O que define o Trip Hop?

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Certamente existem estilos que, a despeito de sua facilidade em fazer parte do mainstream, consegue, conseguem manter um bom padrão em termos de qualidade e identidade. Nestes estilos, um dos grandes destaques é, sem dúvidas, o Trip Hop.

Graças a ele que o nome trip hop pegou na mídia
Graças a ele que o nome trip hop pegou na mídia

Nos últimos anos temos sentido uma avalanche de ritmos popularizados ou massificados ao extremo. O pop, em cada geração, absorver diversos estilos diferentes para compor sua identidade naquele momento. O rock, como produto do mainstream, encontra uma grande dificuldade de se reinventar. Isto é claro em saturações como a de bandas antigas lançando discos cada vez mais medíocres e grupos novos escravos de seus fãs, dependentes da aceitação de seus trabalhos pela mídia.

Não é o que acontece no meio do trip hop. Este é um gênero pouco desgastado pela indústria cultural e, mesmo sofrendo com a massificação intensa e seus ecos em outros grupos e trabalhos, ainda soa original o bastante para ser descoberto e redescoberto a cada instante.

Existem inúmeros trabalhos influenciados pelo trip hop, indo desde o darkwave ao rock, todos eles demonstrando o quão rico este estilo pode ser e até onde vai o seu experimentalismo, sem perder o seu lugar no cenário pop. Então vamos conhecer o que é, como ele se estrutura e, acima de tudo, como o trip hop ainda está presente em muitas das coisas que ouvimos.

O começo e os precursores

massive_attackInicialmente, trip hop é um gênero derivado do acid house, que possuía linhas mais repetitivas de música, com ritmos mais hipnóticos e influenciado na concepção de gêneros como New Beat, acid techno, acid trance, goa trance, psychedelic trance, rave, trance e electro house.

O estilo trip hop pertence a família de gêneros eletrônicos conhecida como downtempo, gênero de batidas lentas e um ritmo mais devagar, com influências de música eletrônica, ambient, chillout, groove music, jazz, funk, dub e hip hop. Estas mesmas influências vão aparecer no trip hop de maneira bastante marcante, tornando sua musicalidade bastante rica e diversificada.

O gênero então surge deste lado mais experimental do acid house e do downtempo, explorando uma nuance de um ritmo conhecido como o breakbeat, fruto de gêneros como hip-hop, funk e electro, consistindo em fazer uma técnica de back-to-back, tocando dois discos iguais e um mixer. Isto criou toda uma cultura nos anos 80 e gerou o electro, mais  tarde absorvido por estilos como o industrial (criando o electro-industrial) e o rock (criando o electro-rock). Neste momento, surgia no Reino Unido, sobretudo na cidade inglesa de  Bristol algo novo, sem um nome definido e altamente contagiante.

O nome trip-hop foi utilizado pela imprensa em 1989 e reaparece em 1994 para definir o estilo musical do  DJ Shadow. Segundo o dicionário Merriam-Webster, o termo se origina da fusão da palavra trip, que significa viagem, sendo uma clara alusão a viagem feita por meio de drogas psicodélicas e a palavra hop, vinda do hip-hop. Isto é, de certo modo, uma demonstração de como a cena inglesa do hip-hop estava transformando e modificando um estilo que já veio com fortes bases jamaicanas.

O grande precursor do gênero foi, sem dúvidas, o grupo inglês Massive Attack. O grupo começou quando os DJs Daddy G e Andrew Vowles mais o grafiteiro e rapper Robert Del Naja conheceram o grupo The Wild Bunch, um dos grandes nomes da cena hip hop inglesa, consistindo de diversos DJs e produtores musicais, juntos para produzirem músicas como um único artista. Deste encontro começaram a produzir música independente e, mais tarde, consolidaram o Massive Attack como um grupo que misturava hip hop, rock experimental, dub e muitos outros gêneros. Além disto, o trabalho do grupo Mark Stewart & The Maffia também deu uma cara do que viria a ser chamado de trip-hop.

portisheadO seu surgimento oficial, contudo, começou mesmo em  1993, em associação com selos como Mo’Wax, Ninja Tune, Cup of Tea e Wall of Sound, grandes divulgadores do novo estilo. Foi nesta época que o gênero teve o seu grande começo, com o lançamento do primeiro disco do Massive Attack, Blue Lines, em 1991, um grande sucesso no Reino Unido.

O ano de 1994 culmina com o apogeu do gênero e o lançamento do primeiro disco do Portisehad, Dummy. O grupo divergia do Massive Attack por tomar referências nas trilhas sonoras de filmes das décadas de 1960 e 1970, compartilhando o estilo mais “jazzístico” do começo da carreira do grupo de Bristol. Este lançamento projetou o trip-hop para o mundo, ganhando aceitação da grande mídia. Trazia um som com aspecto mais “noir”, sendo mais melancólico, triste e depressivo.

Um ano depois o artista conhecido como Tricky lança o disco Maxinquaye. Era um trabalho de gangsta rap com vocais sussurrados e ritmos mais lentos, numa levada com fortes traços de breakbeat. Este recurso deu uma cara mais “lounge” ao som do rapper, mesclando também sons dissonantes (sobretudo de vozes), rock e outros. Não era um disco de trip-hop propriamente dito, mas sua sonoridade era bem próxima do que viria a ser o trip-hop depois deste período.

A era do post-trip hop

O trabalho da cena inglesa foi continuado no que poderia ser chamado de “post” trip hop. Neste momento os grupos começaram a buscar influências em outros gêneros, tornando-o ainda mais experimental, incluindo ambient, soul, IDM, industrial, atmospheric drum ‘n’ bass/jungle, liquid dubstep, breakbeat, drum ‘n’ bass, acid jazz e new age. Isto levou o gênero a esferas mais distantes, atingindo desde o pop mais mainstream ao gênero mais underground, abraçando, absorvendo e modificando estas sonoridades, criando um hibrido muito mais forte e coeso.

Passamos a ter aqui o gênero não mais como um grupo de bandas, mas sim uma estética sonora aliada a outras, sem abrir mão do experimentalismo. E muitos trabalhos começaram a surgir neste caminho, muitos dos quais pegaram elementos do gênero para dar uma sonoridade muito mais “ambiente” e “lounge”.

Quem foi influenciado, afinal de contas?

Pensou que o The Gathering ia dar as caras aqui?
Pensou que o The Gathering ia dar as caras aqui?

Após o grande boom do trip-hop, muitos gêneros pegaram emprestadas influências, criando fusões com o pop, darkwave, rock e até mesmo metal. Vamos analisar alguns trabalhos onde existe a presença desta forma de fazer música.

Os grupos Gorillaz, Emancipator, Nine Inch Nails, Radiohead, Travis, How to Destroy Angels, Beth Orton, The Flaming Lips, Bitter:Sweet, Beck, Deftones e Björk pegaram fortes influências de trip hop em seus trabalhos. Basta notar as batidas, o estilo vocal ou até mesmo o uso das próprias influências do trip hop e perceber o quão perto do mainstream o gênero ficou. Outros artistas, como a própria Madonna, Janet Jackson e a Kylie Minogue, todas artistas do meio pop, fizeram seus discos calcados nesta estética.

Dentro do darkwave surgiu o que alguns chamam de trip goth, um trocadilho para o nome do gênero. Bandas como Switchblade Symphony, Chandeen, Theodor Bastard, Collide, Tapping The Vein e outras começaram a pegar alguns elementos sonoros do trip hop. Destas, o Theodor Bastard e o Collide são os trabalhos que mais possuem mais proximidade com o trip hop, chegando, em algumas músicas, a ter sua marca darkwave apagada.

Surge também o trip rock, fusão entre o trip hop e o rock (sobretudo o rock alternativo e o post-rock). Os trabalhos do Gorillaz podem ser enquadrados neste gênero, assim como alguns discos do Portishead e do Massive Attack mais orientados ao rock. Contudo, dentro deste gênero, vale destacar os primeiros trabalhos do Antimatter e os últimos trabalhos do The Gathering, ambos fortemente influenciados pelo rock alternativo e pelo trip-hop.

E o metal, quem diria, experimentaria também um pouco do trip-hop. O grupo de doom metal The 3rd and the Mortal, nos discos In This Room (1997) e Memoirs (2002), alinhados com o chamado “avant-garde metal” coloca muito do trip-hop em suas músicas. Trond Engum, ex-membro da banda, funda o The Soundbyte, colocando ainda mais deste lado avant-garde . O grupo francês de depressive black metal Netra utiliza uma mistura interessante de rock progressivo, música ambiente, black metal e trip hop, deixando evidente a maleabilidade do gênero e ainda soando como uma banda de metal.

O legado

O trip-hop deixou um legado importante para a música. Talvez sem ser noticiado após os anos 90, ele exerce uma forma sem igual no mundo da música. Seja por influenciar artistas, seja por bandas novas que mesclam sons novos ou até mesmo pela sua estética, é certo colocar um elevado grau de importância a ele.

Um estilo chamado illbient, surgido da fusão com industrial hip hop com o dub, veio como seu filho mais novo. Ainda mais experimental, tem na figura do DJ Spooky e do Techno Animal seus maiores representantes.

Assim podemos dizer o quanto, no fim das contas, o gênero trip-hop marcou, de forma definitiva, seu lugar na história da música popular.

Sugestões de músicas (links abrem para vídeos no youtube)

Artistas de Trip-Hop: Massive Attack, Portishead, 8mm,  Lunascape, Air.

Influenciados: Gorillaz, Collide, Blue Foundation, Switchblade Symphony, Theodor Bastard, Chandeen, Antimatter, The Gathering, The Soundbyte, Bizarra Locomotiva, Netra.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.

2 Comments

  1. Adoro trip hop! Conheço o “estilo” há algum tempo e posso afirmar que nunca o tiro da minha playlist!

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