Genocide Organ ‎– Obituary Of The Americas (2016)

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Industrial, Noise, Power Electronics – Tesco Organisation

O projeto Genocide Organ sempre mexeu com assuntos bastante controversos em seus trabalhos. Basta ver os álbuns Leichenlinie  (1989), onde abordava e falavam sobre a Segunda Guerra Mundial, contando com uma música dedicada a Klaus Barbie, grande genocida do exército alemão e Under – Kontrakt (2011), com forte uso de imagens fascistas. Tudo colocado de maneira não-explicativa, levando pessoas a acreditarem que se tratava de uma banda nazista. Mas com Obituary Of The Americas o grupo se distancia e prova que sua música dialoga com os extremos da sociedade.

Obituary Of The Americas nasce, de acordo com os integrantes, de uma viagem realizada pela América Latina em busca de grupos paramilitares e milícias urbanas que combatem a opressão vinda sobretudo pelo Estado e pelos grupos de narcotraficantes. O trabalho pode ser resumido em como o consumo de drogas nos países de primeiro mundo alimenta os cartéis que, de forma tirânica, oprimem os mais pobres em busca de lucro. O obituário das américas está escrito justamente nas lutas que estes povos fazem em busca de liberdade e de seus direitos.

O trabalho começa com Autodefensa, com melodias ácidas, flertando com o death industrial e lembrando um pouco os primeiros trabalhos do The Grey Wolves. Refere-se aos grupos milicianos que surgiram durante o combate às drogas no México, mas que, aparentemente, se degenerou e se transformou numa força de ação violenta igual ao que combatiam. Formacion De Guerilla contrasta um longo drone feito com noise e alguns discursos sobre formações do exército para lutar contra os inimigos urbanos. É uma música fria, com um vocal estático e distorcido. I Don´t Wanna Die é uma faixa que ressalta o desespero trazido pela guerra urbana, com um som constante e tortuoso, cortado por algumas interferências ao fundo.

Plastic Vests continua a mesma tortura sonora da música anterior, desta vez com os vocais graves de Brigant Moloch e uma percussão de fundo dando ritmo à fala. Em Escuela De Las Americas a bateria eletrônica lenta e fortemente distorcida traz em seu conteúdo lírico a crítica à colonização comercial da América Latina, sobretudo no trecho “your mind is in our hands, our hands is in your mind” (sua mente está em nossas mãos, nossas mãos estão em sua mente), representando como se manipulam os governos do sul das américas em benefício de outros países e sacrificando a democracia.

Operacion Causa Justa é uma referência à invasão americana ao Panamá em 1989, autorizada pelo governo de George H.W. Bush sob o pretexto de capturar o ditador Manuel Antonio Noriega, acusado de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção. Este movimento foi duramente criticado por governos de diversos países e pelas Nações Unidas, pois se tratava de uma forma disfarçada de intervir em um país latino e causou muitos danos econômicos, sociais e políticos, tendo tirado a vida de cerca de 3000 pessoas durante a operação. Kaibil, uma música que começa com um discurso falado por um membro da força especial da Guatemala, refere-se a uma força militar criada no país para combater insurgências de civis descontentes com o governo. É um dos exércitos com treinamento mais pesado do mundo e hoje combatem os cartéis de drogas. Terminando o trabalho temos Todo Por La Patria, trazendo aquele noise característico do Genocide Organ e faz referência ao movimento argentino que buscava uma revolução armada no país contra o governo de Raúl Alfonsín, idealizada por jovens de extrema esquerda que buscavam um modelo de governo diferente.

Em resumo pode-se dizer sem dúvidas que é um dos melhores trabalhos do grupo, ficando junto de Under-Kontrakt. Talvez cause algum estranhamento este disco estar mais “melódico” e menos brutal que os anteriores, mas isto não tira nem um pouco da grandiosidade deste disco.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.

2 Comments

  1. Ouvi esse álbum semana passada. Dentro do que ouço no gênero, não saberia dizer, se exatamente me traz lembranças de algo (mesmo que quase invariavelmente eu pense nos primórdios do “Whitehouse”), mas gostei de ouvir esses “samples” em espanhol, bem como essa temática. Na época em que li sobre o mesmo, no site da notória “Tesco”, cheguei a pensar se não teriam dito um algo qualquer sobre o Brasil; aqui tem material de sobra para “Power Electronics/Death Industrial/Noise” (aka: Bolsonaro:House).
    Resumindo; bom álbum, e creio que tenha desmistificado certa imagem sobre eles.

    1. O que eu pessoalmente gosto desse disco é justamente essa temática, que foge muito do padrão “nazi-fascista” dos outros trabalhos deles. E que serve pro povo de fora enxergar que eles não são nazistas.

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