Qual é o limite do rock? E o que fazer quando ele não é mais suficiente?
Dentro da história da música moderna existe uma máxima: todo o estilo, quando chega num determinado ponto, satura-se e pede uma ruptura, uma mudança. Deste jeito foi com o punk, que gerou o post-punk, foi com o industrial, gerando todo um movimento pós-industrial (neofolk, noise, power electronics, ebm etc.). E quando o próprio rock satura a si mesmo? É aí que entra o post-rock.
Precursores
Na década de 60 o grupo Velvet Underground começava a experimentar usando a música drone, que consiste no alongamento de uma nota até o limite possível ao instrumento musical. Em seguida temos o experimentalismo do krautrock, com sonoridades extremamente experimentais, distantes do que o pessoal do rock progressivo fazia. Este, aliás, cada vez mais se aproximava da música clássica, com composições que beiravam o erudito e influências barrocas e românticas no som.
O shoegaze também traz uma importante contribuição, com suas melodias mais “etéreas” e introspectivas e o uso de “Walls of Sounds”, como podemos perceber em grupos como os japoneses do Mono. Esse estilo, derivado por sua vez do dream pop, vai contribuir ainda mais com a salada experimental do post-rock. Grupos como Talk Talk, Cocteau Twins, My Bloody Valentine, entre outros, marcaram e influenciaram bastante na concepção musical do estilo.
O rock progressivo também traria alguns elementos, sobretudo os ramos mais experimentais (como o Rock in Opposition) e parte dos flertes com a música erudita e experimental.
O termo ganhou nome no ano de 1994, quando o jornalista Simon Reynolds usou o nome “post-rock” na edição 123 da The Wire. Ele descrevia bandas como Stereolab, Disco Inferno, Seefeel, Bark Psychosis e Pram como pertencentes a uma leva que reunia marcas de jazz, de krautrock e de música ambiente, com um som voltado ao atmosférico.
O que define o post-rock?
O grande impasse com relação ao gênero é: onde o post-rock se apoia? E por que desse nome? Vamos voltar um pouco ao Reynolds.
Ao cunhar o termo, o jornalista quis, na verdade, agrupar bandas que usavam de elementos de estilo bem próximos, sem, contudo, se pautar nos elementos sonoros. Os grupos citados na revista tinham, em comum, o uso dos mesmos instrumentos do rock mais tradicional. Só que esses instrumentos servem, no entanto, para tocar outro tipo de música. Algo que não dependa de um determinado tipo de timbre, algo que possa ser usado para gerar texturas e ter, com isso, algo diferente, podendo mesclar elementos distantes e aproximá-los por meio da técnica e do experimental, sem soar igual ao que veio antes.
Isso era uma clara oposição ao grunge, que ainda estava em alta. Era um estilo que ia contra essa rebeldia juvenil e tendia a algo mais intelectual. Era uma música para ser compreendida, não somente curtida. Era para ser sentida e interpretada.
Isto que em princípio define o post-rock: uma postura e uma sonoridade multi-influenciada. Ele aprendeu com outros estilos (como o jazz, o hip-hop e até mesmo o dub) uma coisa chamada “sampling”. Por meio do uso da música eletrônica, poderiam construir seu som e levar a experiência a algo diferente, a algo novo.
Assim como outros estilos, vai existir uma diferença muito grande entre as bandas dos Estados Unidos e as da Inglaterra. As primeiras tendem a ter seu experimentalismo mais calcado em ritmos eletrônicos e com os pés mais no rock, enquanto na Inglaterra, pelo seu extenso passado musical, vai absorver influências do industrial e do noise, sobretudo do noise rock. Vão incorporar o barulho e a dissonância na criação de sua sonoridade.
Um traço herdado do Brian Eno e outros artistas do gênero é o minimalismo. O uso de drones e acordes, além das diversas repetições ao longo da música.
O largo emprego de pedais de distorção e de música eletrônica ambiente marcam as melodias, quase sempre desprovidas de vocal. A voz se torna menos importante que os outros instrumentos ou que a música em si, mostrando uma faceta que vai contra os preceitos do próprio rock. Grupos como Sigúr Rós usam de vocais em algumas músicas, mas de uma forma bem diferente das bandas de rock convencionais.
O IDM (intelligent dance music), na qual tem seu grande nome na figura do Aphex Twin, vai trazer um experimentalismo dentro do techno que o post-rock vai incorporar. Esqueça o ruído branco ou o dance de bandas como o Rammstein incorporam: pense em sons que são basicamente texturas eletrônicas que vão acompanhar as guitarras, sons que se integram ao instrumental e não somente servindo de “fundo”. Isso significa que dentro dessa concepção de rock, os sons são levados a uma integração, onde tudo dentro da melodia se torna extremamente importante.
Post rock bands: o som definido por elas mesmas
Certo, mas o que ouvir dentro desse estilo? A resposta não seria nada fácil, uma vez que hoje temos diversas bandas, que vão usar elementos de música eletrônica, jazz, trip-hop, post-punk, música folclórica etc.
Um grupo que tem ganhado muita notoriedade é o Mono, do Japão. Além deles, temos o Godspeed You! Black Emperor, que abusa do experimentalismo, ainda mais do que é possível dentro do estilo. Mogwai é um dos pilares do post-rock, ajudando a defini-lo e a consolidá-lo como estilo.
E o metal também absorve um pouco desse gênero, criando o que alguns críticos chamam de post-metal. Na verdade esse rótulo serve para grupos que fazem sons fora do usual e que ainda não podem ser encaixados totalmente num novo “estilo” ou num estilo existente. Temos nisso o Kayo Dot, que usa das melodias experimentais e drones em suas composições, assim como o Jesu. Essas são bandas muito distantes do comercialismo que os outros estilos do metal abraçam até hoje, tendo um público mais intelectualizado, que consegue compreender suas músicas.
Uma maneira também interessante de conhecer o estilo é pelo netlabel brasileiro Sinewave. Além de ser um local com inímeras bandas para download, ele é quase que dedicado exclusivamente para a divulgação do post-rock nacional e contando com excelentes compilações.