O grupo 3 Inches of Blood fez seu nome inspirado no New Wave of British Heavy Metal. Entre guitarras galopantes, valquírias gemendo e luvas cravejadas de rebites, estes caras estariam no lugar certo em um festival junto com o Accept e o Iron Maiden. Se você se lembrar dos anos 80, provavelmente vai recordar o todas as bandas de metal da época faziam: vídeos com gostosas.
O metal prosseguiu e o uso de mulheres como decoração em clipes é uma coisa que felizmente foi deixada de lado. Quer dizer, eu achava isto – até ver o clipe do 3IoB, “Metal Woman”. Isto foi em 2012, havia uma chance da música ser uma celebração da mulher dentro do mundo do metal – a garra, as fãs ardorosas, os músicos botando pra foder no palco, os empresários e as pessoas da companias e as letristas que fazem tudo isto acontecer.
Estas esperanças foram destruídas no primeiro minuto do clipe, que revelara o que a banda queria dizer com “metal woman”: uma modelo tatuada e de cabelo moicano vestindo calças de couro sensuais e um colete cortado, com um cinto de balas no quadril. Quadris embelezados com uma caveira com chifres saindo pelo cós da calça, deixando o resto para a sua imaginação…
Então é isto que quer dizer esta “metal woman”? Ela posa com um biquíni bem apertado, botas de salto alto e – claro – uma coleira de cachorro. Ela dirige por aí com sua van negra, chamando jovens mulheres delinquentes. Ela coloca a música do 3 Inches of Blood em seu iPod. E isto é tudo. Sem narrativa. Apenas um colírio para os olhos.
As letras a descrevem com termos assustadoramente sexistas: “O jeito que ela veio para o metal nos deixou excitados… Mulher do Metal / Demônio no Saco / Mulher do Metal/ Pronta para atacar!” Ela é a clássica femme fatale, uma sereia cantando para homens indefesos em suas praias rochosas.
A femme fatale é um arquétipo traiçoeiro: De um lado, ela parece representar a independência feminina, poder e compromisso. Do outro, estas características são o terror e o perigo ao homem, que simultaneamente teme e a deseja de formas incontroláveis. Isto não é nem a sombra da feminilidade pós-moderna: Ela é uma selvagem e perigosa como Keats em “La Belle Dame Sans Merci”, escrito em 1819.
Em primeiro lugar, parece possível que a banda esteja tirando um sarro sobre a “mulher dos sonhos” do metal. Mas vamos encarar isto: Metal não faz, via de regra, ironia, e o 3IoB não é nada sincero em sua carreira, se valendo dos mesmos clichês: mito, fantasia, conquista. Com esta música, eles estão celebrando uma fantasia muito específica e tudo bem – nós deveríamos todos saber do que gostamos – mas o nome “metal woman” implica em dizer que todas as mulheres da cena são como a retratada no vídeo ou pelo menos deveriam ser.
Muitas mulheres dentro da cena metal não são assim. Claro, há algumas que adotam os elementos deste arquétipo. Mas para falar somente de roupas de couro cortadas, qualificando essas damas sexualizadas como “mulheres do metal” exclui todas as outras que não se encaixam nesse padrão. E metal já exclui o suficiente.
Até agora a imprensa especializada não está chamando o 3 Inches of Blood de sexista. Metalsucks chamou o vídeo de “Gostosástico” e Philip Sayblack do WNCT entertainment disse que “a música é essencialmente um tributo a todas as mulheres que provam que o metal não é somente para homens.” Entretanto, no Loudwire: “3 Inches of Blood se conecta com os metalheads de uma forma universal em “Metal Woman ‘, porque todos nós desejamos ver uma gostosa tatuada vestida de preto em um show de metal!”
Todos estes comentários confirmam que metal é, deliberadamente, “apenas para homens”. “Quando alguém [no metal] sugere que alguém é excitante, dentro da visão predominantemente masculina, muitas ouvintes se sentem desconfortáveis Isto não é uma regra, claro, mas é um pensamento muito presente”, escreveu Natalie Zina Walschots em “Vanilla Violence: Metal’s struggle with BDSM” [em uma tradução livre, Violência Sexual Convencional: O metal enfrente o BDSM], para o Toronto Standard. Ignorando o fato de que o metal é “guiado por uma determinação de subverter as normas da cultura vigente e celebrar a perspectiva do outro”, é excessivamente heteronormativo, acrescenta.
E passou-se muito tempo desde que os plebeus da cena saíram de sua zona de conforto. É tempo de abraçar a enorme diversidade dentro do metal, refletida dentro de todos os microgêneros. É tempo de parar de falar sobre mulheres no metal como se elas fossem de mentira, como se elas não estivessem no lugar certo, no canto do palco, ouvindo cada palavra.