O rock’n’roll mostra-se como um gênero musical altamente diversificado, abrangendo uma ampla gama de subgêneros, como o punk e o heavy metal, além de incorporar elementos de ruído, música clássica, avant-garde e folclórica. Nesse contexto, o math rock emerge como uma forma singular, marcada por uma mistura distinta de influências e musicalidade.
O math rock é definido como um gênero de rock experimental caracterizado por estruturas rítmicas e métricas incomuns, com frequente uso de mudanças de compasso, polirritmias e subdivisões complexas. Essa abordagem musical se afasta das estruturas tradicionais de composição, privilegiando um caráter mais experimental e desafiador. Ao combinar elementos de free jazz, rock progressivo e hardcore punk, o math rock desenvolve uma sonoridade única, marcada por sua complexidade técnica e ênfase em arranjos não convencionais.
O math rock, assim como o free jazz, abandona as estruturas tradicionais de composição em favor de um experimentalismo musical. Inspirado por obras como “Free Jazz: A Collective Improvisation” de Ornette Coleman, o gênero desenvolve arranjos complexos e surpreendentes, resultando em uma sonoridade única que desafia as convenções tradicionais de melodia e harmonia. Essa abordagem experimental permite a exploração de novos caminhos sonoros, expandindo os limites e aproximando-se de uma estética mais vanguardista e desafiadora.
Essa abordagem resultou na existência de grupos predominantemente instrumentais, com ritmos complexos e estruturas de compasso incomuns, inspirando-se na liberdade característica do free jazz. Essa abordagem os diferencia do metal progressivo, do rock progressivo e do jazz-fusion, uma vez que a técnica não é apenas parte da composição, mas também da própria linguagem e mensagem do gênero.
O termo “math rock” teve origem em uma brincadeira informal entre amigos, quando um colega de Matt Sweeney observou a complexidade das composições da banda Wider, da qual Sweeney fazia parte, juntamente com James, o baterista do Chavez – uma banda de rock alternativo dos anos 1990 reconhecida por seus arranjos elaborados, riffs intrincados e abordagem técnica que desafiava as convenções do rock tradicional.
A piada sobre as composições tão elaboradas e complexas que precisavam ser “medidas” com uma calculadora para entender sua complexidade técnica acabou se tornando o termo “math rock” para designar esse gênero musical. Esse rótulo se caracteriza pela estrutura musical altamente complexa, com o uso frequente de métricas incomuns, polirritmias e subdivisões rítmicas intrincadas.
Embora alguns músicos desse estilo não aceitem o termo “math rock”, preferindo se identificar com gêneros mais tradicionais, como o rock progressivo, essa resistência reflete uma preocupação de não serem rotulados de forma limitadora e que, na prática, diz muito pouco sobre o que esperar da música. Essa postura visa defender a integridade artística e a complexidade de suas obras.
O math rock é caracterizado por músicas predominantemente instrumentais, geralmente apresentando apenas guitarra, baixo e bateria. Algumas bandas, como o 69daysotstatic, incorporam também elementos eletrônicos, como batidas e samples. Apesar de suas formações serem mais enxutas em comparação a outras bandas de rock, o math rock se destaca pela sua musicalidade complexa e elaborada.
O rock progressivo influencia fortemente o math rock, especialmente em estruturas complexas e ritmos variados. Bandas como King Crimson e Genesis ampliaram os limites do rock ao incorporar elementos clássicos e experimentais, e o math rock seguiu esse ethos, criando composições dinâmicas e imprevisíveis.
O punk hardcore e o thrash metal foram essenciais na formação do math rock, trazendo uma intensidade crua e uma ética de “faça você mesmo”. A combinação da precisão do thrash e da intensidade do hardcore resultou em um estilo mais agressivo e poderoso.
O Black Flag, banda clássica de hardcore, começava a lançar músicas mais lentas e elaboradas, com polirritmias e sons sombrios, um tipo de punk jazzístico com música experimental. O EP instrumental “The Process of Weeding Out”, lançado em 1985, é influenciado por Ornette Coleman, Mahavishnu Orchestra, Black Sabbath e King Crimson.
No math rock, os polirritmos, ou o uso simultâneo de dois ou mais ritmos que não são facilmente percebidos como derivados um do outro, são elementos comuns. Para um ouvinte não-músico, a música polirrítmica pode soar como se cada músico tocasse uma música diferente dentro da mesma composição, causando um senso de desorientação e desafiando a percepção do ouvinte.
A banda considerada marco zero do math rock é o Don Caballero, formada em 1991 em Pittsburgh, conferindo uma identidade para o gênero. Originalmente formada como um trio com Mike Banfield na guitarra, Pat Morris no baixo e Damon Che na bateria, posteriormente adicionaram Ian Williams como segundo guitarrista. Embora tenham surgido da cena hardcore, os membros estavam abertos a diversas influências, como a do guitarrista de jazz Sonny Sharrock e o compositor minimalista Steve Reich.
A banda nunca encontrou um cantor, o que a levou a se apresentar como um grupo instrumental, um formato que se tornou uma marca registrada do gênero. As incansáveis turnês da Don Caballero e o lançamento de seu primeiro álbum, “For Respect”, gravado por Steve Albini, renomado produtor musical, consolidaram sua influência no mundo da música.
Há alguns cenários interessantes para o math rock. No Japão, há uma cena viva com bandas como Toe, LITE e tricot, acrescentando seu próprio estilo ao gênero. O LITE é conhecido por sua complexidade e experimentalismo, flertando com o jazz, o emo e a eletrônica, tornando-se a maior banda do gênero no Japão.
O math rock é comumente adotado por outros gêneros, como o emo, o post-hardcore e o metal. A banda americana de metalcore Botch, por exemplo, incorporou características típicas do math rock, o que é evidente em sua música “We Are Romans”, que apresenta um estilo muito técnico e agressivo. Da mesma forma, algumas das principais bandas da cena emo do meio-oeste americano, como American Football e Braid, foram influenciadas pelo math rock e, portanto, trazem partes instrumentais extremamente complexas.
Atualmente, o math rock é um gênero de nicho com uma base de fãs dedicada. E diversificado, desde um grupo pesado e experimental como Rolo Tomassi até um projeto japonês muito pop, sora tob sakana, que fez a música de abertura do anime “Hi Score Girl” e o final da segunda temporada de “Is It Wrong to Try to Pick Up Girls in a Dungeon?”.
Math rock é um gênero imprevisível e maravilhoso. Gostamos assim.