A polêmica do Kinetik Festival
Um outro evento particularmente interessante e noticiado pelo site side-line mostra o quanto esta questão pode assumir proporções ainda maiores. O grupo Ad·ver·sary, durante uma de suas performances, exibiu este vídeo:
http://youtu.be/2Fjo0_Tsblg
Nele são mostradas frases e imagens que apontam para o uso exagerado de imagens racistas e machistas pelos grupos Nachtmahr e Combichrist, colocando que não contribuem em nada com a cena industrial. Em nenhum momento existiu o discurso de que são bandas racistas, mas sim que seu material promocional, suas letras e sua imagem são fortemente calcadas nesta estética.
Por conta disto, inúmeros fãs, incluindo leitores do side-line, se revoltaram contra o Ad·ver·sary, relembrando de quanto trabalhos como Laibach, Throbbing Gristle e outros já se utilizavam destes elementos, tentando demonstrar que o Combichrist não é sexista por ter um grande número de mulheres fãs do trabalho do Andy LaPlegua. Tal discussão passou a envolver também Sami Mark Yahya do Farderhead, declarando em seu blog o quanto Thomas Rainer (fundador do Nachtmahr e ex-integrante do L’ame immortalle) era defensor da violência contra a mulher. Houve o envolvimento do próprio editor do side-line, Bernard Van Isacker, em defesa dos grupos “ofendidos”. Vale a pena dar uma olhada no artigo, sobretudo na parte dos comentários.
Mais uma vez o problema de interpretação. Em momento algum foi colocado que ambos os grupos citados pelo Ad•ver•sary eram racistas. A crítica se vale por conta do uso de imagens baseadas no preconceito e no extremismo fazendo muito sucesso sem a mesma representação existente nos grupos de industrial/pós-industrial. O militarismo virou um fetiche, um produto, destituído de sentido além do choque visual, de forma semelhante ao que acontece com as bandas de black metal e seu “satanismo”. Não existe nenhum problema nisto, muito pelo contrário. Este empobrecimento é um sinal da apropriação pela cultura de massa de um elemento, fato já recorrente em outras situações, sendo somente exposta ao grande público.
Conclusão
Este texto não planeja ser definitivo, mas sim colocar algumas questões a serem repensadas. Um grupo que adote simbologias e sinais contrários ao senso comum não o coloca dentro de um contexto a qual não pertence. Deste modo, falar e usar do militarismo, dos símbolos nazistas ou mesmo do esoterismo não coloca nenhum participante como pertencente a grupos de ódio e preconceito. A identificação destes grupos com algumas músicas é apenas pelo discurso da música e não do artista, que precisaria de um estudo mais aprofundado para se afirmar, com certeza, se ele possui este tipo de engajamento.
Referências
Todo o texto nasce a partir de boas pesquisas, então vale a pena conferirem de onde estas informações saíram.
WOODS, Bret D. Industrial Music For Industrial People: The History And Development Of An Underground Genre. Para entender o industrial, é preciso ler este trabalho acadêmico. A importância dele para a definição de música industrial e sua ideologia é de suma importância.
GRIFFIN, Roger. The Nature of Fascism. Livro essencial para qualquer assunto relacionado ao fascismo.
Shekhovtsov, Anton. Apoliteic music: Neo-Folk, Martial Industrial and ‘metapolitical fascism’. Excelente artigo sobre a relação entre a música e seus ouvintes.
ATTALI, Jacques. Noise: The Political Economy of Music. Embora não seja um livro especificamente sobre música industrial, aborda diversos temas ligados a movimentos como o futurismo, que ajudaram com a concepção do industrial.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. Para aqueles que desejarem conhecer melhor como se analise o discurso.
http://www.heathenharvest.com/article.php?story=20071027075624326 (entrevista com o grupo Rome)
http://www.stewarthomesociety.org/dij.htm (Artigo interessante sobre o falso conceito de nazismo do Death in June)
http://libcom.org/library/death-in-june-a-nazi-band (artigo que coloca o Death in June como um projeto nazista; merece leitura detalhada)
http://www.stormfront.org/forum/t600329/ (post do fórum Stormfront, dedicado ao White Power, discutindo sobre o DIJ ser ou não nazista).