Golden Apes é uma banda alemã de gothic rock e uma das melhores bandas atualmente no gênero. Formada por Peer Lebrecht, Eric Bahrs, Christian Lebrecht, Dirk Wildenhues, Joe Finck e Gunter Büchau, com fortes influências de bandas como The Cure, Joy Division, The Psychedelic Furs, Nick Cave e Bauhaus. O vocalista Peer Lebrecht concedeu uma entrevista ao GroundCast.
GROUNDCAST: É uma grande honra entrevistá-los para o GroundCast. Para muitos aqui no Brasil a banda é um tanto quanto desconhecida, poderia nos contar um pouco sobre a história da banda?
PEER LEBRECHT: Como contar um pouco de uma história, a esta altura tão longa? Ok, vou tentar resumir um pouco. Tudo começou em 1998, quando a banda teve o seu primeiro ensaio “oficial”. Começamos como um trio (Christian [baixo], Eric [guitarra] e eu [vocal e teclado]) depois de sair e deixar diferentes bandas musicais e projetos. A ligação musical funcionou muito bem desde o início, para depois lançarmos nosso primeiro trabalho apenas alguns meses mais tarde, no início do ano de 2000 gravamos e lançamos nosso debut álbum: ” Stigma 3:am “, seguido por novos membros na banda, muitos shows e músicas, somente após o terceiro álbum que foi após sete anos que assinamos nosso primeiro contrato de gravação com uma pequena empresa na Rússia, o que nos permitiu fazer uma turnê pela Finlândia e uma pequena parte da gigante Rússia. Em 2010, lançamos ” Denying The Towers Our Words Are Falling From…”, o nosso álbum mais bem sucedido até agora, o que nos tornou possível tocar no conhecidíssimo Wave Gotik Treffen, em Leipzig (Alemanha) e em vários países europeus, como Alemanha, Áustria, Suíça e República Checa. Em 2012 lançamos o nosso último disco, chamado de “Riot”, o que nos fez gastar os últimos meses em turnê…
Então, esse foi a menor biografia que já fiz. Espero que sirva!
GROUNDCAST: Sobre o nome da banda, Golden Apes, de onde surgiu?
PEER LEBRECHT: O nome foi tirado de uma de nossas primeiras músicas, presente em nosso álbum de estreia. É um termo emprestado de Friedrich Nietzche do “E assim falou Zaratustra”. No preâmbulo do livro, Zaratustra está acusando o ser humano de ser mais parecido com macaco do que o próprio macaco, apenas uma insignificância evolutiva e leitura errada, mas, simultaneamente, o humano (com sua altivez simples de coração e cegos) está convencido de estar no topo de evolução, todos, sendo o ouro da criação. Este equívoco dualista, emparelhado com alguma ironia misantrópica é a história por trás do nome. Embora fosse um título da primeira música, percebi, enquanto escrevia as letras dos álbuns, que muito da filosofia de Nietzsche encontrou seu caminho nas palavras e nas entrelinhas e por isso decidimos usá-lo como um nome para a banda também.
GROUNDCAST: Conte-nos um pouco sobre as influencias da banda.
PEER LEBRECHT: É sempre difícil de definir todas as raízes e influencia absorvida e introduzida em nossa música, especialmente quando nossas paixões musicais são tão diferentes e extensa. Deixe-me citar bandas como The Cure, Joy Division, The Psychedelic Furs, Nick Cave e Bauhaus, que gostamos desde quando começamos a fazer música. E, apesar de nunca pretendermos soar como aquele artista ou banda, tenho certeza que você vai encontrar um monte de máscaras e citações desses “ícones” em nossas composições. Mas isso é apenas o lado “negro”, há uma série de influências que vão muito além daquelas bandas-gênero. Gunter, nosso tecladista ama a música de Erik Satie, por exemplo, ou Claude Debussy (ambos são tocadores franceses de pianos do Romantik and the Moderne.), Enquanto isso nosso baterista tem profundas raízes na música punk e jazz. Então você vê existe muito que está espalhado na tela!
GROUNDCAST: Vocês já tocaram ao lado de grandes nomes da música gótica como Cinema Strange, Ikon, Clan of Xymox, The Crüxshadows, dentre outras. Poderia nos contar qual a sensação de tocar ao lado de tais bandas.
PEER LEBRECHT: É claro que é sempre emocionante e honroso tocar com “grandes” nomes, especialmente quando você é um grande fã de seu trabalho. Assim foi com And Also The Trees, o que influenciou o nosso guitarrista Dirk muito ou Pink Turns Blue, que eu amei por anos. E é sempre uma grande experiência para perceber como “normal” e para os artistas da Terra são. Raramente tivemos a situação “Nós-somos-melhor-e-mais-importante-que-você”, principalmente erámos um par de caras se divertindo e curtindo os outros tocarem. Cinema Strange, por exemplo, tem algumas das pessoas mais agradáveis neste planeta! Assim como com o Spritual Front, que tivemos a alegria de apoiar algumas semanas atrás.
GROUNDCAST: Como vocês veem a cena gótica atual?
PEER LEBRECHT: Não tenho certeza se posso julgar isso para todo o mundo! Normalmente você vê apenas a superfície, os grandes nomes em revistas ou headliners de grandes festivais e essa visão tornou-se um pouco chata ao longo dos últimos anos. Em resposta à mudança da indústria musical (causada pela Internet e os hábitos do povo) as gravadoras e organizadores estão evitando o risco de apoiar bandas menores e recém-chegadas, confiando nos nomes conhecidos, prejudicando a variedade de estilos e gama de novos impulsos.
Você só tem que dar uma olhada no faturamento dos maiores festivais góticos aqui na Alemanha e vai ver que mais de metade dos artistas são idênticos. Isso leva a uma mercantilização, que (essa é a ironia!) faz essas bandas se tornarem obsoletas para a cena (que foi e é sempre orgulho para as bandas de origem underground). Mas há um verdadeiro underground, que é muito ativo. Muitas bandas com reivindicações idealistas e criativas, que se atrevem a entrar em território estilisticamente desconhecido, não afetado pelo comércio e lucro. E olhando em volta sinto que esta parte da cena está mais viva do que nunca. A verdade é que estou muito feliz com isso!
GROUNDCAST: Aqui no Brasil muitos tomam a cena alemã como referência, inclusive alguns a idolatram de maneira indescritível, poderia nos falar um pouco sobre ela.
PEER LEBRECHT: O fato é que a cena gótica aqui na Alemanha é uma das maiores e mais ativas ao redor do globo. Dados os benefícios da circunstância, a música gótica não é o gênero “outsider” como em outros países. Muitos clubes organizam shows e festas e muitos dos aspectos culturais foram adaptados por outros ramos, como moda, arte e cinema. Mas esta integração cultural torna a cena mais suscetível a se tornar infecciosamente comercial! Acho que a Alemanha tem o maior número de revistas impressas relacionados à cena no mundo, mas qual a utilidade em ter revistas onde sempre aparecem os mesmos artistas? Acho que a cena “visível” perdeu um pouco de suas origens, a proximidade de suas próprias raízes e de certa forma isso pode causar uma secessão, como aconteceu com aquele inefável movimento cybergoth! Mas como já disse, não tenho certeza se posso julgar isso…
GROUNDCAST: Levando em conta o atual momento que passa a cena gótica na América do Sul, onde um número considerável de bandas têm feito shows aqui, seria interessante a vocês tocar por aqui?
PEER LEBRECHT: Com certeza! Para ser honesto, ter um monte de pedidos de países como o México e o Brasil, mas o problema é: como financiar isso? Nós não temos uma gravadora grande, que poderia pagar os encargos e despesas. Temos de pagar tudo sozinhos e somos seis caras, tornando a coisa mais difícil! Mas talvez um dia possamos fazer isso acontecer…
GROUNDCAST: Quando vocês estavam em trabalho de produção do álbum anterior, “Denying The Towers Our Words Are Falling From…,” Sven Wolff deixou a banda. Essa saída chegou a interferir em algo no trabalho do grupo?
PEER LEBRECHT: É claro! Sinceramente foi um choque quando revelou seus planos de deixar a banda! Não só do ponto de vista humano, pois fez parte da banda por cerca de 10 anos depois de tudo, mas também em questão de tempo. Porque ele anunciou a sua decisão apenas algumas semanas antes de entrarmos no estúdio. Todas as músicas do álbum foram escritas e já estávamos prestes a gravá-las e, de repente, um instrumento faltava! Por conta disto eu tive que tocar muitas das faixas com teclado, em uma versão mais diferente do que pretendia.
E, claro, Sven Wolff era o dono do estúdio, nós estávamos gravando! No entanto, houve uma boa cooperação no final, mas faz diferença trabalhar com um membro da banda ou um “estranho”! Não estávamos no mesmo barco mais – foi uma situação estranha.
GROUNDCAST: Ainda sobre o “Denying The Towers Our Words Are Falling From”, existem faixas fantásticas como The Mark Of Cain/And From This Heart It Will Rise…, Song Of Innocence, The Silence (That I Call Speech), Taming A Dream. Pelos comentários que vi por parte de muitos, foi um dos melhores lançamentos do final da última década. Qual a sensação que se tem em ter um trabalho visto de tal forma?
PEER LEBRECHT: Ótimo, é claro! É algo que te faz tão orgulhoso e feliz. Quero dizer que “Denying …” levou cerca de três anos, a troco de muito sangue, suor e lágrimas e, por isso, é uma coisa satisfatória para quem fez, mas é diferente ver que as pessoas lá fora o apreciam, fazendo comentários elogiosos e feedbacks bacanas. E esta é a verdadeira recompensa – o sentimento e a certeza de que você foi entendido!
GROUNDCAST: Este ano vocês lançam o novo álbum, “Riot”, o que poderiam nos falar sobre ele? O que podemos esperar?
PEER LEBRECHT: Pra mim, “Riot” é o nosso disco mais importante e ambicioso até agora. É um álbum, que cresceu em um período marcado por uma série de mudanças e alterações em quase todos os aspectos de nossas vidas. Vieram mortes e nascimentos, perdas e ganhos, despedidas e reuniões. E não só substituímos quase a metade da banda com novos rostos, mas também mudamos de gravadora, produtor e local e as formas de gravar. Visto deste modo, “Riot” marca um fim e começo de uma luz de modo igual, o ponto final de um capítulo e a primeira letra de um novo. E acho que você pode ouvir o desassossego, buscando emocionante novas definições e direções. Depois de um longo período de tempo “Riot” foi o primeiro álbum que não tinha certeza sobre seu resultado final, curioso sobre o caminho necessário. Encontramos um monte de novos pontos de vista por tentativa e erro e tentamos muitas coisas no estúdio. Para as gravações dos vocais alugamos uma pequena casa longe da cidade, no interior do país, para a limpeza das cabeças e corações e passamos muito tempo conversando e relaxando. Era uma atmosfera muito agradável e uma experiência apetitosa, combinado com um tempo bom, cheio de criatividade e harmonia. Senti-me um pouco como fizemos o nosso primeiro álbum, então… e, essencialmente, era exatamente o que tínhamos feito!
GROUNDCAST: Sobre a distribuição de CDs, como é feita na Europa?
PEER LEBRECHT: Afmusic é uma gravadora muito pequena, com foco na distribuição por download (como o iTunes, Amazon etc), mas foi incrível perceber que você pode encontrar o nosso álbum nas maiores lojas da cidade! Portanto, estamos muito felizes com o trabalho que nossa gravadora está fazendo e quem sabe aonde isso vai levar!
GROUNDCAST: Hoje em dia é até inevitável fazer esse tipo de questão. O que pensam sobre o compartilhamento de arquivos em mp3 via internet? Isso de fato atrapalha as bandas? Em países como o Brasil, CDs de bandas underground dificilmente chegam ou, quando chegam, custam três ou quatro vezes o seu preço original.
PEER LEBRECHT: Essa é uma pergunta bem difícil. Partindo da posição em que a banda se encontra agora é mais importante que a nossa música encontre um caminho para aqueles que querem ouvi-la. Nós não gastamos muito dinheiro com ela e, por isso, não tenho nenhum problema com downloads gratuitos. Se as pessoas querem ter a nossa música, estou feliz quando encontrar uma maneira de obtê-lo, especialmente em países onde é difícil conseguir esse tipo de música. Mas é a minha opinião e não sou dependente do dinheiro [das músicas) como músicos profissionais, então não tenho nenhuma moral neste caso!
GROUNDCAST: Que bandas vocês tem ouvido e quais sugerem?
PEER LEBRECHT: No momento estou ouvindo o novo single do David Bowie, lançado terça (para minha grande alegria!). Além disto, a minha paixão atual é a música instrumental, ambiente e post-rock. Bandas como Hammock, The July Skies, Helios ou The Sight Below tocam direto em meu player nestes últimos dias. Mas também os novos álbuns do Rome, The Foreign Resort, Silent Scream e Scofferlane estão entre eles. E por alguns momentos nostálgicos há sempre uma pitada de Joy Division, Bauhaus e Psychedelic Furs.
GROUNDCAST: Conhece alguma banda brasileira?
PEER LEBRECHT: É claro! Ouço casualmente quanto parece, mas tenho uma compilação de 2009 “Substance” com um monte de grandes bandas e músicas além das mais populares como The Knutz, Scarlet Leaves e Plastique Noir. Bells of Soul, Days Are Nights, Alle Sterne Sterben ou The Silent Party – parece existir uma criatividade impressionante e emocionante lá além do grande e selvagem oceano!
GROUNDCAST: Obrigado por esta entrevista. E agora, este é o seu espaço para deixar uma mensagem a nossos leitores.
PEER LEBRECHT: É um prazer! Então, quero agradecer e cumprimentar a todos os leitores do GroundCast e expressar minha gratidão a todos vocês, que nos apoiaram até agora, por gostarem da nossa música. E como eu prometi acima – um dia esperamos ter a chance de tocar para vocês ao vivo!
Links Relacionados
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