HARTLIGHT: “Ao transformar a matéria, os seres humanos também se transformam”

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Foto: Amar Djouadou

Hartlight é uma banda fantástica, que começou como um projeto, com um primeiro trabalho inspirado pelo mangá japonês Bersek.  Tivemos um papo muito legal com Noémie Marie, responsável pela banda e vocalista. Falamos sobre alquimia, mulheres na cena metal e como a música é importante na vida.

Sei que essa é uma pergunta clichê, mas nossos leitores talvez não conheçam as bandas. Você pode falar sobre o HARTLIGHT e sobre sua formação musical?

Noémie Marie (letras, vocais): O Hartlight é um projeto idealizado por mim e Adrien D. Queríamos criar um projeto de metal que incorporasse tanto a energia sombria quanto a luminosa dos seres humanos. Lançamos duas músicas explorando nosso som, e depois lançamos um EP baseado no mangá Berserk, mas em um estilo power metal. Após nos mudarmos para a França, nosso sonho de formar uma banda se concretizou. O processo criativo mudou: eu sempre escrevia as letras, mas agora Adrien D. passou a compor a música. Isso deu à banda um novo fôlego, pois nos inspiramos mutuamente.

Em janeiro de 2024, envoltos em uma atmosfera de suspensão temporal, lançamos nosso primeiro álbum, “As Above, So Below”. As letras agora são pessoais, místicas e misteriosas. Durante o processo, Adrien Guingal se juntou e contribuiu com seus solos. Guillaume Remih substituiu nosso baterista original, Pierre d’Astora, que foi praticar alquimia no interior da França. Quanto a mim, sempre cantei e estudei técnicas vocais com Adrien D. desde que nos conhecemos. Ele me apresentou ao metal através das vozes de Bruce Dickinson, Eric Adams e Dio, e eu me apaixonei por esse gênero tão expressivo de música.

Por que você decidiu ser musicista? Não é fácil ser musicista em um mundo em que a música está mais ligada à performance do que à arte.

Noémie Marie: Sinto que é nessa área que tenho algo a conquistar. Saber música vai além de ler uma partitura: é um treinamento intelectual com um estado de espírito necessário para alcançar nossos objetivos. Tenho a necessidade e o prazer de me expressar através da minha voz, pois ela é poderosa e me permite interagir com o coração das pessoas.

O HARTLIGHT é diferente de sua outra banda, KNIGHT OF HELIOPOLIS, que entrevistei há alguns meses. Como você explica as diferenças entre essas duas bandas?

Noémie Marie: Hartlight trata de alquimia, magia e esoterismo. Adrien compõe a música com base nas minhas letras, tendo liberdade para criar um som único que transmita a emoção certa. Usamos instrumentação sinfônica, mas também incluímos riffs pesados, góticos, progressivos e alguns de djent para moldar o som do Hartlight. Já o Knights of Heliopolis é baseado em uma história que mistura fantasia e história, com música mais fiel aos estilos do power e metal sinfônico.

A alquimia não é um tema comum em bandas de heavy metal e vejo isso mais em álbuns de black e death metal. Poderia nos contar sobre seu interesse por esse tema e como ele influencia sua música?

Noémie Marie: A alquimia é uma forma de ver a natureza. Acreditamos que, ao transformar a matéria, os seres humanos também se transformam, sintonizando-se mais com quem realmente são. Esse trabalho pode levar à pedra filosofal, um material que traz mais sabedoria ao alquimista. A alquimia é central na minha vida, ajudando-me a ser mais feliz e melhor. Quero transmitir essa sabedoria, poder e beleza através da nossa música. Como mencionei, Adrien D. sublima essa jornada mágica através da sua composição.

Li em uma entrevista que você desconfia dos promotores de eventos (e digo que você está certa, tenho muitos amigos que foram enganados em situações embaraçosas porque alguns bandidos lhes deram menos do que o combinado). Isso é um grande problema aí na Suíça? Acredito que sim, porque aqui alguns promotores e casas de shows não cumprem os contratos e exigem um mínimo de ingressos vendidos se você quiser tocar em seus bares.

Noémie Marie: O metal é rejeitado por muitas pessoas que deveriam apoiar uma arte viva. Então as bandas e as casas de shows precisam fazer seus próprios acordos que podem não ser bons, como você disse, até mesmo na Suíça.

No que diz respeito aos promotores, toda banda precisa ser cuidadosa, perguntar a outras pessoas sobre possíveis golpes e se proteger contra quem se aproveita dos sonhos e da ignorância dos outros.

Sobre o metal, temos hoje muitas boas bandas surgindo do underground e a maioria delas não tem contrato porque as gravadoras não investem nelas. O que você pensa sobre isso?

Noémie Marie: O modelo de negócios para bandas iniciantes é “pague para tocar”. Porém, é ainda mais difícil se você não trabalhar com uma gravadora ou com promotores.

O objetivo de uma gravadora é ganhar dinheiro. Todo conteúdo musical disponível na internet é um oceano vermelho e as gravadoras só investirão se você já for interessante, com uma comunidade estabelecida e uma reputação. Essa é a realidade e você deve aceitá-la ou desistir do jogo.

Continuando a falar sobre o mercado, hoje o cenário do metal está um pouco mais aberto às mulheres do que há dez anos, com boas bandas como Sylvaine, Suldusk, Nervosa e Crypta alcançando cada vez mais pessoas em todo o mundo. Como você vê isso?

Noémie Marie: Não sei se o metal está mais aberto às mulheres do que costumava ser, mas gosto muito da energia feminina no metal, é poderosa, profunda e inspiradora.

Quais são seus livros favoritos? Que tipo de leitura chama sua atenção?

Noémie Marie: Gosto de livros que possam me ensinar algo sobre alquimia, psicologia ou filosofia. Li “Assim Falou Zarathustra” do Nietzsche, que se tornou uma nova fonte de inspiração e uma maneira de pensar que, para mim, combina com a alquimia.

Somos um blog de música brasileira e, com certeza, essa pergunta é inevitável: você conhece e gosta de alguma banda brasileira? E, da mesma forma, que bandas de seu país você nos recomenda?

Noémie Marie: Eu conheço Crypta e Nervosa e essas mulheres são incríveis! O Angra também é uma ótima referência! Da França eu recomendo Etwas e Oïkoumen e, da Suíça, Walrus, três ótimas bandas e muito trabalhadoras!

Foi um grande prazer entrevistá-la. Este é o seu espaço, onde você pode deixar uma mensagem para nossos leitores. Vamos lá.

Obrigado pela entrevista, obrigada aos leitores pelo seu tempo e nos vemos no outono de 2024 com uma nova música!

Links Relacionados

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Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.