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Bendida (que tem um nome bem engraçado para falantes de português) vem lá Bulgária, local que eu, pessoalmente, conheço mais por bandas como Voyvoda e AntiSapiens (que nem existe mais). Acho muito legal saber que por lá existe uma cena metal bastante interessante e batemos um papo com Kremena Nikolova, vocalista e também designer dessa banda, que também poderia ser chamada de mini-orquestra.
[Foto por Mihail Tsveov]
Devo confessar que a Bulgária é o último país que penso quando me lembro da cena metal. Mas o Bendida me surpreendeu de modo bem positivo. Para começarmos esta entrevista, poderia nos contar um pouco sobre a história da banda? O que significa Bendida?
Olá, fico feliz que nosso novo álbum tenha sido a razão para você conhecer um pouco mais da cena daqui da Bulgária. Bendida é o nome da antiga Deusa da Lua – a poderosa Deusa da Trácia, descrita como “a bela, a bela e atenciosa, a guardiã da Natureza e dos animais”.
A banda foi fundada por Vinnie Atanasov em 2008. Ele é o compositor, o guitarrista, além de tocar tambura (instrumento de cordas tradicional búlgaro), responsável pelos vocais masculinos e algumas partes do coral /, todas as letras, arranjos, melodias vocais e orquestrações. Soa como uma banda de um homem só, mas na verdade somos uma grande banda com oito integrantes, muitas vezes combinados com todo um coro acadêmico.
Em nossa família musical somos: Kremena Nikolova: vocalista, estilista e designer gráfico; Vinnie Atanasov: guitarrista, vocalista, compositor, letrista e arranjador; Velislav Kazakov: nossa “bateria eletrônica”; Viara Grancharova: violista, que toca viola da gamba; Alexander Panayotov: baixista; Bisera Dimitrova: violinista; Ralitsa Georgieva: pianista, tecladista e vocalista; Plamen Dimitrov: trompetista e o coral acadêmico, formado por Sveta Paraskeva, com direção de Galina Lukanova. Contamos com essas pessoas bonitas como uma parte especial da família Bendida.
Juntos, criamos nosso mundo de Fantasy Metal cheio de lendas, criaturas místicas e histórias sobre deuses, reis e princesas esquecidos. Algumas das nossas músicas são inspiradas na fantasia e na ficção, literária e histórica.
A gente tem dois discos lançados, além de dois singles. Conseguimos lançar nosso novo álbum – “First of the Heroes” no início de 2020 e já temos várias novas composições para o terceiro futuro novo álbum. Temos também uma presença bastante ativa no palco do metal búlgaro, especialmente durante os últimos sete anos, desde que apareci na banda como vocalista.
Gosto de metal sinfônico, mas algumas dessas bandas não são as minhas favoritas.
Mas a sua me soa mais interessante, pois vocês misturam música clássica com metal, no lugar de usá-la como “pano de fundo” e, claro, não é apenas um power metal com violinos.
Como vocês se encontraram musicalmente?
Bom, “power metal com violinos” eu respeito essa bela combinação e não gostaria de subestimá-la. Claro que tentamos criar algo novo, algo nunca ouvido antes e ficamos longe de qualquer tipo de clichê.
E sim, nossa música mistura um monte de coisas. Temos uma bateria bem forte e uma rítmica complicada, muitas vezes influenciados pelo nosso folclore tradicional búlgaro. As partes sinfônicas vem das ricas orquestrações de nossos músicos talentosos. São todos músicos clássicos profissionais, formados na National Academy of Music e com grande experiência, alguns atuando na National Opera, Sofia Brass Orchestra e etc.… Trabalhar com pessoas e músicos tão adoráveis é um verdadeiro prazer, pois estão sempre em busca da perfeição.
Como você classifica o estilo do Bendida? Algumas vezes soa como power metal sinfônico, mas tem um monte de partes de metal neoclássico, outras de black metal melódico… Descrevemos nossa música como Fantasy Metal e algumas pessoas não sabem o que é, de fato… Por isso que adicionamos o rótulo “Symphonic fantasy metal”. Se dependesse da gente, não colocaríamos “moldes e rótulos” em nossa música com descrições tão rígidas porque, como você mencionou, adoramos colocar elementos de diferentes gêneros e combiná-los do nosso jeito.
Quão importante é a música clássica e o folclore local no som de vocês?
São extremamente importantes e nós os usamos como a nossa “marca registrada” em nossa interpretação.
Percebi que você tem mais mulheres na banda, não só como cantoras, mas tocando outros instrumentos.
Para mim é importante porque abre espaço para uma participação feminina maior.
O quanto é importante para você ter uma banda por homens e mulheres?
Sim, temos metade das integrantes mulheres na banda agora. Bendida foi planejada pelo Vinnie para ser uma banda do tipo “female-fronted” desde o começo. O resto das damas vieram como um bônus não-esperado de flores em nosso mágico jardim do metal. Somos mais coloridas como um time misto e eu gosto muito muito disto!
Quais as influências de vocês para compor as músicas?
Nosso letrista Vinnie é apaixonado por mitologia, ficção científica e literatura histórica. Juntos, compartilhamos a ideia de que coisas bonitas como tradições, lendas e mitologia antiga, tesouros espirituais e mágicos estão desaparecendo neste mundo moderno de pessoas materiais, máquinas e tecnologias de ponta. Alguém tem que manter as lendas e tradições vivas.
O que acontecerá quando não existir mais alimento para a alma? Quando a música, a arte e os contos de fadas desaparecerem? A imaginação vai morrer de fome, humanos serão apenas robôs. Ninguém lembrará de suas raízes, pois robôs não têm raízes, por serem criados em fábricas. Nossa banda tem uma máquina do tempo da fantasia, quem sabe, talvez em algum álbum futuro, a gente não planeje dar uma volta no futuro? Ainda sim espero que encontremos humanos, não robôs.
Como foi trabalhar com a Janika Groß? Amo Haggard e, para mim, ela é uma das vozes mais belas e fortes da cena.
Trabalhar com a bela Janika foi uma experiência maravilhosa. Ela é muito profissional e ficamos felizes de ter a voz dela em nossa Vampires’ Ball.
A gente ama muito ela. Curiosos podem ouvir o resultado de nossa colaboração no nosso canal no YouTube. Fiz um lyric video muito bonito e nesta canção também ouvimos o coral maravilhoso de Sveta Paraskeva. Janika gravou suas partes na Alemanha e o registro do instrumental. As minhas foram feitas aqui na Bulgária por Vladimir Bochev – talentoso multi-músico e engenheiro de som – o chefe do “Zero Project Studio”.
Uma pergunta bem desconfortável: como a COVID-19 te afeta?
Você acha que o mundo irá mudar após a pandemia?
Sim e é uma questão muito triste e importante ao mesmo tempo. Um monte de pessoas decidiu mudar de carreira. Todo o setor de música, artes, teatro … tudo na esfera das apresentações ao vivo para o público atingiu o fundo do poço. Muitas casas de rock, assim como clubes, desapareceram. A vida e as pessoas não serão mais as mesmas e ainda não sabemos como resolver essa questão complicada.
Fizemos a promoção do nosso álbum em outro país um dia antes deles fecharem as fronteiras. Tudo que tínhamos planejado foi por água abaixo. O pessoal de fora começou a encomendar nosso álbum, mas os correios ficaram fechados por vários meses, então até as vendas online eram uma “missão impossível”. O bom é que conseguimos lançar nosso novo vídeo e promovê-lo com uma pequena apresentação ao vivo em uma casa de shows.
Continuando a pergunta anterior, e as lives? Qual sua opinião sobre músicos que se apresentam em lives no Instagram, Facebook, YouTube? Aqui é um pouco comum para artistas mais famosos.
Todos buscam formas alternativas para manter o contato com seu público. O meio online era a única forma possível e, sim, as lives caseiras se tornaram muito populares, até fizemos dois deles em respeito aos nossos fãs.
Como um site brasileiro, a gente sempre pergunta de bandas daqui.
Você conhece alguma?
Quais você curte?
As minhas bandas favoritas são Sepultura, Soulfly e Angra e outras que ouvi falar recentemente foram a banda de metal sinfônico Lyria e as damas do thrash metal Nervosa, que ficaram muito populares recentemente após alguns shows aqui. Elas são em parte daí do Brasil, pelo que me lembro.
Eu gostaria de agradecer pelo seu tempo e paciência.
Então deixe uma mensagem para os nossos fãs.
Este é o seu espaço.
Quero te agradecer também, foi um prazer. Desejo boa saúde para ti e para os leitores do Groundcast. Gostaria de convidar todos os fãs de metal melódico para entrarem no nosso mundo de fantasia. Você pode encontrar a chave, use sua imaginação! Muito obrigada.
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