Eu confesso que sou um grande fã do The Black Coffins, a antiga (?) banda do Thiago Vakka, assim como eu tinha achado o primeiro ep, o “Archaic”, um disco apenas mediano, com boas ideias, mas que faltavam ser amadurecidas apropriadamente. E esse amadurecimento veio com o debut do grupo, o “Aphotic”, lançado no Brasil pela Black Hole Productions.
Este trabalho tem colecionado elogios em todos os cantos onde tem aparecido e aqui no Groundcast não seria diferente, porque é tão raro a gente receber discos de doom metal por aqui que ficamos muito felizes em ver uma banda nacional deste gênero conseguir se consagrar e evoluir como o Jupiterian.
O disco impressiona logo na primeira ouvida, é um sludge cheio de peso e personalidade, com fortes influências de Crowbar, Reverend Bizarre, Black Sabbath, Down e Eyehategod. Só que ao mesmo tempo não soa como nenhuma destas bandas, pois a influência é sentida nos riffs, nas linhas de voz, nas melodias repetitivas em um tom tétrico e depressivo, mas com personalidade, com muita maestria ao longo de pouco mais de 45 minutos e suas seis faixas.
“Permanent Grey” abre este disco no melhor estilo tradicional, com boas linhas de guitarra e bateria. Arrisco até mesmo dizer que é quase uma faixa de stoner tocada em velocidade menor ou um doom épico no estilão do Reverend Bizarre. “Daylight” é rápida, é pesada, trazendo fortes influências de death metal e também de linhas mais melódicas. Como bônus, no meio da música tem o discurso de Robert Oppenheimer, inventor da bomba atômica, extraído do vídeo em que ele comenta sobre as consequências de sua invenção. “Proclamation” é uma música boa, sombria, extremamente densa e pesada. Contudo, não consegue o mesmo destaque que as outras composições, talvez por ser a mais “convencional” dentro do que se espera em bandas de doom/sludge, inclusive os riffs de guitarra são bem convencionais. “Aphotic” é a minha faixa favorita deste trabalho. Primeiro porque a abertura desta música me remete ao grande Blut Aus Nord, banda de black metal experimental. É repetitiva, quase de forma religiosa. E o disco termina com Drag Me To My Grave, a faixa mais destoante, melódica e sombria de todo o trabalho, que vem como bônus no disco ou para quem compra o download no bandcamp do grupo. É uma música excelente, sobretudo pelo arranjo simples e riffs bem carregados.
A arte do disco físico é algo impressionante. A forma como foi impresso, num papel fosco e em preto e branco tem uma cara de zine antigo, daqueles impressos em xerox. A arte foi feita pelo renomado artista Manuel Tinnemans, conhecido pelos trabalhos com o Sunn o))) e o Deathspell Omega. O que é um incentivo para que você vá lá no site da Black Hole e encomende o seu.
Talvez a minha única crítica ao trabalho seja que, mesmo com todo o amadurecimento que a banda teve, ainda sinto que eles precisam progredir um pouco mais, pois o trabalho é bom, mas ainda fica um pouco atrás de outros grandes nomes da cena doom nacional, como o Mythological Cold Towers e o Saturndust. Mas isto não é demérito, porque o Jupiterian está percorrendo um caminho diferente dentro da cena, apostando numa produção de qualidade excepcional e em ideias muito boas, que com certeza irão melhorar com o tempo.