um viés totalitário e controlador, lutando pelos seus direitos e pela igualdade social. Era este o ideal que foi reforçado pelo punk rock, que mais tarde foi se politizando e se tornando anárquico e, mais para frente, assumindo outras posturas filosóficas.

Não demorou muito para que a indústria cultural acabasse com este ideário todo e transformasse num grande negócio. As gravadoras começaram a procurar bandas que reforçavam o estereótipo do revoltado, do incompreendido, daquele que não se adapta com o mundo. Criou-se uma cultura de que o roqueiro é aquele cara de visual agressivo, ideias que vão contra um sistema de valores, contra o moralismo sexual e igualdade de direitos. E sempre se colocam na posição de pessoas “criticadas”, sendo contra qualquer preconceito com gênero musical.

Bem, na verdade não vemos nada disto…

Nas imagens abaixo, colhidas do perfil Humor Metal, temos exemplos de como os roqueiros são tolerantes, respeitadores e, acima de tudo, que entendem como podem conviver com as diferenças…

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O que mais chama a atenção é o fato de que algum leitor do Groundcast chegue a concordar com algumas opiniões levantadas pelas montagens. Afinal de contas, mostram o elevado grau de moralismo, onde defendem valores de “pureza” para o sexo feminino, colocam letras descontextualizadas, com relação a outros estilos, mostrando sua superioridade e, acima de tudo, demonstram como seus ídolos são muito bons pelos prêmios que ganharam e pelo estudo que tiveram. Tentam, por meio da desqualificação de outros gêneros, legitimar seu gênero favorito como superior aos outros.

Depois reclamaram de terem sido comparados aos nazistas por uma certa cantora de axé. E a revolta foi tão grande que tivemos, vejam só, uma resposta de um roqueiro que se sentiu ofendido com a declaração dela sobre preconceito. Mas continuemos nossa programação normal, onde veremos qual a realidade (pelo menos dentro da internet) desta situação.

Diferente de apoiar este ou aquela, não pode esquecer-se de um detalhe importante: música é uma manifestação cultural, mesmo sendo boa ou ruim. A qualidade é definida segundo alguns critérios muito pessoais e um deles, sem dúvidas, diz respeito a quanto aquilo te agrada. Existem músicas para serem apreciadas e analisadas, sobretudo dentro do campo da música erudita, onde não se pode apenas “curtir um som”, mas sim interpretar, conhecer o período, ver as diferenças de regência etc. Fiz um infográfico que representa bem o que um fã de rock em geral (incluindo também o metal) diz que é considerado como bom ou ruim numa música ou banda. Por favor, não levem como verdade, é apenas um resumo bem geral do discurso do rock.

Então, no geral, fãs de rock (e por tabela os de metal, que também incorporam parte deste discurso) se apoiam nos seguintes pontos:

  1. As letras de rock possuem um conteúdo vasto e pleno;
  2. Os músicos do rock são sempre excelentes;
  3. As melodias são sempre complexas, com solos de guitarra muito bons;
  4. Rock é cultura, o resto é lixo;
  5. Quem ouve rock se dá bem na vida, quem não escuta é pobre e ladrão;
  6. O rock não precisa de visual para se apoiar, o som já é o suficiente.
  7. Outras músicas, com exceção da música clássica, serão sempre inferiores.

Ou seja, o rock acaba sendo o estilo mais perfeito de música, onde tudo é possível e seus fãs sempre serão os que ouvirão a melhor música do mundo, seus ídolos estarão acima de quaisquer falhas e, acima de tudo, os outros estilos, por serem populares, serão sempre ruins. Tendo em vista estes pensamentos, é natural pensar que um Parangolé, com seu Rebolation, seja digno de execração. Ou o que dizer de um funk, principal alvo dos roqueiros, onde as mulheres são pouco valorizadas? Afinal, é mais bonito ouvir um Within Temptation e suas letras que falam de temas igualmente belos, com aquela voz feminina doce, não é verdade?

É claro que nem todos os fãs de rock são assim. Aliás, a maioria, acredito, sequer pensa nestas coisas tão bestas e preferem nem participar de brigas. Boa parte deles nem está ligando para isto ou para aquilo, inclusive eu publiquei um texto sobre os equívocos que as pessoas têm sobre o heavy metal. Estou tratando daquele fã que aparece mais e ajuda a denegrir a imagem do gênero e dos outros fãs, usando de agressão e preconceito e este aviso será reforçado ao longo do texto, para que não restem dúvidas.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.

14 Comments

  1. Um movimento que tem na sua origem uma expressão genuína das classes baixas contra a opressão e o conservadorismo vigentes na sociedade da época deveria compreender que a mesma coisa se repete em outras escalas. Outros movimentos surgem pelo mesmo motivo, como forma de expressão de um dado grupo que tem necessidade de expor certos aspectos considerados tabu (inclusive sua sexualidade) como forma de extravasar.

    Sim, a finalidade de muito funk é agredir sim. Agredir uma sociedade que trata o cara com desigualdade, agredir o falso moralismo, agredir a hierarquia, agredir uma sociedade coxinha e preconceituosa que não aceita o cara como ele é… assim como o Rock, o RAP, Punk e muitos outros movimentos!

    É assim que surge a figura do artista: um canal para expressar aquilo que acontece no inconsciente coletivo.
    A questão não é possuir ou não qualidade musical, mas de que forma aquilo representa o cara.
    E eu, particularmente, acho que se as pessoas estão tentando se agredir, é porque se sentem agredidas, porque tem algo muito errado rolando no mundo e está na hora de questionar o status quo.

    Com relação à massificação, o Rock também foi usado como forma de alienar a juventude. Transformou-se em lifestyle, em forma de consumo, em manobra de massa, como tudo o que aparece nessa sociedade capitalista. Quando o sistema não pode com você, ele te absorve. E infelizmente todos nós contribuímos para a manutenção da sociedade como ela é, inclusive quando marginalizamos o outro.

    Então já que algumas pessoas se julgam tão esclarecidas, antes de serem rótulos, sejam indivíduos e tentem compreender por quê certas coisas aparecem e acontecem. Ou se não quiserem compreender, simplesmente deixem os outros em paz!
    Já que gosta tanto, em vez de xingar os outros, vai ouvir música e não enche o saco!
    Quer mudar o mundo? Comece por você.

  2. Existe preconceito até mesmo entre os roqueiros : pra ser roqueiro de verdade, tem de saber de tudo sobre a banda, até o nome do cachorro do vocalista! ao contrário vc é poser. E entre os sub-generos do rock então, nem se fala: metaleiros contra punks por exemplo.

    Quanto ao preconceito a outros gêneros, confesso que já pensei igual essas crianças, mas foi apenas uma fase. Hoje eu ouço Rock e outros gêneros numa boa
    sem me importar com o que os outros pensam. Feliz é aquele que respeita os outros independentemente da música que eles escutam.
    Parabéns pelo o texto

  3. eu sou rockeiro e concordo com quaìs todas respostar .EU no face so muito criticado ..mais pelo funkeiros, maìs eu nao….ligo…FIKO na minha ..nao vem nem na minha cabeça .. Escrever criticando eles…QUEM sou eu para critica . Mair tambem quem sao eles para noìs critica …CADA UM TEM O SEU gosto faça o bom uso dele.,

  4. acho que oque muitas pessoas não entendem é o direito de cada um ter o seu própio estilo! não vai adiantar nada eles ficarem com essa idiotisse de criticar estilos músicais! tanto da parte dos outros estilos quanto da parte de “certos” roqueiros!!! eu amo rock e não gosto de ver esse tipo de coisa! como disse a ana luiza que “aque­les que são roquei­ros de ver­dade não ficam cri­ti­cando o estilo musi­cal do outro , mesmo que eles nos cri­ti­cam temos de ser superiores”

  5. Pessoal eu sou roqueira , e me dá um desgosto ver as pessoas achando que conhecem o rock o bastante para critica-lo , e tem pessoas que se dizem roqueiros só por estarem com uma pulseira de com tachas ou uma calça rasgada e na verdade não sabem nem o que é rock , e quando são os funkeiros nos esculachando eles usam o capeta contra nós , e quando são os que se dizem roqueiros esculachando eles , eles usam a pornografia , mas os que se dizem roqueiros são tão burros que não percebem que nem todo funk tem pornografia e os funkeiros são tão nojentos que não percebem que nem todo rock tem capeta , então aí eu dei a entender que aqueles que são roqueiros de verdade não ficam criticando o estilo musical do outro , mesmo que eles nos criticam temos de ser superiores .

    1. O grande problema Ana é as pessoas acharem que saber isto ou aquilo sobre determinado estilo as torna melhores. Uma pena, ainda existem fãs que precisam desligar certos preconceitos.
      Eu também me sinto bem desgostoso ao ler certos “comentários” de roqueiros…

  6. Acho que você está falando de uns que se dizem rockeiros, mas na realidade não entendem alguns ideais do rock. Rock prega liberdade e é contra preconceitos. A realidade é que ouvir rock e ser rockeiro são coisas diferentes (opinião minha). Ouvir rock é como ouvir qualquer outra coisa. Ser rockeiro é ter os ideais, estilo e etc.
    Mas enfim, não gosto de funk, por razões pessoais e porque cada um tem seu gosto, mas quem ouve não me incomoda nada, desde que não me faça ouvir junto. Só é triste ver tanta banalização do sexo. Funk cria preconceitos também, afinal, funk (opinião minha novamente) em grande parte das vezes têm letras que correspondem ao pensamento massista, que não tem nada de mal, mas que valoriza o homem e despreza a mulher. Passar o pau na cara dela? Coisa bela e singela é fazer ela feliz rapaz!
    Quer uma opinião sobre o texto? Não generalize grupos, afinal, as pessoas são muito diferentes e não puxe tanta sardinha pro saco do funk, porque, me desculpe, tem mais coisa ruim do que boa.

    1. Acredito que você tenha pulado a parte que diz assim:

      “Tam­bém isto não é algo que se apli­que a todos os fãs.”

      Releia, logo no final texto.
      Sem contar que certamente você nunca deve ter lido uma letra do WASP, onde temos vulgaridades tão grandes como. Mas, contudo, entretanto, isto demonstra o quanto ler e interpretar é mais essencial do que vir com paus e pedras. Em nenhum momento o texto é a favor do funk ou do rock. Ele se coloca contra uma atitude imbecil por parte de alguns fãs.
      E você diz para não generalizar e, no entanto, diz assim:

      Funk cria pre­con­cei­tos tam­bém, afi­nal, funk (opi­nião minha nova­mente) em grande parte das vezes têm letras que cor­res­pon­dem ao pen­sa­mento mas­sista,(…)

      Francamente.

  7. Eu achei muito claro seu texto e todo conteudo incluso, realmente to cansada de entra no facebook e ver toda essas rivalidade de tribos. Eu amo o metal, é tudo pra mim, e eu não descriminalizo outros estilos de musicas, mas pergunto pras pessoas que “odeiam” o estilo musical rock, o que tem de produtivo nas letras das musicas que eles “curtem” , realmente nunca tem argumentos para debater comigo, o que gostam mesmo é ver mulheres quase peladas dançando.
    Mas enfim, devemos sempre manter o respeito a qualquer um que seja,cada um curte o que gosta, não é problema nosso.

  8. Realmente existem letras boas e ruins na cultura do rock assim como em todos os estilos musicais, assim como pessoas ignorantes.
    Sinceramente, este texto foi tendencioso e unilateral, criticando os roqueiros de forma direta e ironica deixando de lado todas as criticas que roqueiros recebem.
    Concordo apenas em alguns pontos, porém existe uma critica direta aos roqueiros, generalizando a cultura do rock baseando-se apenas em alguns exemplos que claramente não representam a maioria, a menos que voce possua algum estudo detalhado sobre isso, possue e eu desconheço?
    Esse texto contraditorio não seria apenas um texto repleto de ignorancia que julga e penaliza toda a cultura?
    Escrever bem não é sinal de sabedoria.

    1. Não foi unilateral. É mais fácil ignorar o que está escrito, sobretudo porque ele fala de discurso. E generalização não é erro, erro é considerar um único exemplo como base para todo o resto , embora a lógica dedutiva permita isto.
      Além disto, releia o trecho:

      Tam­bém isto não é algo que se apli­que a todos os fãs.

      Menos achismo e mais clareza na leitura.

  9. Bati palmas para seu texto! Não aguento mais entrar no Facebook e ver toda essa estupidez rolando não aprenderam nada com o rock.

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