Aaron Stainthorpe, conhecido como vocalista da banda de Doom Metal My Dying Bride, concedeu ao Groundcast uma entrevista, onde falou de suas influências, carreira musical e admiração pelo Brasil.
Groundcast: Inicialmente agradecemos a entrevista, pois somos grandes fãs da banda e é uma grande honra para nós entrevistar um dos mestres do Doom Metal. Para começar, você poderia nos falar do começo de sua carreira musical?
Aaron: Voltamos para os anos 90 quando o My Dying Bride foi formado e esta é a única carreira musical que tenho tido – nunca estive em outra banda. Nós a formamos porque queríamos expressar nossos sentimentos através do Heavy metal em nosso próprio estilo, e digo que temos sido bem sucedidos por esses 21 anos de carreira.
GC: O que significa o nome My Dying Bride? Existe alguma razão em particular para a banda ter esse nome?
Aaron: Não, apenas queríamos um nome que representasse o sentimento de tristeza e melancolia de nossos pensamentos. É um nome muito triste com paixão e tragédia – assim como nossas músicas.
GC: E como veio o interesse no Doom Metal?
Aaron: Eu escutei muita coisa do metal nos anos 80 e estava feliz com isso, então era exposto ao doom na forma do Hellhammer em um clube noturno local, e quando percebi que eu era viciado nisso eu comecei a procurar por bandas de doom metal. Mas não é exclusivamente doom – Gosto de todos os tipos de música e isto era o mais importante para nós, variar o que nós fazemos e não simplesmente nos concentrar em um único gênero.
GC: Na época do lançamento do primeiro disco, “As the Flowers Withers”, em 1992, foi praticamente o começo do Doom Metal. Você, junto com Anathema, Katatonia e Paradise Lost, criaram o gênero que conhecemos hoje, diferente do Candlemass. Como você se sente sendo parte desta história do Heavy Metal?
Aaron: Tenho muito orgulho de nossa contribuição para a cena e é muito bom saber que muitos fãs nos apoiam e ainda estão conosco desde o começo.
GC: Ainda no primeiro disco, podemos ver uma clara influência de Death Metal, que lentamente foi se desvanecendo. Esse processo foi calculado? Como isto aconteceu?
Aaron: Nós sempre amamos o lado mais brutal do metal tanto quanto Doom e é por isso que nós conseguimos transitar entre os dois gêneros com muita facilidade, com isto alguns lançamentos soam mais Death Metal e outros mais Doom Metal. Nós não temos feito muito Death Metal recentemente por que nós queremos nos focar em uma visão sobre a vida e a morte, o que é um pouco complicado de se fazer no Death Metal, no entanto, lançaremos “The Barghest O’ Whitby” em Novembro que é um pouco brutal (e bonita) mostrando que não viramos as costas para nosso lado mais brutal.
GC: Quais são as suas influências?
Aaron: No começo era Candlemass, Celtic Frost, Slayer e Bathory e mais recentemente música clássica e opera, juntamente com Nick Cave e Ludovico Einaudi, mas eu escuto de tudo – exceto Jazz!
GC: As influências de literatura são muito presentes nas músicas do My Dying Bride, inclusive no primeiro disco que temos a música “Erotic Literature” que mostra uma clara influência de Marquês de Sade. Como a literatura influencia no que escreve para as músicas?
Aaron: Literatura é algo vital em nossas músicas e esse é o motivo que eu escrevo e não toco nenhum instrumento. Eu sou fascinado por literatura desde a minha infância e quando a banda começou eu sabia que existia uma lacuna a ser preenchida, algo que não tivesse derramamento de sangue como a maioria das bandas escrevia na época. Nos confortavelmente escrevemos sobre paixão, religião, amor, tragédia e miséria e mostramos isso com nosso estilo especial, que a meu ver, funciona muito bem.
GC: Na comunidade brasileira do My Dying Bride (no Orkut), existe uma suspeita de que tem um poema escondido no álbum Evinta, juntando todos os títulos das faixas. Isto seria verdade ou apenas uma coincidência?
Aaron: Talvez seja verdade – e talvez não… (nota de tradução: quando Aaron respondeu essa questão ele usou um jogo de palavras, no original a resposta foi “Perhaps it’s true – and maybe it is not…”).
GC: Falando sobre Evinta, isto foi uma mudança radical na sonoridade do My Dying Bride, fazendo uma reinterpretação neoclássica de suas músicas. De onde surgiu a ideia de fazer esse trabalho?
Aaron: Tínhamos pensado em fazer interpretações clássicas de nosso trabalho há muitos anos, mas nunca tivemos tempo de fazê-lo, exceto no verão de 2010, quando escutamos todas as nossas músicas, pegamos nossos melhores momentos e trabalhamos com músicos clássicos para dar vida a esta ideia. Seria muito mais fácil apenas cobrir nossas músicas com orquestrações, contudo nós queríamos reconstrui-las. É um processo que funciona muito bem com música clássica, especialmente com vocais líricos feminos. O projeto inteiro é magnificantemente bonito.
GC: Evinta é um dos álbuns mais bonitos que eu já ouvi, escapando totalmente do clichê que o metal tem passado. Mas a reação de boa parte dos fãs foi um tanto quanto negativo. Qual a sua opinião pelo fato da nova sonoridade não ter agradado tanto?
Aaron: Bem, falamos para todos que isto seria mais como um “projeto” do que um CD regular do My Dying Bride e foi um grande sucesso. Olhando no fórum oficial do My Dying Bride, pude ver que muitos fãs amaram isso. E nós falamos para todos que o novo CD “metal” viria após este, ou seja, não foi nenhuma surpresa algumas críticas.
GC: Outro álbum muito controverso foi o “34,788%…Complete”, que incluiu uma música com um lado mais eletrônico e mais rock, diferente de qualquer álbum. Hoje em dia é um álbum bastante aclamado, o que mostra que a mentalidade dos fãs mudou. O que você tem a dizer sobre a repercussão deste álbum?
Aaron: Foi muito ousado na época, mas nós queríamos seguir adiante com isto. Na verdade, aquele CD não é diferente dos outros. Se nós colocarmos uma capa mais Doom e trocarmos o nome e removermos a música “Heroin Chic”, então ele seria um CD normal do My Dying Bride. Ele foi um pouco controverso na época, mas com o tempo os fãs adoraram, mas ainda assim foi um choque na época de seu lançamento. Até hoje nos orgulhamos dele.
GC: As bandas que começaram o estilo Doom Metal com vocês mudaram radicalmente de sonoridade. Anathema foi para o caminho do progressive rock, Katatonia também rumou para outro gênero e o Paradise Lost tem um lado mais gótico/eletrônico. O que você pensa sobre isso?
Aaron: Estes artistas são muito corajosos por pensarem e seguirem sua música dessa for e eu realmente os admiro por isso, para que assim possam cobrir um publico mais amplo, isto algumas vezes funciona e algumas vezes não. Nós flexionamos nossas asas de forma mais criativa e diversificada no álbum “34,788%%… Complete” e estávamos felizes com aquilo, mas não gosto da ideia de seguir com o My Dying Bride dessa maneira, então nós voltamos para algo mais Death/Doom/Gothic que a cena tinha e fizemos da nossa maneira, explorando cada possibilidade e diversidade que esses estilos podem nos oferecem, mantendo a abordagem nova e original.
GC: E qual a razão do My Dying Bride se focar mais no Heavy Metal?
Aaron: Nós gostamos disso e posso-lhe dizer que o Heavy Metal é grande o suficiente para explorarmos por muitos anos. Quando começar a ficar chato, ai nós veremos o que podemos fazer.
GC: Algo que é bastante evidente nos trabalhos do My Dying Bride é a constante mudança. Onde cada álbum soa diferente um do outro e ainda assim mantém a essência do My Dying Bride. Como essa mudança ocorre?
Aaron: Nós crescemos como nossa música. Isto nos envolve. Quando nossas vidas mudam, nossa música muda. Nós não desejaríamos simplesmente gravar a mesma coisa para sempre.
GC: O que você pensa da cena Heavy Metal atual?
Aaron: É muito ampla e extensa, bem diversificada e tem estilos para agradar a todos, o que é uma coisa boa.
GC: Você conhece alguma banda do Brasil?
Aaron: Voltando ao final dos anos 80, mas não muito antes disso, embora eu também goste do Libra, que por ventura eu gravei alguns vocais para o LP “Até que a morte não Separe” e foi grandioso. É algo muito cativante e uma mudança agradável em todo Doom Metal que eu estava acostumado a ouvir.
GC: Nós estamos na era tecnológica, onde pessoas pegam músicas ilegalmente na internet e de forma simples. O que você pensa sobre isso, mesmo sabendo que países como o Brasil não tem acesso a todos os lançamentos do My Dying Bride ou quando muitas vezes o têm os preços são abusivos?
Aaron: Nós temos uma boa distribuição do nosso material no Brasil, então acredito que seja acessível para maioria. Baixar músicas ilegalmente vai acabar com a música e matar as bandas, pois isto é o mesmo que roubo. Não podemos fazer nada a respeito disso, pois é maior do que nós, maior do que pensávamos que fosse e não se pode parar a tecnologia. Gravar um álbum custa em torno de R$55.168 (nota: preço convertido Libras – Real, no original £20,000) e fora toda parte de marketing e propaganda que é muito cara, então se esse dinheiro não retorna para nós, não podemos gravar o próximo álbum.
GC: O Doom Metal é um estilo que tem inúmeras influências, sem perder sua essência. Há bandas como o Sunn O))), com seu estilo característico (adicionando Noise music), e também o Cathedral, que tem uma pegada mais Stoner Rock. Esta segmentação é positiva? Por que?
Aaron: Com certeza é positiva, pois isto expande o gênero “metal” e o transforma em novos gêneros, o que é positivo, pois pode ser ouvido por mais pessoas. Algumas me perguntam o que penso sobre bandas como Evanesence e digo que é grandioso, porque pegam o rock e misturam com o pop, fazendo com que os grupos peguem o nicho do mercado pop e, com isso, o rock será mais explorado e talvez essas pessoas possam descobrir o My Dying Bride e ampliar seu gosto musical. Variedade é o tempero da vida.
GC: My Dying Bride nunca tocou no Brasil, vocês já tiveram convites para tocar por aqui? Podemos esperar por vocês em uma turnê na América do Sul?
Aaron: Tentamos tocar por ai há muitos anos, mas por alguma razão estranha isso nunca acontece, porém vamos tentar corrigir isso, pois morremos de vontade de tocar no Brasil para os nossos fãs. Tocamos no México em janeiro, então acredito que não demore muito para que passemos por seu país em breve. Temos um excelente público no Brasil, que sempre nos apoiou e deu todo suporte que uma banda mereça ter. Trabalharemos duro para que isto aconteça.
GC: Recentemente o My Dying Bride anunciou um novo EP (The Barghest O’ Whitby). O que nós podemos esperar dele? Eu li recentemente que seria algo épico e profundo. Você pode nos falar sobre ele ou será uma surpresa?
Aaron: “The Barghest O’ Whitby” terá 27 minutos e falará sobre o rondar noturno de um cão preto pelos mouros de Yorkshire até a pequena cidade pesqueira de Whitby. O cão não mata sua vitímas ao acaso, elas são escolhidas cuidadosamente em um ato de vingança, a real razão para isto será reveladada no site do My Dying Bride em janeiro – um mistério agradável, algo como o conto de Sherlock Holmes “O cão dos Baskervilles”. Este EP terá apenas esta faixa e deixará todos felizes até o lançamento de nosso próximo álbum, que pretendemos gravar em dezembro e lançar em março de 2012.
GC: Obrigado pela entrevista Aaron. Agora o espaço é seu para deixar uma mensagem para seus fãs no Brasil e para os leitores do Groundcast.
Aaron: Nós faremos nosso melhor para tocar em seu país e nos países vizinhos, que sempre nos apoiaram e deram forças desde o início do My Dying Bride. Temos que pagá-los de alguma forma e então que seja com um show matador. Continuem esperançosos.
Aaron
parabens pela entrevista.
Otima entrevista !!!!