Neste ano de 2016, no dia 04 de setembro, tivemos a terceira edição do Overload Music Festival, desta vez mais modesta, apenas em São Paulo, em um único dia. Também ocorreu mudança de local, saindo do Via Marquês e indo para o Carioca Club, tornando o evento mais acessível pela proximidade com a estação Faria Lima. Contou também com uma quantidade menor de bandas, apenas quatro, metade do ano passado, com um show solo, uma atração nacional e duas internacionais.
Com relação aos shows deste ano, vamos começar com a performance de Vincent Cavanagh, guitarrista e vocalista do grupo Anathema, que já se apresentou no Brasil algumas vezes. Em um formato acústico, tocou clássicos da sua banda, utilizando apenas um violão e um pedal de loop para repetir as batidas, que faziam as vezes de bateria improvisada. Foi uma apresentação mediana, com muitos problemas de som, na qual a metade do setlist soava muito ruim, melhorando a partir da execução da música Angelica, próximo ao fim do seu pequeno show. Contudo, o britânico foi extremamente carismático com o público, que cantava junto dele as músicas Deep, Angelica e Eternity part 1. Um show simples, com alguns problemas técnicos, mas bem competente.
Em seguida teve o show do grupo paulista Labirinto, que já se apresentou na primeira edição do Overload. Fazendo a divulgação de seu novo trabalho recém-lançado, Gehenna, trouxe para o palco todo o peso dessa nova fase da banda. Conheço o grupo antes mesmo do Overload e sempre fui muito fã do primeiro trabalho e também gostei muito do novo disco, mas não imaginava como ele soaria num palco, ao vivo. Tirando alguns problemas com o som nas duas primeiras músicas, o que se pode dizer é que, definitivamente, eles roubaram a cena nesse festival. Com toda a competência e amadurecimento conquistados ao longo de muitos shows e ensaios, a banda trouxe uma apresentação que impressionou todos os presentes, sobretudo aqueles que não conheciam a banda. Isso se refletia muito no que se falava em meio a plateia, que simplesmente ficou estupefata com a qualidade da apresentação. Arrisco-me a dizer, sem medo de ser injusto com os outros grupos, que foi o melhor show do Overload ou, pelo menos, um dos melhores. Durante a execução de Enoch/Qumram, projetavam-se vídeos sobre o período da Ditadura Militar e também da violência desse período, fazendo com que alguns gritassem por “Fora Temer” durante a execução. Ao final da apresentação podia-se ouvir de muitas pessoas que o festival poderia ter encerrado ali, que a banda tinha “fechado” com chave de ouro o evento. Foi, para mim, uma surpresa muito grande saber que as pessoas conseguiram admirar pouco mais de cinquenta minutos de puro post-metal instrumental tocado com qualidade excepcional. É um exemplo para nossas bandas de que é possível ter a excelência com personalidade, sem precisar se prender a clichês de estilo musical.
O Alcest veio com a proposta de tocar integralmente o seu disco Écailles de Lune, considerado por muitos o seu melhor trabalho. Pessoalmente, a apresentação deles deixou um pouco a desejar nesse sentido. O som estava muito mal equalizado durante boa parte das músicas, não era possível escutar a voz do Neige e algumas músicas, como a faixa título do Écailles ficaram bastante descaracterizadas. Foi o mesmo problema que aconteceu no primeiro Overload. Também tinha excesso de graves em muitos momentos. Contudo, a partir de Solar Song o som começa a ficar melhor e temos uma bela apresentação do grupo francês. Muita gente saiu do show emocionada, embora também fosse possível ouvir reclamações de que a apresentação estava um bocado extensa. Na verdade, o que acontece é que as pessoas estavam cansadas e as apresentações anteriores, do Vincent e do Labirinto, acabaram fazendo com que o Alcest estivesse demorando demais.
A noite termina com o excelente show do Katatonia, que também enfrentou alguns problemas de áudio na execução de Last Song Before the Fade. Uma apresentação perfeita, um setlist que abrangeu muitas boas canções e não tem como destacar uma em especial. As músicas do novo trabalho soaram melhores ao vivo que no álbum, o que para mim é muito positivo. Talvez o que fosse mais incomodo é uma banda terminar o seu show perto das 23 horas em um domingo, com muita gente tendo que acordar cedo ou voltar para casa usando condução, mas aparentemente ninguém se importou muito com isto.
Nem tudo foram flores nesse festival e alguns erros precisam ser revistos. Eu sou um grande incentivador de shows no Carioca Club, para mim é o espaço para shows mais bem localizado em São Paulo. Já vi muito show lá e sempre foram shows muito bons. Mas no Overload tivemos um lugar super quente e abafado, muita gente teve de sair várias vezes durante os shows por não suportar tamanho desconforto na pista. Inclusive algumas pessoas saíram de lá passando mal antes de chegar no Katatonia e não me lembro de ter visto alguma ambulância ou ambulatório perto desse evento. Também a ausência de locais para sentar num festival longo atrapalha bastante, uma vez que na metade do Overload muita gente não aguentava mais ficar em pé.
Comer também era uma tarefa bastante ingrata. Apesar de terem um hamburger que parecia ser excelente, eu não tinha pique de encarar uma hora, contando a compra da ficha e a realização do meu pedido para comê-lo. Isso foi extremamente desrespeitoso e vi muita gente desistindo de comer justamente pelo tempo de espera, o que inclui este que vos escreve. Fiquei sabendo que não puderam trazer uma chapa para fritá-los, o que tornou a sua preparação mais lenta, pois tinham de usar uma grelha. Também era muito difícil conseguir comprar algo no bar, normalmente eu tomo uma ou duas cervejas durante os shows em que vou no Carioca, seja como imprensa ou não e tive de me contentar em não beber nada até a hora de ir embora.
Também tivemos muitos problemas com o som com todas as bandas. Comparando com o ano passado, no Via Marquês, a qualidade do som deixou um bocado a desejar, sobretudo nas primeiras músicas de praticamente todos os grupos. Também fiquei sabendo que havia problemas com alguns retornos, que passavam o som todo misturado para as bandas e que estas não tiveram muito tempo para fazer a passagem de som adequada, o que era perceptível sempre no começo das apresentações.
Como último problema, o fato do show ser no domingo também deveria ser importante para que o término do festival ocorresse no máximo as 22:30. Muita gente teve de ir embora antes do final do show do Katatonia por conta de condução e também de acordar cedo no dia seguinte para trabalhar ou estudar. Sem proximidade com feriados, diferentemente dos anos anteriores, é muito complicado deixar os shows terminarem tão tarde, desse modo seria bom para o próximo ano, caso o evento ocorra em um domingo sem feriado no dia seguinte, que se planeje um fim para as 22:00, de modo a, caso a banda se estenda um pouco, não prejudique quem depende de transporte público e / ou mora longe.
No saldo geral, foi um bom evento. Com um cast mais modesto, um local de fácil acesso e bandas bastante competentes, o festival continua por mais um ano. E que continue assim, a gente anda carente de festivais onde a gente possa ouvir bandas diferentes. Quem sabe no ano que vem não tenhamos alguma boa surpresa?
Vincent Cavanagh
Fragile Dreams
Deep
Untouchable, Part 1
Thin Air
Angelica
Eternity Part I
Distant Satellites
Labirinto
Mal Sacré
Aung Suu
Enoch/Qumram
Avernus
Aludra
Alamūt
Alcest
Écailles de lune – Part 1
Écailles de lune – Part 2
Percées de lumière
Abysses
Solar Song
Sur l’océan couleur de fer
Autre temps
Les Iris
Souvenirs d’un autre monde
Là où naissent les couleurs nouvelles
Délivrance
Katatonia
Last Song Before the Fade
Deliberation
Serein
Dead Letters
Liberation
Day and Then the Shade
Teargas
Criminals
The Longest Year
Soil’s Song
The Racing Heart
Nephilim
Onward Into Battle
Evidence
Old Heart Falls
Leaders
Hypnone
Buildings
In the White
Forsaker
Bis:
My Twin
Lethean
July