ENTREVISTA: Abske Fides

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Muito obrigado por aceitarem fazer a entrevista, é um prazer enorme para mim conduzir isto, pois a Abske Fides tem uma qualidade que se iguala e supera muitas bandas que temos por aí.

GroundCast: Para começar, como a banda surgiu?

Nihil.: Olá Fernando, agradeço o convite, o prazer é todo nosso. A Abske Fides surgiu em meados de 2003 quando um ex-integrante (Bruno Klein, a.k.a. Cokkhammer) e eu resolvemos iniciar um projeto voltado fundamentalmente para o black metal na linha de bandas como Burzum, Bethlehem, Shining, Forgotten Tomb, etc. Demos início a algumas composições, fizemos alguns ensaios e rapidamente o K. e outros membros integraram provisoriamente o projeto. Logo em seguida, o Bruno deixou o projeto e a Abske Fides, após um breve hiato, acabou virando uma dupla formada por mim e pelo K. O resultado foi uma primeira demo intitulada “Illness” lançada em 2004 de forma independente, que obteve posteriormente alguns relançamentos através de selos independentes como a extinta Misanthropic Gods Records (2005) e a Cauterized Productions (2008). Daí em diante o projeto passou por algumas mudanças na sua formação e sonoridade, mas isso já é outra parte da história…

GroundCast: Quais são as suas influências?

Nihil.:  São muitas, pois os integrantes da Abske Fides foram “criados” em diversos segmentos do metal. O K. (a.k.a. Kexo) é conhecido desde o final dos anos 90 por ter tocado em bandas de heavy metal como o Jackknife e atualmente liderar o Infamous Glory, banda de death metal paulistana, além de ter se envolvido em outros projetos como o Shall Suffer The Eclipse (black metal) e atualmente o Horns of Venus (death/grind). Já o N. (a.k.a. Necrophelinthron a.ka. Marcos Felinto) desde cedo esteve envolvido na cena hardcore, tendo tocado por muito tempo no Intifada e agora liderando o Noala, banda de sludge da capital paulista, além de também estar envolvido em diversos outros projetos como o Au Sacre Des Nuits (post-black metal), Morsa (post-rock) e Afro Hooligans (música eletrônica). Já eu desde o início dos anos 2000 estive envolvido em bandas de hardcore, thrash metal e death metal, mas atualmente me dedico apenas a Abske Fides e a Shyy, um projeto mais recente voltado para o black metal/shoegaze que conta, inclusive, com o K. e o N. Enfim, para resumir posso dizer que nossas influências abrangem os mais diversos segmentos do metal, além de outros elementos externos ao gênero.

GroundCast: Recentemente lançaram o seu primeiro álbum (full-lenght), como está sendo a aceitação do trabalho?

Nihil: A aceitação está sendo ótima! Temos recebidos muitos elogios tanto do público que acompanha a banda já há um certo tempo quanto do público mais recente. Além disso, a mídia independente tem tecido críticas positivas e os nossos CDs estão sendo bem vendidos na Europa.

GroundCast: Como vocês classificariam o som de vocês?

Nihil: Classificar é sempre um problema, mas eu diria que somos uma banda de Doom Metal.

GroundCast: Como eu disse lá em cima, a Abske Fides tem uma qualidade muito boa, qual é o segredo para ser diferente em um mercado que aparentemente já se tentou de tudo?

Nihil: Obrigado pelo elogio. A verdade é que não trabalhamos com uma fórmula, deixamos a coisa fluir muito naturalmente e acredito que a liberdade que nos permitimos para criar e experimentar com diversos elementos acaba tornando a banda, senão original, ao menos “verdadeira”, embora no final das contas eu ainda não tenha certeza até que ponto realmente somos diferentes de outras bandas.

GroundCast: Recentemente tivemos o fiasco do Metal Open Air, como vocês descrevem a “cena” brasileira musical? O que acham que deve melhorar?

Nihil: Como você bem colocou foi um verdadeiro fiasco e, além disso, uma verdadeira vergonha.

K.: A cena underground é uma mera reprodução da cena mainstream, a exemplo do que aconteceu no Metal Open Air, infelizmente. No caso do Metal Open Air, tivemos uma aula de amadorismo e descaso total com todos os envolvidos, bandas e público. No caso do underground, embora isso também aconteça na maior parte dos casos, a falta de grana e apoio é o maior problema, embora no fim das contas leve a mais ou menos o mesmo resultado, mesmo quando há muita boa vontade envolvida. Acho que no fim, sendo na crocodilagem ou não, o que falta é dinheiro, apoio e profissionalismo. Eu acho um absurdo uma cidade do tamanho e da importância cultural como São Paulo não ter casas de show de médio porte com estrutura básica necessária para um evento underground sem aluguéis abusivos.

GroundCast: O que mudou do “antigo” Abske Fides para o “novo” Abske Fides? Quais foram as melhoras que o tempo trouxe para a banda?

Nihil: Acredito que aprendemos a trabalhar melhor em conjunto, descobrimos mais ou menos como cada uma funciona, como cada um tende a criar e executar as músicas, os jeitos de arranjar e as limitações gerais, tudo isso fez parte do nosso amadurecimento e da nossa força expressiva. Quando o K. firmou-se em definitivo na banda ele mal sabia tocar bateria e eu só tinha alguns riffs soltos (não que hoje em dia isso seja muito diferente rs rs…), por isso tivemos de ir desenvolvendo tudo meio que na base da intuição, o que certamente gerou uma afinidade maior. Além disso,  desde que entrou na banda em 2007, o N. trouxe uma série de jeitos novos de criar e arranjar as músicas, além de explorar uma série de recursos de ambientação que certamente tiveram muito peso na construção dessa cara “nova” da Abske Fides.

K.: Ao mesmo tempo acho que nos encontramos melhor no doom metal, isso facilitou o nosso entrosamento e tudo se tornou muito natural.

GroundCast: Atualmente vivemos uma era onde tudo pode ser baixado gratuitamente na internet, o que vocês pensam sobre isso?

Nihil: Eu, particularmente, acho incrível, mas estou razoavelmente ciente dos prós e contras de todo esse processo. Para as bandas independentes a internet tem se mostrado o principal meio de divulgação de seus trabalhos e também o principal espaço de articulação entre bandas, selos, zines e o público. Além disso, o fato de a internet ser uma espaço relativamente “livre” possbilita que nós possamos entrar em contato com as mais diversas formas artísticas sem ter que necessariamente engolir apenas aquilo que 2 ou 3 gravadoras e seus respectivos veículos de comunicação impõem. Mas claro que a busca por toda essa diversidade e a forma como se aprecia aquilo que se encontra dentro de uma enxurrada de informações depende de cada um.

K.: Eu acho isso positivo, principalmente se as pessoas aprenderem a usar a internet e o compartilhamento livre de informações com bom senso. No caso da música, isso quer dizer a conscientização de que mesmo sendo super legal baixar um disco grátis e que falir altas gravadores é ótimo (e é mesmo! ), o músico ainda tem suas contas para pagar e dedicou-se a vida toda para aquilo. O compartilhamento livre de músicas na web não quer necessariamente dizer a morte da comercialização do objeto musical físico, mas apenas uma melhor e mais democrática distribuição dele. É só as pessoas agirem com bom senso.

GroundCast: O CD de vocês está sendo lançado pela Solitude Productions, conte-nos como apareceu o convite?

Nihil: A Solitude vinha sondando a Abske Fides desde o lançamento do EP Apart of the World pelo selo francês Ostra Records em 2006. Tivemos um bom relacionamento com os franceses, nosso material foi bem divulgado e a Abske Fides tornou-se conhecida na cena Doom internacional graças a eles. Foi nessa época que a Ostra forneceu algumas cópias do EP para a Solitude a fim de distribuir a Abske Fides no leste europeu. A procura foi grande e então surgiu o convite para a gravação de um album completo. Apesar disso, essa idéia só pode ser realizada alguns anos depois, pois eu havia me mudado de São Paulo e o projeto teve que seguir num ritmo mais lento. Nesse meio tempo, porém, lançamos um EP intitulado Disenlightment em 2009 por um selo norte-americano chamado Beneath The Fog que, apesar de eu considerar um material de boa qualidade, acabou sendo um fiasco de divulgação e distribuição. Quem sabe alguém possa se interessar em relançá-lo futuramente…

GroundCast: Quais as maiores dificuldades que vocês acreditam ter para se montar uma banda de som autoral no Brasil?

Nihil: As dificuldades são enormes. Em primeiro lugar, o Brasil está longe de ser um país com força cultural no Metal como os países escandinavos, a Alemanha ou a Inglaterra; o público é bastante restrito e na maior parte das vezes está interessada apenas nas mesmas bandas do mainstream que já estão contaminando as páginas de determinadas revistas de metal. E depois, os equipamentos são caros, os estúdios de ensaio uma fortuna, as casas de shows que abrigam bandas de metal quase inexistentes, o descaso dos promotores é generalizado, enfim todas as condições são adversas. Apesar de tudo, ainda sim acredito que o Brasil sempre possuiu e ainda possui ótimas bandas autorais. Na cena doom, mais especificamente, temos por exemplo o Mythological Cold Towers, o Hell Light e o Mito da Caverna.

GroundCast: Existe algum outro projeto ou banda que vocês gostariam de divulgar?

Nihil: Sim, segue abaixo uma lista de projetos envolvendo os membros da Abske Fides:

Shyy (blackgaze) – shyybr.bandcamp.com

Infamous Glory (death metal) – www.infamousglory.com

Noala (sludge) – www.youtube.com/watch?v=jZVvsN8L4Cs

Horns of Venus (death/grind) – www.myspace.com/hornsofvenus

Au Sacre Des Nuits (post-black metal) – www.myspace.com/ausacredesnuits

Morsa (post-rock) – www.myspace.com/morsasp

Afro Hooligans (industrial) – soundcloud.com/afro-hooligans

GroundCast: Muito obrigado pela entrevista, agora este espaço é de vocês para falar com os fãs e leitores.

Nihil: Obrigado Fernando pelo espaço. Atualmente a Abske Fides está divulgando o seu recém-lançado primeiro album intitulado Abske Fides, quem tiver interesse em adquirir o CD pode encontrar em lojas como a Relics na galeria do rock (www.relicsdiscos.com), pela internet através da Nuktmeron Productions(www.nuktemeronproductions.com.br) ou através da própria banda no email [email protected]. Para quem quiser escutar ou baixar o cd completo pode acessar: http://abskefides.bandcamp.com.


Ilustrador, designer, vocalista, artista plástico e pentelho ans horas vagas. Fã de heavy metal e outras coisinhas mais.