Sasha Grey as Wife: Entrevista com Júlio Victor

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Imagem meramente ilustrativa…

Sasha Grey as Wife é um projeto musical bem único. Formado por Júlio Victor, produtor musical carioca, que traz nesse trabalho uma mistura muito bacana entre a música eletrônica ambiente com trejeitos de rock alternativo e progressivo. Confiram esta excelente entrevista com ele, onde discorre sobre a carreira e a produção deste trabalho.

Vamos começar a entrevista com uma pergunta bem simples: Júlio, apresente-se, diga como começou na música, projetos e outras coisas.

Eu prefiro falar como comecei a ouvir música ao invés de falar sobre quando comecei a tocar. Lembro de primeiro ficar impressionado com nomes como STEVE VAI, JOE SATRIANI e YANNI. Mas só fui gostar realmente de uma banda quando vi o DVD “Live At Slane Castle” do RED HOT CHILLI PEPPERS. A esta altura eu já tocava um pouco de guitarra. Mas o que carimbou de fato meu mergulho na música foi o ANGRA. Enquanto aprendia o instrumento, me inclinei à arte da produção musical, pois sempre tive a curiosidade de compor/registrar minhas músicas. Nesse processo minha mente se abriu para outros estilos musicais e a busca por novas sonoridades e possibilidades agora é eterna.

PROMO PROMOAgora falando sobre o SASHA GREY AS WIFE, de onde surgiu a ideia de montar este projeto?

Quando montei o ‘Sasha Grey As Wife’ eu estava sem banda/projeto em atividade e com muita vontade de compor (como sempre). Na época eu trabalhava em um projeto da minha produtora independente, chamada Pandario, que se chamaria FreeBeatz. Nele eu faria e disponibilizaria bases de rap gratuitamente na internet. Nesse processo de criação um tanto peculiar, tive um insight meio inseguro durante um show do Thiago Elniño: “E se alguém também berrasse no Rap, ao invés de só fazer o flow?”. Nisso o que era pra ser uma base rap, virou a primeira demo do projeto, em uma experimentação curiosa. Daí em diante veio surgindo música atrás de música sem parar e não houve como não dar vida ao projeto.

E o nome, o que ele representa?

SASHA GREY AS WIFE, que significa Sasha Grey Como Esposa. Sasha Grey é uma ex-atriz pornô, escritora e atualmente atriz em filmes ditos comuns também. Além de ser uma figura pop no EUA, conhecida pela intelectualidade dela. O nome do projeto tem a ideia de causar esse contraste, nos colocando em contato com essa dualidade tão íntima que todos temos. Meio que uma forma de assumir todas as nossas virtudes e todo o nosso lado obscuro também.

E como foi a repercussão quando o primeiro vídeo do projeto foi lançado num site pornô? E como você teve essa ideia de lançar os vídeos do SASHA GREY AS WIFE em sites de conteúdo adulto?

Percebi que o vídeo galgou muito mais rápido que nos veículos comuns de divulgação. Em pouco menos de 2 semanas o vídeo já tinha alcançado 2 mil visualizações só por estar postado. Atualmente deve estar na casa dos 8 mil. Ocasionalmente alguém de fora do país curte a página ou manda elogio para o e-mail do projeto. A ideia veio por conta de dois fatores. Superficialmente pelo contraste que isso geraria. Achar uma música no Redtube é como achar pornô explícito no Youtube, gera curiosidade. Indo mais a fundo, compartilhar em um site adulto é uma forma de alcançar o público ao qual a minha mensagem se destina. Todas as letras vão falar sobre a importância das relações humanas de contato. É uma forma de mostrar que vale a pena investir nos próprios sentimentos e em outras pessoas, ao invés de se enclausurar na defensiva.

De acordo com a descrição do Bandcamp, o projeto é calcado em guitarras e no uso de samplers e ritmos pré-programados. Por que desta proposta?

Esta proposta surgiu naturalmente por conta da minha preguiça em ficar tocando/programando synths. Ficar procurando timbres é um tanto cansativo e impede a fluidez da composição. Deste modo optei por usar guitarra e baixo justamente por conta de já saber como expressar as ideias e chegar em timbres de forma objetiva. Aos poucos percebi que isso era uma boa ideia, pois entendi que música eletrônica é uma linguagem e não uma forma de se fazer música. Hoje em dia é possível simular todos instrumentos e compor um punk rock eletronicamente, mas de fato aquilo não será música eletrônica. Da mesma forma, estou fazendo música com a linguagem eletrônica, porém sem sintetizadores ou teclados.

 Nota-se também que, para um projeto eletrônico, há uma presença menor de linhas de baixo e poucas texturas musicais, comuns em muitas músicas eletrônicas. Foi proposital esta escolha e por qual razão?

Minha vontade inicial era que não houvesse baixo nas músicas, apenas guitarra e as batidas. Mas quando resolvi consolidar como um projeto, percebi que o som precisava ficar gordão tanto em estúdio, como ao vivo. Quanto às texturas, realmente isto é uma opção. Eu procuro fazer com que as inúmeras trilhas de guitarra se completem, montando um panorama único, natural. Na música eletrônica geralmente são informações brigando entre si, um pandemônio! É admirável quem consegue botar ordem naquilo tudo, como o Skrillex faz por exemplo. Mas eu vou para outro lado, uso muito informação simultânea para comunicar uma ideia só. Há um simbiose entre os elementos.

 Você coloca que seu projeto é influenciado por KANYE WEST, 30 SECONDS TO MARS e EMERY, mas ouvindo atentamente nota-se um pouco de synthpop, post-metal (sobretudo no vocal), rock alternativo. Algumas passagens até mesmo lembram o disco “Wildhoney” do TIAMAT, com traços de progressivo. Então, como você classifica ou categoriza a sua música?

Muito boa a observação sobre o Tiamat, eu não tinha observado isso, apesar de escutar às vezes. As 3 influências que coloquei inicialmente não resumem aquilo que o Sasha Grey As Wife é de fato. Escolhi colocá-las durante a confecção do primeiro release pensando na assimilação do público. Sem dúvidas o metal é o estilo que mais me influencia e isso é perceptível nas músicas, principalmente bandas progressivas como Dream Theater, Pain Of Salvation, Yes, Porcupine Tree e etc… Mas meu contato com os diversos estilos que ouço sempre são muito intensos. Do frevo ao dubstep, do fusion ao hardcore, tudo é influência. Se eu fosse categorizar hoje, eu diria que é Rock Alternativo, justamente por ser um rótulo tão abrangente e genérico, afinal, eu nunca sei em que linha as músicas vão surgir.

Como é o seu processo criativo para compor músicas? No que você se inspira?

Eu não acredito tanto nesse lance de inspiração, de precisar estar abençoado para fazer arte. Arte é expressão. Geralmente sento e penso: “Vou compor”. Nisso já começo a imaginar que tipo de música quero, como quero soe, o que preciso comunicar através dos sons, sobre que assunto a letra vai abordar e etc… Esse processo de composição, execução e gravação acaba sendo simultâneo. Os takes que faço compondo, geralmente são os finais. As partes faladas em português sempre saem no improviso. Dou o rec, falo algumas coisas e pronto.

 É possível vermos o SASHA GREY AS WIFE como banda e termos apresentações?

É possível sim, mas dependo dos convites para apresentações. Creio que a experiência ao vivo será outro laboratório repleto de experimentações. Minha intenção inicial é me apresentar sozinho, como os Rappers fazem. Eu, minha guitarra, um amplificador e um notebook para soltar as trilhas. A ideia de poder fazer tudo sozinho é um tanto sedutora, pois diversos fatores são otimizados como o custo, estrutura, logística, composição e etc… Em compensação A responsabilidade é absurdamente maior.

E eu achei muito bacanas as artes dos singles de “Fetus” e “Passenger”. Quem as fez e o que elas significam?

A arte de No Fetus eu mesmo que fiz. Eu retirei o molde daquela imagem de uma cartilha clandestina sobre aborto que achei na internet. Nela mostrava ilustrações do feto sendo tirado pedaço a pedaço do ventre da mãe. Percebi que aquilo se encaixava na forma como a música falava sofrimento. Tratei a imagem para ficar um tanto moderna e psicodélica, para que ela entrasse no mesmo universo da música.

A arte de Passenger foi feita por Filipe Marcus, lá de Natal. Conheci ele nesses passeios que damos pela internet. Rapidamente começamos a conversar e naturalmente resolvemos unir forças artisticamente falando. Ele pegou a vibe da música de forma impressionante. A música fala sobre quando um casal que você conhece termina um relacionamento e você fica meio reflexivo/divido/triste. Então ele buscou me representar mergulhado em meu próprio espírito, num estado de profunda reflexão.

E como você vê a nossa cena musical brasileira?

Eu vejo que a cena musical brasileira é muito produtiva apesar da precariedade estrutural. Não é em qualquer cidade que teremos uma casa de show com som próprio que valorize trabalhos autorais. O acesso a equipamentos e serviços de qualidade foge da realidade financeira dos artistas. Nisso temos músicos que precisam se preocupar em desenvolver muitas habilidades ao invés de focar na arte. Além de músicos, hoje a “banda perfeita” deve ter quem saiba gravar, quem faça uma arte, quem corra atrás de contatos, quem organize o show, quem tome conta do dinheiro e etc… Talvez a cena tenha muita coisa por conta disso, a vontade de fazer tem sido maior que as dificuldades. Muita coisa pode e deve melhorar, mas enquanto isso não acontece, estamos todos ai fazendo algo.

Agora com relação a download de mp3: você é contra ou a favor? Até porque você tem suas músicas no iTunes, mas disponibiliza gratuitamente também para quem quiser baixar.

Sou totalmente a favor, afinal, quem eu seria sem os meus downloads? Acredito que é um costume ruim que temos e isso precisa ser adequado. O artista precisa retirar algum recurso daquilo que ele produziu e ao mesmo tempo precisa espalhar para o máximo de pessoas possíveis. O problema é que esta “cultura do gratuito” se arraigou tanto que as pessoas simplesmente não oferecem mais a opção de pagar. Coloquei no iTunes e no Bandcamp a opção de compra justamente para mostrar que é possível colaborar. Em breve haverá material físico à venda, como camisas, botons, CDs e etc…

Quais bandas tem ouvido ultimamente? Recomenda quais discos?

Sempre ouço muita coisa, pois não tenho fases. Algo que gosto hoje, continuo escutando pelo resto da vida. Atualmente tenho ouvido bandas mais experimentais como THIS TOWN NEED GUNS, HOTEL BOOKS, RX BANDITS, DYNAHEAD, JENNIFER LOFI, VENTRE e muitas outras. Vou citar então três discos nacionais e três discos internacionais que tenho escutado à exaustão!

Nacionais:

FAR FROM ALASKA, modeHuman: Banda bacanuda lá de Natal como uma pegada Stoner furiosa, compassos quebrados, vocais femininos, enfim, tudo de bom! A construção das músicas é invejável! Vale a pena ressaltar as experimentações salpicadas pelo álbum, seja nos teclados, efeitos nas vozes e outros instrumentos.

PLASTIC FIRE, CidadeVelozCidade: A banda de hardcore mais energética que já ouvi, principalmente ao vivo! Este disco novo produzido pelo Zander trás uma sonoridade muito mais “pra frente” em relação à densidade dos registros anteriores. Nem preciso falar sobre as letras, genialidade pura! Uma escola!

PROJECT 46, Que Seja Feita A Nossa Vontade: Grande revelação do metal nacional que tem mostrado que não só veio para ficar, mas também para ser referência! Uma banda altamente técnica tanto na performance quanto em suas ações de mídia. Som pesado, em português e com letras pertinentes à nossa realidade.

Internacionais:

BATON ROUGE, Totem: Banda francesa com fortes influências de hardcore e post-punk. Ele cantam em francês e o contato com um idioma diferente é sempre um aprendizado. A fineza como que eles constroem os arranjos e linhas vocais é o grande atrativo pra mim.

MORE THAN LIFE, Whats Left of Me: Minha banda preferida de Hardcore. Nunca consegui tanto feeling em um som tão energético. Neste novo disco eles inseriram linhas vocais limpas, desta forma acabaram extrapolando na carga de emotiva das música, fazendo com que este disco seja muito importante pra mim.

MYLETS, Retcon: Me mostraram no Youtube este projeto do jovem Henry Kohen. Vi uma performance ao vivo onde ele ia construindo a música ao vivo com um pedal de loop, uma bateria eletrônica e sua guitarra. O resultado é monstruoso! É preciso ver um vídeo dele tocando ao vivo para acreditar! Ele abusa nas estruturas, na técnica, no feeling, nas letras, em tudo! Conheci ele depois que o Sasha Grey As Wife já havia lançado material e me identifiquei com a forma dele de fazer tudo sozinho.

Agora é a hora de nos despedirmos. Deixe o seu recado para os nossos leitores.

Gostaria de convidar os leitores a acompanharem a FanPage no Facebook DO SASHA GREY AS WIFE para conhecerem o material que já foi lançado e aquilo que ainda virá! Existem muitas novidades vindo por aí! E claro, produtores, caso queiram um show em sua cidade, basta entrar em contato pelo Facebook, garanto que será simples! Paz para todos!

Links relacionados

http://sashagreyaswife.bandcamp.com/

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https://www.youtube.com/sashagreyaswife


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.