O industrial e o extremismo musical: flertes com o militarismo

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Death in June e o Nazismo

Vários sites colocam o grupo liderado por Douglas Paice como neo-nazista, por conta de suas imagens e pelo uso excessivo de símbolos nazistas, como o Totenkopf. É indiscutível a imagem de dominação e poder exibida pelo Death in June e suas referências a runas com alto valor simbólico, ligado a grupos supremacistas brancos (como a runa Odal e a Algiz, que em alguns círculos servem para ressaltar a força perante a herança de sangue). Igualmente utiliza-se da filosofia de Friedrich Nietzsche, os Eddas (uma espécie de poesia cultuada pelos nórdicos), Yukio Mishima (que valorizava a tradição e morreu no mesmo estilo dos samurais, cometendo o suicídio ritual conhecido como seppuku), poesia saxônica e Jean Genet (escritor, condenado por diversos crimes, entre eles o roubo, cuja literatura se pauta em mostrar a miséria do sistema francês e dar voz aos excluídos).

O gênero neofolk, na sua vertente mais tradicional, usa de imagens militares, com o intuito de fazer algum revivalismo, unindo com temáticas folclóricas, pagãs e, em muitos casos, com filosofia de extrema direita. Nada disto implica, obrigatoriamente, na aceitação destes discursos como parte do sujeito, mas sim com algum propósito artístico. Não significa que não possam existir grupos nacionais socialistas que sejam politicamente engajados, mas o que vemos nos trabalhos do Death in June, Der Blutarsch, Neutral, Sol Invictus, Allerseelen, Sangre
Cavalum, por exemplo, é uma tentativa de revalorização da tradição europeia e posturas ligadas ao fascismo. Aconselho a leitura do texto “Apoliteic music”, citado no final do artigo, para compreender isto.

Por conta destas temáticas, neo-nazis e White Powers se identificam com as músicas e passam a ouvi-las. Contudo, não é o tipo de música que faz ou fará parte dos eventos ou mesmo dos locais onde estas pessoas frequentem. Por isto, não faz parte de estilos como o RAC e o National Socialist Black Metal, gêneros abertamente ligados ao White Power. Grupos como Skrewdriver, Legion 88, Temnozor, Aryan Blood, Aryan Kampf 88 pertencem a uma cena própria, que não se inclui nem dentro da cena punk nem dentro da cena black metal, constituindo o que alguns locais chamam de “White Power Music”. Caso tenha interesse nas músicas que constituem a cena “White Power”, recomendo a leitura deste link aqui.

Isto representa, no fim das contas, o quanto as pessoas se equivocam ao analisar a imagem e as letras como preponderante para classificar uma banda como nazista. Porém, para tal, seria necessário um acompanhamento com a banda e o conhecimento que ela tem da realidade que a cerca. No entanto, o que se vê é uma interpretação superficial deste trabalho, como acusações de o Von Thronstahl, H.E.R.R., Strydwolf e outras de serem nacionais socialistas. Estes grupos também não fazem questão de explicar este problema aos fãs, mantendo a ambiguidade daquilo que é transmitido.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.