Kate Nord: “As mulheres continuam sub-representadas no metal”

5 min


0

You can read this post in: English


Fico sempre feliz quando posso entrevistar uma mulher para o Groundcast, porque uma de nossas filosofias é abrir para todos, independentemente de sexo, etnia, país e outros. Então, primeiro, poderia nos contar um pouco sobre como você começou neste universo chamado música?

Kate: Muito obrigada por se interessar pelo meu trabalho! A música sempre esteve presente em minha família desde a minha infância. Alguém sempre ouvia ou tocava música em casa! Acho que entrei neste universo por osmose, haha!

Lembro quando meus pais levaram eu e meu amigo ao nosso primeiro show, tínhamos uns oito anos de idade. Era um evento de música infantil, mas me lembro de nos sentarmos quase em transe, como se testemunhássemos algo mágico.

Vi que você é finlandesa, e posso imaginar como é maravilhoso crescer em um país que respira heavy metal. Como você escolheu seguir neste gênero musical?

Kate: Cresci no campo perto da cidade de Porvoo, no sul da Finlândia, e havia muito metal lá, com muitas bandas underground – no final dos anos 90 e na primeira década de 2000, o metal era tão popular na Finlândia que você podia ouvi-lo nas rádios de todos os lugares, até mesmo no supermercado!

Então se tornar uma metalhead era algo muito natural para mim, eu me apaixonei pela força bruta e pelas fortes emoções expressas pela música! Meu irmão estava tocando em algumas bandas de metal e punk, e o meu passatempo de fim de semana era ir a esses shows.

Não nego que, secretamente, queria fazer a mesma coisa! E agora, depois de muitos anos de pesquisa e escrita, finalmente completei meu álbum de estreia como artista solo!

Como foi a decisão de se mudar para outro país? Posso imaginar a dificuldade de se estabelecer em um lugar onde o idioma é completamente diferente, e muitos hábitos também são diversos. Como a Itália te mudou?

Kate: O que aconteceu foi que conheci este incrível violonista italiano quando eu ainda morava na Finlândia e ficamos juntos! Dois anos mais depois ele estava voltando para a Itália para uma oportunidade de trabalho e era natural que fôssemos juntos.

Naturalmente, teve um choque cultural, pois há muitas diferenças entre a vida social italiana e finlandesa – por exemplo, eu, como finlandesa, sinto-me muito mais à vontade sentada com um amigo em silêncio. Mas para os italianos, o silêncio se torna insuportável após alguns segundos! Garanto que é muito estranho aprender a fazer bom uso de conversa fiada quando se está na casa dos vinte e poucos anos.

Comecei a navegar em seu canal YouTube e te vi interpretando canções tradicionais em outros idiomas. Como surgiu este interesse, especialmente por idiomas? Sou linguista e acho fascinante conhecer outros idiomas, especialmente na literatura e na música.

Kate: Na Finlândia, temos duas línguas nacionais, finlandês e sueco, embora a maioria da população só fale finlandês. Minha língua materna é o sueco, então eu precisava aprender finlandês na escola. Eu gostava muito de ler quando era criança e acho que desenvolvi uma espécie de interesse especial pelas línguas em geral!

Eu também sou fluente em italiano, então eu falo quatro idiomas! Mas seria ótimo ter tempo para aprender francês também. Esse é meu último hobby, tentar aprender a língua francesa pelo menos para conversas básicas. Mais cedo ou mais tarde poderei me comunicar com meus amigos da banda belga Ethernity em sua própria língua!

Acho que você gosta de videogames, não é? Eu vi seu cover de uma música da Dragon Age Inquisition (Dragon Age é uma das minhas séries de jogos favoritas, pois sou um grande fã de RPG e jogos de estratégia). Você tem um jogo favorito?

Kate: Eu me diverti muito com a Dragon Age Inquisition! RPGs de fantasia são outra ótima maneira de escapar da vida cotidiana por um tempo! Adoro meus videogames, embora às vezes eu secretamente deseje que as histórias possam ser mais curtas – não tenho mais muito tempo para dedicar aos jogos desde que abri meu estúdio de gravação. Por isso, tenho que escolher cuidadosamente quais jogos jogar de fato! Ultimamente tenho feito uma pequena viagem de nostalgia com a Oblivion da série Elder Scrolls.

Na verdade, estou ansiosa pela produção da próxima edição do Hellblade, porque a primeira foi realmente uma obra de arte! Você estava representando uma mulher Pictish que descia para uma versão do inferno da mitologia nórdica, ou talvez para uma psicose, que o jogo deixa o jogador decidir. Essa foi uma experiência muito diferente e intensa, não apenas pelo design de som maravilhosamente assustador (se você joga com fones de ouvido, tem literalmente pessoas sussurrando em seus ouvidos), e eu escrevi uma música para o Noveria inspirada no “Senua’s Sacrifice” logo após ter terminado aquele jogo!

Pode parecer ignorância minha e peço desculpas se for, mas a impressão que tenho é que não há muitas mulheres envolvidas em bandas de power / symphonic metal. Como foi a idéia de iniciar um projeto / banda em uma cena que ainda é muito masculina, apesar de ter grandes nomes como Tarja Turunen, Floor Jansen e Sharon Den Adel?

Kate: As mulheres continuam sub-representadas no metal em geral, sim, é verdade. Mas também há bandas muito legais, como o Nervosa, apenas com mulheres! Não foi para fazer nenhum tipo de declaração em particular que criei este projeto, exceto meu amor pela música.

Tarja Turunen e Nightwish são o motivo pelo qual eu tive a ideia de misturar música clássica com guitarras de metal, e foram também a inspiração para meus estudos em vocais clássicos!

Como você também escreveu algumas letras para Noveria e se inspirou em Tolkien para o álbum de estreia, imagino que goste de literatura. Você tem um gênero e autor favoritos?

Kate: Aprender sobre as obras de J.R.R. Tolkien foi um evento que mudou a minha vida! O Senhor dos Anéis e sua construção do mundo me fez pensar mais do que qualquer outra história. Tentei criar algo semelhante por conta própria quando adolescente, mas a tarefa era tão vasta que cedi e me concentrei apenas em criar música com um efeito semelhante de transportar as pessoas para outras dimensões!

O que podemos esperar do “”Compass To Your Heart’s Desire””? Seria possível comentar um pouco sobre a música e a letra? Sou um grande fã da fantasia; ela sempre me ajudou muito em tempos difíceis e acho que um álbum como este é sempre bem-vindo em um mundo cada vez mais frio e sem esperança.

Kate: Com o Compass To Your Heart’s Desire espero levar o ouvinte numa viagem escapista a um lugar no qual as fadas são reais e o Vento do Norte tem voz própria! Eu me inspirei na mitologia nórdica e nas baladas medievais, bem como em algumas das minhas próprias experiências pessoais.

Aeternam Vale, a última faixa do álbum, é a canção mais pessoal que escrevi até hoje. É uma das tentativas de escrever algo para uma amiga que se perdeu muito cedo. Essa é a única faixa em que estou cantando em sueco, pois também era sua língua materna.

Dito isto, mesmo que muitas vezes escreva sobre temas tristes e sombrios, é meu objetivo sempre sair com um brilho de esperança – afinal, sem conhecer a natureza das trevas, não seria possível reconhecer a luz.

O Groundcast é um site de música brasileira, e nós sempre perguntamos por aqui: você conhece alguma banda do Brasil?

Kate: Acho que já mencionei o Nervosa, mas na Finlândia, a banda de metal brasileira mais famosa deve ser o Sepultura, sem dúvidas! Sou também uma grande fã do Angra em todas as suas diferentes formações ao longo do tempo!

Agora temos que terminar esta entrevista e, desde já, agradeço muito a sua atenção. Deixe aqui sua mensagem para nossos leitores.

Kate: Muito obrigada por ter conversado comigo! Foi um prazer!

Links Relacionados

https://www.katenordmusic.com/

https://www.facebook.com/KateNordOfficial/

https://www.instagram.com/katenordcreations/

https://www.youtube.com/KateNord/

https://soundcloud.com/metalmessage/kate-nord-the-north-wind-and-the-troll


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.