Aftermath “Acho que as bandas de metal deveriam ser políticas”

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A banda Aftermath, formada em 1985 por Kyriakos “Charlie” Tsiolis, traz para a gente um thrash metal bastante técnico mesclado com hardcore, com letras sobre o mundo e sobre os problemas políticos.

Kyriakos nos concedeu essa entrevista, a qual falamos sobre o começo da carreira, cena norte-americana de metal, sobre misturar metal e política e os problemas envolvendo a banda e, vejam só, o Dr Dre.

Você é grego, certo? Como você chegou nos Estados Unidos?

Sim, sou grego.  Nasci na Grécia, mas meus pais vieram para cá quando eu tinha apenas 11 meses.  Então isto faz de mim meio americano, meio grego.

Acho que a cidade de Chicago deve ser um lugar interessante para se viver. Quão importante ela é para ti e para tua música?

Amo Chicago.  É uma das maiores cidades americanas e uma das melhores do mundo.  Talvez a melhor.  Aqui tem boa música.  Uma história maravilhosa que percorre todos os gêneros musicais.  A cena aqui quando formamos a banda em 1985 era muito forte.  Grandes bandas, locais e fãs o tempo todo.  E que continua muito ativa atualmente.

E quando você começou na música? Quais foram as suas influências?

Formamos o Aftermath, como eu disse, em 1985. Eu e o Ray fazíamos jams alguns meses antes, mas posso dizer que o começo mesmo da banda foi lá para a noite de Halloween deste mesmo ano . [ nota do tradutor: 31 de outubro]  Queria estar numa banda quando era mais novo, pois quando tinha dez anos eu descobri o Kiss.  Então conheci o Van Halen e foi amor à primeira audição.  Ouvindo tudo isso então percebemos que era esse tipo de coisa que queria fazer. E eu ainda era muito novo.  Descobri o Iron Maiden em 1980 e comecei a gostar de música mais pesada.  Em 1983 ouvi Venom e tudo mudou.  Eles eram tão desconhecidos na época.  Soava como o Metallica antigo, mais extremo.  Sabia que queria estar em uma banda e também que seria um vocalista, não guitarrista.  Então, teve também o Slayer, que me influenciou bastante, assim como as bandas de hardcore.  Tudo isso eu posso dizer que influenciou o Aftermath no começo.  Após isso, não saberia dizer quem exatamente nos influenciou depois disso..  Havia algumas outras bandas que a gente gostava, como o Voivod, mas nenhuma delas nos influenciou tanto como essas bandas que respeitamos muito.

E como é a cena americana? Tem espaço para bandas de metal? Digo porque aqui no Brasil é um bocado complicado, pois as pessoas normalmente preferem bandas dos Estados Unidos, Europa, Japão (em alguns casos bem raros), mas as brasileiras, exceto pelos grandes nomes como Angra e Sepultura, não conseguem encontrar um público cativo.

Aqui tem uma cena muito ativa e grande.  O metal extremo tem, provavelmente, a  maior e mais bem-sucedida cena hoje que nos anos 1980.  O metal sempre será forte nos Estados Unidos.

Vi que, durante um tempo, você mudou o nome da banda para Mother God Moviestar e fazia um som mais voltado para o rock alternativo / industrial. Por quê? Pergunto pois aqui no Groundcast a gente tem sempre interesse nesse tipo de música e quando ouvi vocês nessa fase, para mim, soou como uma mistura boa de Marilyn Manson, Ministry e Nine Inch Nails, mas como alguma identidade gótica.

É uma história bem interessante.  Mother God Moviestar era o Aftermath mais um DJ e uma vocalista, que eram pessoas diferentes, uma para a gravação e outra para os shows ao vivo.  Isso aconteceu por causa de um processo com o Dr. Dre.  A Interscope Records tinha assinado um contrato com a gente e que, por sua vez, era dona do selo do Dre. A gente quis muito experimentar com esse disco do MGM.  Podíamos ter lançado um álbum de thrash metal, mas não o fizemos.  Tínhamos um contrato que era perfeito porque tínhamos o controle de todo o processo.  Lançamos então esse álbum sem interferência da gravadora.  Decidimos então mudar o nome para que ninguém pudesse nos processar, exceto eu mesmo.  Esse álbum era pouco convencional e comercialmente inviável.  Não dava para definir em um só estilo musical.  Naquela época a gente estava ouvindo um monte de coisa diferente, de muitos estilos, ao mesmo tempo.  Queria então incorporar tudo isso naquele álbum.  E, no final das contas, acabou saindo uma mistura de metal, industrial e música eletrônica, que hoje as pessoas chamam de EDM (Electronic Dance Music).  Este trabalho começa com a banda trabalhando intensamente e vai, aos poucos, ficando mais eletrônico e termina com os remixes das músicas feitos pelo DJ.  E com isso ele se transforma em algo único.  Isto estava muitos anos à frente do seu tempo, na minha opinião.

E por que você não continuou com essa abordagem mais industrial?

Foi quando a gente fez a turnê desse álbum e demos uma pausa nas nossas atividades.

E sobre esse caso com o Dr Dre, poderia dizer para a gente como foi ou ele é segredo?

Fomos processados por ele por conta de um problema com a marca em 1996.  Tínhamos o direito de usar o nome Aftermath nos Estados Unidos e o Dre queria licenciá-la para o seu novo selo.  O problema foi que ele mentiu para nós.  O advogado dele também mentiu e disse que representava um selo pequeno de R’n’B que estava começando e que queriam licenciar o nome por 5 mil dólares.  A verdade é que seu cliente estava iniciando um selo multimilionário pertencente a uma das maiores gravadoras do mundo.  Eles continuaram mentindo e descobrimos.  Recusamos as ofertas que eles nos fizeram, que chegou a 50 mil dólares, para ter o direito ao uso do nome Aftermath.  Entramos com processo para que não pudessem usar o nosso nome.  Então eles venceram o primeiro julgamento.  O que foi uma grande merda, acho que eles pagaram para o juiz.  Poderíamos ter mantido o processo, mas não tínhamos mais dinheiro.

Poderia nos contar mais sobre There is Something Wrong? Para mim, parece um bom thrash metal dos anos 80, mas menos influenciado pela cerveja (hehehe) e algumas influências industriais / prog e, principalmente, alguma coisa que te incomoda.

Este é um álbum conceitual.  Quando voltamos e escrevemos a primeira música por diversão, ela soou ótima e parecia nova.  A gente continuou e organicamente este trabalho se tornou o nosso álbum.  Queria que fosse conceitual porque acredito na importância da mensagem em um álbum e somente assim essa mensagem poderia ser divulgada.  Era preciso ter começo, meio e fim.  Queria que representasse tanto as duas fases do Aftermath – o começo da nossa era crossover e o nosso lado mais técnico / progressivo que veio depois.  Somos únicos nesse aspecto, pois a banda tem dois sons muito distintos e o álbum conceitual se mostrou melhor para a música ter a agressividade e atitude do estilo crossover e as partes progressivas que também precisavam fazer parte dela.  Não reparei nessa parte industrial que você mencionou.  Nossa música, especialmente as letras que eu fiz, sempre são sobre as coisas que me incomodam.

Li certa vez uma outra entrevista sua que as suas letras são baseadas na realidade e que algumas evidentemente incluem política. Quais os temas que você gosta mais de explorar?

Fico feliz em ouvir que alguém leu alguma das minhas entrevistas, hahahaha.  Sempre escrevo sobre assuntos da vida real. Nunca fiz nada muito típico das letras de heavy metal.  E gosto de punk, sobretudo das letras.  Eles escrevem sobre a vida de um modo tão real sendo jovens e raivosos por odiarem o governo que oprime e escraviza as pessoas.  Estas letras de músicas tem um sentido muito real para mim.  Sempre quis que o ouvinte de nossas músicas tivesse esse mesmo sentimento que eu tenho.  O sentimento de “foda-se o sistema”.  Este novo álbum é sobre todos aqueles que comandam o mundo e fazem seus planos para nós.  Aqueles que foram eleitos são como fantoches ou atores que seguem as ordens e leem seus roteiros.  Não é apenas sobre a política, é sobre o sistema inteiro, que é corrupto.  De bancos a escolas, de governos a religiões. Todos eles.

Com uma raiz bastante punk, vejo que vocês tentam manter alguma atitude política, coisa rara nas bandas de metal atualmente. O que você pensa sobre o pessoal “apolítico” ou sobre os caras falando que “metal e política não podem se misturar”?

Acho que as bandas de metal deveriam ser políticas.  Eu não entendo esse argumento de que você não pode misturar metal e política.  É uma música agressiva e qual o melhor caminho para entregar uma mensagem como esta que o heavy metal?  As bandas punks têm atitude, mas falta algumas vezes um pouco de agressividade e peso que o metal tem, então seria muito bom ouvir mais bandas que cantassem sobre política e sobre a vida real.

O que você está ouvindo atualmente e pode recomendar aos nossos leitores?

Não tenho ouvido muitas bandas novas recentemente.  Escuto muito thrash metal antigo;  O novo disco do Voivod é bem legal.  O novo do Death Angel que eu ouvi me pareceu bem foda.  Acredite ou não, eu tenho ouvido muito o nosso novo disco.

Sobre as bandas daqui do Brasil (porque a gente aqui é um site brasileiro): conhece alguma?

Claro, conheço Sepultura e Angra. Também conheço o Sarcófago e o Chakal.  Você conta o Soulfy, ainda que o Max Cavalera viva por aqui? lol

Bom, quero muito agradecer a entrevista. Este é o seu espaço para deixar uma mensagem para os nossos leitores. Manda bala.

Quero te agradecer pela entrevista.  Espero que possamos tocar um dia aí no Brasil.  As mulheres são muito bonitas e a cena para as bandas de metal tem sempre sido maravilhosa.  Peguem nosso novo disco e escutem do começo ao fim com fones de ouvido, se possível.  As pessoas deste planeta precisam se unir e acordar para o que está acontecendo.  As pessoas que controlam o mundo não estão lá para nos ajudar.  Estão para nos manter divididos e escravizados através de suas instituições, leis e sistemas monetários. Não somos livres porque controlam tudo.  HORA DE ACORDAR!  E o nosso novo trabalho também está disponível em versões físicas (CD e vinil). Vejam nossos vídeos em nosso canal no YouTube.

Links Relacionados

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https://play.spotify.com/artist/2HlaZ7yPsLrQA5zmDU1lch

https://www.youtube.com/user/zoident

 


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.