Antrisch – EXPEDITION II: Die Passage (2023)

Eu gosto bastante do chamado black metal atmosférico, pra mim é incrível como as bandas desenvolvem sonoridades muito únicas dentro desse segmento. Grandes nomes como Ashbringer, Lustre e o Saor mostram uma vitalidade e um vigor muito fortes.

Antrisch é um nome interessante, que traz no seu primeiro disco, Expedition II, a história dos navios HMS Erebus e HMS Terror, que partiram da Inglaterra em 1845 sob o comando de Sir John Franklin e do Francis Crozier, com o objetivo de conquistar a passagem do noroeste no Ártico canadense. A expedição fracassa, pois ambos os navios ficaram presos no gelo por mais de um ano no Estreito de Victoria, perto da Ilha do Rei Guilherme. Todos os tripulantes morreram ao tentarem fugir para o Canadá, por hipotermia, fome, doenças e envenenamento por chumbo. Anos depois, foram encontrados os corpos de dois homens com marcas de corte que sugerem canibalismo.

Nessa premissa a referência ao mar e à água trespassa todo o álbum, começando com I Festgefrorenm, trazendo o rangido das madeiras de um navio, o vento cortante do inverno e melodias de guitarra sombrias e vocais arrepiantes. uma gravação antiga de Rule Britannia surge antes da música recomeçar e ficar ainda mais turbulenta e escura. II Wahnrationen mantém uma atmosfera intensa, sombria e assombrosa com camadas de riffs e um eco solitário de um sinal de sonar que não detecta nenhum sinal de vida, reforçando o desespero e a agonia de se estar preso no meio do frio oceânico, para continuar com uma linha de violão melancólica e macabra. III In Perpetuum é desesperadora, como uma ode ao sofrimento e a certeza de que se está aprisionado no meio de um deserto aquático e gelado, mantendo o clima do que veio antes.

IIII Ultima Ratio é um argumento jurídico o qual se recorre à lei penal quando se esgotam todas as outras tentativas de se resolver um conflito e no contexto desse disco se traduz como a sensação sinistra e assustadora de homens famintos e sedentos, representado como uma música rápida, ríspida, potente. IIIII Exodus em seus oito minutos traz uma música tétrica, pesada, com riffs e bateria marcantes e fortes influências de heavy metal. O álbum fecha com IIIIII 68° 15′ N 98° 45′ W – 68° 54′ N 98° 56′ W, que possivelmente é a localização dos navios que ficaram presos e retoma o sonar que está em busca de ajuda ou de pessoas próximas que possam tirá-los de lá e, também, é uma puxada de freio no que a banda vem fazendo ao longo desse trabalho.

No geral, é um bom disco. As minhas ressalvas ficam para uma falta de variedade nas próprias músicas, a despeito de terem diversas influências, elas soam parecidas em alguns pontos. Vejo um excelente disco feito por excelentes músicos com ideias muito boas que poderiam ter ido mais longe. É um disco que fica mais interessante nas faixas finais, mas que precisa sair um pouco dos clichês do próprio black metal e buscar uma voz diferente.

Contudo, é um grupo promissor, destes que com certeza lançarão muita coisa legal daqui em diante.