Metendo bronca: Unidos permanecemos, divididos cairemos

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  Metal-nacional

Uma das grandes verdades do cenário underground brasileiro é a desunião. Não importa se uma banda é de black metal e a outra é de rock gótico e que ambas estejam na mesma situação: ninguém irá estender a mão para apoiar, mesmo que sigam sobre o rótulo de “público restrito”.

Primeiro, vamos pensar numa coisa bem simples: bandas de mesmo gênero (metal, gótico etc.) têm uma dificuldade muito grande de se unirem com outras que, mesmo pertencendo ao mesmo gênero, tocam coisas diferentes. É possível sentir isto quando você pega uma banda que toque o chamado “metal extremo” que nunca irá dividir o palco com outra de “power metal”. Progressivo, então, nem pensar!

Isto faz com que a cena underground pareça uma grande competição, onde um quer aparecer mais que o outro, na esperança de ser descoberto pela Napalm Records e fazer grana no exterior. De verdade, é isto que se vê, por exemplo, dentro da cena metal nacional, embora não seja exclusivo dela.

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Atentem a quem fez parte deste festival. No Brasil seria impensável juntar todos estes públicos.

Em segundo lugar, temos também um público com uma mentalidade muito restrita. Na cabeça deles, você não pode misturar num mesmo espaço um grupo como o Cannibal Corpse junto do Black Veil Brides, por exemplo. Não importa que, no fundo, ambos os grupos estejam ali para mostrar o seu trabalho. A (nossa) falta de respeito nos impede de, no final das contas, simplesmente ignorar uma das bandas que não nos agradam.

E isto está fora da dicotomia banda estrangeira versus banda nacional. Isto acontece com todas as bandas dentro das cenas não-mainstream. É curioso notar que um grande festival como o Wave Gotik Treffen, a meca para todos os góticos (equivale ao Wacken para o metal) abriga bandas como Alcest, Manegarm, Orphaned Land, Tarja e outras advindas do metal ao lado de nomes da cena gótica e eletrônica como !Distain, Aeon Sable, Apoptygma Berzerk, Sieben, Violet Tears e outras mais. Isto seria inviável de se fazer por aqui. E por qual razão?

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Opeth junto de bandas de thrash metal e metalcore? É isso mesmo produção?

As pessoas em suas respectivas cenas se veem como inimigo. O metal possui ainda alguma união, graças inclusive a explosão de shows que acontecem por aqui. O gótico se exclui cada qual em seu canto e em suas casas favoritas e olham quem vem “macular” a sua subcultura com muita desconfiança e uma distância muito grande. E o pessoal de gêneros mais eletrônicos, bem, eles possuem sua cena muito mais bem organizada.

Mas existem alternativas que têm se mostrado produtivas. A cena metalcore e a hardcore possuem um senso de união entre as bandas e o público muito grande. O grupo Filtra, do Rio de Janeiro, já tocou em um evento de metalcore. E quem estava lá gostou e assistiu ao show de forma respeitosa. O grupo Confronto organizou um festival e nele as pessoas puderam conhecer outras bandas e tudo transcorria de forma tranquila.

Sem contar iniciativas como a União Underground. Encabeçada por Bruno Zanetti e equipe, possuem até mesmo um programa no youtube, o União Underground TV. Embora o enfoque deles seja o metalcore e o screamo, o apoio dado a bandas de segmentos como o rock e mesmo outros estilos de metal prova que não é preciso segmentar o público, mas sim uni-lo. A ideia deles também se estendem à própria imprensa especializada.

Então, como diz na música do Saxon: Together we stand, divided we fall!


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.

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