As subculturas representam um fenômeno fascinante entre os jovens do pós-guerra, funcionando como formas de expressão e resistência à cultura dominante. Esses grupos possuem suas próprias crenças, valores e práticas, manifestando-se por meio de estilos, rituais e símbolos únicos, como os góticos, metaleiros, punks e outros. Permitem também a esses jovens desafiarem os valores e normas culturais predominantes, construindo suas próprias identidades e encontrando um espaço em um mundo em constante transformação.
As chamadas subculturas juvenis representam uma resposta aos desafios socioeconômicos enfrentados pelos jovens. Elas permitem que desafiem os valores e normas culturais dominantes, construindo suas próprias identidades e encontrando um espaço em um mundo em constante transformação. Também não surgem do nada, mas sim como resultado das atividades e interações entre os próprios jovens, que buscam expressar sua individualidade e sentido de pertencimento a um grupo específico.
São também formas de resistência, as quais os jovens exploram novas identidades e expressam sua insatisfação com as condições sociais e econômicas existentes. Esses grupos precisam negociar com a cultura dominante, adaptando e modificando seus próprios símbolos e práticas. O punk criou uma estética rebelde e contestatória usando objetos como jeans e coturnos, pertencentes tanto ao contexto de trabalhadores de fábrica como militares. Já os góticos utilizam elementos presentes em filmes e literatura para construir uma identidade melancólica e sombria.
O estilo e a estética são características fundamentais de todas as subculturas. Eles englobam a organização ativa de objetos, atividades e perspectivas. O estilo não se resume apenas à posse de objetos, mas abrange o significado simbólico desses objetos e a sua transformação em expressões culturais únicas que refletem a identidade e valores do grupo. Essa dimensão estilística é muito mais do que aparência – representa a forma como os seus membros se expressam e se identificam como parte de um grupo com seus próprios códigos e linguagem visual.
Por outro lado, devido aos meios de comunicação e à diversidade cultural, alguns jovens tendem a se concentrar apenas no visual, como a roupa, sem se envolverem de verdade nas dimensões ideológicas. Segundo Mireille Silcoff, do The New York Times, no excelente artigo “Teen Subcultures Are Fading. Pity the Poor Kids”, os adolescentes não se preocupam com os aspectos políticos, sociais ou filosóficos. Eles se importam apenas com a aparência e representações superficiais do estilo, criando microculturas apenas visuais, como Arcadecore, Pastel Goth e Avant Apocalypse, baseadas apenas na estética.
Existe uma discussão, como apontado por Rupa Huq (Huq, 2007), sobre se as subculturas contemporâneas ainda representam uma verdadeira resistência ou se tornaram apenas uma forma de corporação e consumismo. A popularização da internet e a constante fragmentação dos sujeitos levaram a que as identidades se tornassem cada vez mais fluidas e efêmeras, com os jovens transitando entre os mais diversos grupos. Não é incomum encontrar góticos que também apreciam funk carioca, ou metaleiros fãs de música trap, chegando até mesmo a experimentar uma fusão entre os estilos.
Isso reflete a forma como a cultura de massa tenta se apropriar e banalizar aspectos das subculturas. O capitalismo precisa constantemente construir um ethos (Hall, 1976) para continuar a existir, o que envolve retirar os elementos característicos dessas culturas e transformá-los em produtos ou marcas. Em resposta a esse processo de mercantilização, surgem grupos em busca de “autenticidade”. Apesar destes desafios, elas ainda desempenham um papel importante na formação da identidade, principalmente entre os jovens, permitindo que expressem suas insatisfações e construam estilos de vida alternativos.
Uma maneira de resistir a esse processo de incorporação é desenvolver rituais e práticas específicas que reforçam a identidade do grupo e o diferenciam da cultura dominante. Estes podem incluir formas únicas de linguagem, comportamentos e atividades de grupo que fortalecem a coesão interna e a distinção externa. Alguns elementos “padrão” funcionam como um aspecto identitário, são os góticos com roupas pretas ou escuras, os punks com cortes de cabelo moicano e os metaleiros com cabelos longos e camisetas de bandas, guardando espaço para as demonstrações individuais de estilo.
A criação de um estilo é um processo ativo, pois seus membros não apenas seguem tendências, mas ativamente escolhem, adaptam e reinventam elementos para criar uma identidade visual e sonora única. Isso vai além da estética – o estilo se torna um símbolo de pertencimento ao grupo, refletindo valores, crenças e atitudes compartilhadas.
O cabelo moicano dos punks nos anos 1970 era mais que um penteado, era um símbolo de rebeldia e crítica social. As subculturas não se criam no vácuo, mas de elementos da cultura dominante, como roupas, músicas, símbolos e comportamentos, dando-lhes novos significados dentro do contexto do grupo.
Esse processo de ressignificação permite que criem uma linguagem, uma nova forma de expressão que comunica seus valores e visões de mundo, muitas vezes em oposição à cultura dominante. Essa linguagem inclui termos próprios, como as diversas nomenclaturas de gêneros musicais ou estilos particulares de vestimenta.
A música desempenha um papel fundamental em muitas subculturas, servindo como meio de expressão e identificação, com gêneros musicais como o punk rock, o heavy metal e o hip-hop tornando-se historicamente associados a várias e fundamentais para a formação da sua identidade.
Elas nascem do inconformismo em relação à cultura dominante e soa estranho que alguns tipos tentem impedir a entrada de pessoas não brancas e não masculinas, esquecendo que a natureza destas jovens culturas é oferecer um espaço para as pessoas se tornarem parte de um grupo formado por pessoas que não estão satisfeitas com a cultura dominante.
Segundo Hedbige (Hebdige, 1995), o punk surgiu como uma reação ao glam rock, buscando revelar suas contradições. Enquanto o glam rock celebrava o estrelato, o punk enfatizava uma estética crua e da classe trabalhadora. Ambos utilizavam elementos teatrais e estilizados para a música e aparência. O punk empregava ironia e paródia, representando os marginalizados através do estilo exagerado do glam rock, como correntes, roupas rasgadas e linguagem grosseira, simbolizando a luta da classe trabalhadora.
Isso acontece porque a indústria cultural se apropria de muitas subculturas e as transforma em um estilo para ser consumido. O gótico, o industrial, o heavy metal e o post-punk são igualmente oposições ao que se transformara o punk alguns anos depois: suprimir a necessidade de fazer parte de uma alternativa radical e transformá-la em algo que pode ser comprado e vestido.
Claro que elas não são perfeitas – elas enfrentam alguns desafios e contradições. Por exemplo, alguns membros de grupos como os metaleiros podem apresentar comportamentos sexistas, homofóbicos e racistas. Alguns punks também têm negligenciado questões relacionadas aos direitos das mulheres. E há casos de pessoas que não lidam bem com a diversidade, excluindo outros por motivos de gênero, cor e identidade de gênero.
Mulheres são um grupo mais vulnerável em muitas subculturas, uma vez que a maior parte delas possui uma visão orientada ao homem heterossexual e branco. Há um processo de marginalização de grupos minoritários dentro dessas culturas alternativas, que é algo a ser criticado e combatido. Tanto que grupos majoritariamente femininos como as fãs de K-pop passam por preconceitos por serem consideradas superficiais e imaturas. Artistas femininas têm muito mais dificuldade de se destacar em cenas dominadas por homens.
Isso reflete o quanto as subculturas ainda são influenciadas pelo modo como a sociedade lida com suas próprias questões. Portanto, precisam continuamente se renovar, refletir sobre seus valores e práticas, buscando ser mais inclusivas e combater as opressões presentes dentro delas.
Algumas referências
Hall, S. (1976). Resistance Through Rituals: Youth Subcultures in Post-War Britain. http://ci.nii.ac.jp/ncid/BA78807063
Hebdige, D. (1995). Subculture: The Meaning of Style. In D. Hebdige, Critical Quarterly (Vol. 37, Issue 2, p. 120). Wiley. https://doi.org/10.1111/j.1467-8705.1995.tb01063.x
Huq, R. (2007). Beyond Subculture. In R. Huq, Routledge eBooks. https://doi.org/10.4324/9780203491393