Estamos diante de uma das bandas da nova leva de grupos nacionais, que procuram se desvincular do tradicionalismo do nosso heavy metal. Então, para começarmos, vamos falar sobre o Instincted. Diga, como tudo começou?
Fábio Carito: Eu costumo dizer que começou em duas etapas: A primeira veio quando eu já vinha de um antigo projeto que não deu certo, mas um dos integrantes veio comigo e a segunda etapa foi quando o pessoal que está até hoje entrou na Instincted. Com a primeira formação estabilizada, o Rogério nos sugeriu seguir a nossa proposta atual.
Rogério Fergam: Eu vi um anuncio na internet procurando vocalista. Na época estava desencanado de bandas por conta da cena, mas nesse anuncio eu senti que as pessoas envolvidas estavam com mentes e ouvidos abertos. Então decidi tentar com a primeira música que eles mandaram pra mim, no caso, o que seria a futura Essential Ignorance.
O que significa o nome “Instincted” e por que o escolheram?
Fábio: Eu sempre fui interessado por Freud e sobre seus estudos em relação aos estágios da consciência humana, e dentre estes estágios, o ID sempre foi o mais instigante para mim. Achei que por adotar na Instincted uma filosofia livre de rótulos, o nome cairia bem e faria total sentido. Em uma tradução livre, Instincted seria algo como ‘cheio de instinto’.
Uma coisa notória na sonoridade da banda é a mescla com a música eletrônica. Como surgiu a ideia de fazer esta mistura?
Rogério: Eu tinha alguns projetos antes de entrar na banda e alguns deles era eletrônico puro. Quando me chamaram para a primeira reunião eu coloquei isso na mesa. Sempre o tive como influência, porém, não queria simplesmente mesclar estilos, eu queria que um completasse o outro como se o eletrônico fosse mais um instrumento literalmente, sem perder melodia para ficar só na rítmica (como muitos fazem). O pessoal no começo achou estranho mas logo se acostumaram com a ideia. Música eletrônica é feita de um ponto de vista diferente da música comum, não é somente uma questão de virtuosismo ou matemática musical, mas a criação de timbres do zero, aperfeiçoamento dos existentes ou sampleamento. Muita gente acha que é só apertar um botão, mas quem conhece acaba percebendo que o buraco é mais embaixo.
Quem são seus artistas favoritos? Quais influenciam a banda e as suas composições?
Fábio: Acho que como a maioria dos baixistas que tocam metal, Steve Harris foi uma grande influência para mim, não só em técnica, mas também em questão de timbragem e atitude. Hoje eu ainda fico com os da velha guarda, como Geddy Lee e Billy Sheehan. De uma galera mais pra cá, gosto muito do Markus Grosskopf, Lars Ratz, e o Felipe Andreoli, que é um monstro nacional.
Rogério: Adoro essa pergunta porque em cada entrevista eu cito nomes diferentes. Minha escola foi muito esquisita, meu pai era diretor de escola de samba, minha mãe adora MPB e meu irmão passou pelo sertanejo, pagode e samba. O heavy metal e os sintetizadores foram aparecendo a partir do primeiro disco que ouvi do Michael Jackson e outro do Queen quando tinha uns 9 anos. Talvez eles tenham sido meus primeiros mestres. Depois veio metal melódico (amava Kiske e Hansi Kursch), Grunge (Pearl Jam e Soundgarden mudaram muitos conceitos que eu tinha) Nu Metal (Korn, Slipknot, Linkin Park são até hoje) entre muuuuuuitas outras.
Rafael Sousa: Comecei ouvindo muito Peter Frampton e seus riffs “cabulosos”. Breaking All The Rulles foi uma das músicas que mais me marcou. Depois, como a maioria dos guitarristas, entrei para a escola Iron Maiden, Dave Murray foi um verdadeiro mestre para mim.
Atualmente tenho escutado bastante Mark Tremonti no Alter Bridge, Clint Lowery e John Connolly do Sevendust, Breaking Benjamin. A lista vai longe (risos).
Roberto Santos: Os bateristas nacionais sempre foram meus favoritos: Iggor Cavalera pela história, provavelmente é minha primeira grande influência. Fernando Schaefer pela criatividade, Aquiles Priester e Amilcar Christófaro pela técnica. E vários outros da gringa também… cada um moldou um pouquinho da minha forma de tocar, já que foram minha única escola.
Em alguns sites é possível notar que existe ainda uma crítica muito negativa ao tipo de música que vocês fazem. Qual a posição de vocês com relação a estas críticas?
Fábio: Confesso que antes me fazia mal, mas hoje procuro relevar os argumentos e colocar na balança para ver se há fundamento ou se é apenas mais um daqueles ‘haters’. Com a facilidade que a internet trouxe, hoje somos quase descartáveis, então se um ouvinte com uma escola um pouco mais tradicional ouvir uma introdução eletrônica nossa, por exemplo, nem vai querer ouvir o resto, sendo que pode pôr a perder algum riff ou refrão que lhe poderia soar bem. Tudo é uma questão de tolerância consigo mesmo.
Rogério: Uma frase que gosto de citar é “Quem faz música achando que não será criticado é porque nunca criticou a si mesmo”, só não confunda gosto musical com opinião musical, se eu não gosto de um estilo eu tento ver o valor musical, acho que é o mais sensato.
Roberto: O mais interessante é que bem ou mal estão falando da banda. Estamos cientes que nossa música não vai ser aceita logo de cara pela massa porque esses sites normalmente são voltados para o público de metal tradicional, sabemos quão difícil é quebrar essa barreira. Não nos importamos na verdade, é parte da nossa proposta ir contra a maré e ideias pré-concebidas.
Vocês acham importante o papel da mídia especializada, como os blogs e os grandes sites voltados para o público underground?
Rafael: Eu não tinha idéia da dimensão destes veículos. Aparecemos no primeiro, segundo, terceiro e assim sucessivamente. Hoje atingimos um número muito bacana em downloads e visualizações. Chegamos na Europa e EUA. Se essa mídia é importante? Com total certeza!!!
Roberto: Toda e qualquer divulgação é válida, é impressionante a quantidade de bandas novas surgindo a cada dia e a internet é o principal elo entre bandas e público.
Recentemente um fã produziu o clipe da música “Undone”. O que pensam da repercussão da banda?
Fábio: Adoramos esse tipo de coisa e vejo que é um sinal de que estamos fazendo a coisa certa, mostrando aos poucos que existe renovação no estilo. Não estamos renegando nossas influências e nunca ‘cuspiremos no prato que comemos’. Nós apenas somos um grupo de pessoas que gosta de pensar fora da caixa.
Roberto: Levando em conta que temos apenas um EP lançado e poucos shows no curriculum, diria que alcançamos muita coisa. Temos alguns fãs estrangeiros, como é o caso da galera que produziu o clipe, mas o mais importante é o reconhecimento da nossa proposta. O maior elogio que temos recebido em resenhas é que de fato estamos trazendo algo novo para o cenário musical.
Com relação à cena brasileira, como vocês a avaliam? Existe espaço para bandas novas de som autoral e que fujam dos gêneros mais tradicionais?
Fábio: Eu não tenho uma opinião muito positiva sobre isso, mas não temos escolha a não ser continuar e tentar lutar ao nosso favor. Estamos praticamente sozinhos nessa e se todas as bandas se ajudassem como é na teoria, garanto que já teríamos um cenário melhor.
Rogério: Ainda vejo muito ego e sentimentos falsos, às vezes nem o músico percebe que está fazendo algo para agradar os outros somente, o pior é quando esses “outros” são músicos também. Acredito que a cena pode sim vir a ter uma mudança, mas isso também vai depender dos “grandes” usarem o talento em prol da música como um todo, e não como uma disputa.
É possível ser músico em tempo integral ou ainda é preciso ter uma outra fonte de renda para poder manter a banda? Algum de vocês mantém um segundo emprego ou ocupação?
Fábio: Hoje é impossível. Todos nós temos o plano B.
Rogério: O plano A são os nossos sonhos, o plano B precisa existir, pois todos precisamos comer (risos).
Rafael: O sonho de toda pessoa que toca na noite é viver da música, mas a realidade é outra. São muitos investimentos para poder ter um lugar ao sol. Infelizmente de inicio não podemos viver da música.
Roberto: A banda não nos traz fonte de renda alguma ainda. Todos nós temos nossos empregos regulares, o tempo dedicado à banda é bastante curto, o que limita bastante nosso processo de criação.
Qual a sua opinião sobre o download de músicas? Não existe um consenso, sendo que os músicos mais velhos não curtem muito baixar músicas e os mais novos incentivam e muito o download.
Rogério: Concordo em partes. Quando eu tinha 15 anos eu comprava fitas K7 e ficava de casa em casa dos amigos para gravar os cds deles. Eu gosto de comprar cds ainda pois preso demais pela qualidade do som, mas claro que baixo o álbum primeiro para ter certeza do investimento que vou fazer. Os compartilhadores fazem o que eu fazia, passam para frente a gravação que eles tem, claro que com proporções muito maiores. O que eu não concordo é com a verba que se ganha as custas do artista. Hoje abrimos um desses sites e vem um milhão de propaganda na cara, alguém fatura (e muito) com isso. Os músicos mais velhos não concordam, pois eles sabiam ouvir música em suas grandes caixas e equipamentos de som, hoje o fone do Ipod ou as caixinhas do computador com o som baixado do youtube tá suficiente pra muita gente, isso pra mim é um sacrilégio!!
A indústria fonográfica hoje é importante para uma banda ou artista?
Rogério: Ela mudou muito com os anos. Lembro dos artistas produzidos do zero por ter um exuberante par de olhos ou um corpo perfeito que dublavam o show inteiro. Dessa indústria eu realmente não sinto falta. O que vejo hoje é uma estratégia de produção de shows e marketing de videoclipes na web que, no meu ponto de vista, é importante sim, pois o músico teria que pensar somente na música. Hoje em dia a indústria está dando o seu jeito de ganhar assim como alguns músicos “choramingões” deveriam fazer.
Muito bem, eu agradeço a disposição de vocês, agora deixem um recado para os nossos fãs. Manda bala.
Fábio: Obrigado pela oportunidade de espalhar um pouco a nossa proposta, e convido a todos a conferir o nosso site e ficar por dentro do que acontece. Acabamos de lançar um single no formato digital da música ‘Undone’ pela nossa nova gravadora, a Wikimetal Music e está muito bacana. Valeu!
Rogério: Obrigado ao Groundcast e a toda galera que está nos acompanhando e apoiando. O ano de 2014 promete muita coisa, fiquem ligados.
Rafael: Só tenho a agradecer a toda equipe do GroundCast. Agradecer a todos os amigos, fãs e colaboradores. E acompanhem a Instincted galera. Vem mais novidade por ai!!! Forte abraço a todos!
Roberto: Agradecemos o espaço e convidamos todo mundo para conhecer melhor a banda através do site www.instincted.com, onde temos todas as nossas redes sociais. Grande abraço a todos!