Dentro do post-industrial temos diversos estilos que se tornaram populares, mas dois merecem grande destaque. O primeiro é o EBM, que atingiu um público muito grande e se dividiu a tal ponto que existe o gênero Anhalt para tentar resgatar sua veia no industrial. O segundo é, sem dúvidas, o Neofolk. Aqui vocês verão o que classifica, identifica e, acima de tudo,o que é este gênero da música popular contemporânea.
O surgimento
O marco zero foi o surgimento do grupo britânico Death in June. Formado por Douglas Pearce, o trabalho consistia em levar o experimentalismo industrial com a música folclórica e o folk rock. Tudo isto junto de uma simbologia nazista, sem representar posição ideológica de nenhum dos envolvidos.
Em 1981 tinhamos Pearce, Tony Wakeford (que tinha trabalhado com ele num grupo de punk chamado Crisis) e Patrick Leagas. Estes três começaram uma ideia que seria continuada por Wakeford ao montar o Sol Invictus, em 1987, que mostraria também um lado mais engajado com a cultura neo-pagã que emergia na Europa. Este projeto aconteceu após sua saída do Death in June.
Um colaborador muito importante do DIJ, o músico David Tibet, fundou o Current 93, levando ao neofolk uma temática mais voltada ao esoterismo, originando o Apocalyptic Neofolk.
Looking for Europe – A ideologia do neofolk
É difícil imaginar algo que nasça nos círculos do industrial que não possua alguma forma de ideologia eE com o neofolk não seria diferente.
O Death in June começou utilizando símbolos e temas que se ligavam às tradições europeias. Era uma forma de resgatar o passado, usando como referência a filosofia de Nietzsche, os antigos Eddas e a poesia saxônica. Não era, contudo, nacionalista, tendo apenas uma visão mais europeia de mundo.
Tony Wakeford, com sua repulsa ao cristianismo, vai colocar o neo-paganismo em suas obras, como o Sol Invictus, evidente nos primeiros trabalhos, que conta com a ajuda da runóloga Freya Aswynn. E o Current 93 vai se pautar de forma próxima ao do Death in June. O comprometimento das bandas está mais ligado a volta do paganismo na Europa e um interesse em desenvolver um senso de união pelo velho continente, fora de qualquer ideologia política, a despeito de uma imagem que beira o fascismo utilizada por boa parte dos projetos.
Estilos derivados e estética musical
Em termos sonoros, é muito complicado demarcar o neofolk. Podemos dizer que ele é uma releitura das músicas folclóricas tradicionais, com bastante uso de violões e sintetizadores. Contudo, como boa parte do post-industrial, não vai existir uma regra para o gênero. Abaixo estão listadas as principais linhas seguidas.
Apocalyptic folk: David Tibet foi quem comecou este gênero. Ele mescla o instrumental folclórico ao post-industrial, com letras ressaltando questões místicas e filosóficas. O termo serviu para classificar as bandas que pertenciam ao finado selo World Serpent Distribution. Atualmente apenas o Ordo Rosarius Equilibrio continua a se definir com este rótulo.
Dark Folk: chamado também de folk noir, foi um termo usado pelo fotógrafo David Mearns nos anos de 1980 para descrever uma parte do som do Sol Invictus. Suas influências muitas vezes se pautam no psych folk (mistura de folk music com rock psicodélico). Era utilizado para as bandas da Tursa Records, cuja sonoridade era menos industrial e mais psicodélica. Muitas vezes também serve como rótulo para bandas folks sem ligação direta com o neofolk, como apresentado em alguns webzines. Hoje o termo aborda bandas que também usam outras influências, como o ethereal e o darkwave, além da música eletrônica. Como expoentes temos os grupos Faun, Sangre Cavallum, Liholesie, Empyrium, Qntal, Tenhi. Surgido no mesmo meio, temos o chamado pagan folk, uma variação mais voltada aos temas celtas/pagãos, cujo grande expoente é o Omina.
Martial Industrial: surgido como uma variação do neofolk, incorporando a música militar, o neoclássico, falas e discursos de guerra, além de uma imagem claramente militarista. Entretanto, há ainda grupos que permanecem com uma sonoridade mais folk, criando o Martial Folk, sem constituir um gênero próprio. Os nomes mais importantes são o Von Thronstahl, o A Challenge of Honour, o March of Heroes, alguns discos do Laibach, do Allerseelen e do Death in June.
Concluindo
Neofolk ainda é um estilo relativamente novo para a maior parte das pessoas, que ainda não sofreu os efeitos da massificação , diferente do electro-industrial e do EBM. Ainda conta com muitas boas bandas, trazendo muitos elementos novos para o gênero. Pode-se citar o próprio Death in June, inovando em cada disco ou mesmo os vários grupos de dark folk incorporando elementos de rock progressivo no som. O Bain Wolfkind mistura gothic rock, blues e jazz com neofolk.
Como sugestão, para quem quer começar neste meio, vão algumas bandas que valem a pena serem ouvidas: Death in June, Sol Invictus, Lady Morphia, Ataraxia, Ordo Rosarius Equilibrio, Spiritual Front, Falkenstein, Horologium, Corde Oblique, Gae Bolg And The Church Of Fand, Neutral, Blood Axis.
Parabéns pelo artigo Fabio, foi muito bem redigido!
Amo em especial Ataraxia, Death in june, Corde oblique, Sangre Cavallum, Ordo Rosarius Equilibrio e Allerseelen das que você citou!
No Brasil há algumas bandas que podem ser citadas por terem fortes influências europeias e também por serem também muito boas: “In Auroram” (Dark Folk/ Neoclassico), “Sleepwalkers Maladies” (Martial Industrial), “Solene Lênia” (neofolk/ dark folk), “Última dança” (neofolk/ dark folk) e “Lamento” (neofolk)- projeto de Roman (Endraum) e Fernanda Rittinghaus.
Um abraço!
Talita
Oi Talita, Oi Fabio. Eu sou um grande apreciador de neofolk, tirando os nazista infiltrados no meio. Gosto muito de Ordo Rosarius, Spiritual front (vou ver o show deles em julho) e Rome. Queria saber se voces conhecem alguma banda brasileira de neofolk que canta em portugues.
“Tirando os nazistas infiltrados no meio” – Você quer dizer o gênero inteiro? HUAUHAHUAHUAHUA
Apesar do que esse cara quis ficar forçando, nacional-socialismo é a visão de mundo deles SIM. Inclusive o Above The Ruins, banda que precedeu o Sol Invictus e o Death In June, tocou com o Screwdriver e recebia dinheiro do BNP
Ah, cara, não é bem assim não, até mesmo porque eu conheço o cara que trabalha com o Wakeford hoje (que aliás, é o dono da gravadora do Alcest, se você ainda não sabe). O Above the Ruins é posterior ao Death in June e anterior ao Sol Invictus e o próprio Wakeford nunca teve lá suas posições políticas muito bem definidas, ao ponto de hoje ele sequer defender qualquer bandeira ou mesmo interesse por política. É diferente de você pegar, por exemplo, o Troy Southgate, que orienta o H.E.R.R. numa visão anarco-nacionalista.
Mas é claro que, sim, quando ele fundou o Above the Ruins ele era filiado ao British National Front, o que gerou a treta e a expulsão dele do Death in June.