[Resenha] Kosmovoid – Crisálida (2020)

2 min


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1.    Uroboros

2.    Ephialtes

3.    Conquistador

4.    Jesuit Satanist

5.    Transmutation

6.    Temple of Jupiter

7.    Pariah

8.    Varuna

9.    Cortège

10.    Arkane

Space Rock / Experimental, Dissenso Records

Sinto muita falta de alguma coisa experimental dentro da cena musical underground aqui no Brasil. A gente tem muita banda bacana, mas quase ninguém envereda por coisas que não sejam, acima de tudo, convencional. E o Kosmovoid entra em jogo para tentar mudar um pouco esse cenário.

Não espere um disco fácil de escutar. As dez faixas de Crisálida compõe um universo de som bastante complexo, cheio de texturas, bateria tribal, drones de guitarra e sons atmosféricos que vão construindo uma paisagem sonora fria, densa e melancólica.

As influências mais notórias nesse trabalho, sem dúvidas, é o krautrock em nomes do Popol Vuh, Can e Faust, além de um ou outro Tangerine Dream aqui e ali. Tem alguma coisa de rock progressivo e muito do space rock britânico, indo a bandas como Pink Floyd e Hawkwind. A linha percussiva me lembra muito um dos meus grupos favoritos de rock psicodélico, o Goat, sem a orientação étnica no som.

Uroboros tem um começo com bateria e guitarra que lembram bastante o Brainticket, com uma voz quase apagada e com vocoder, apresentando um ciclo musical que se repete algumas vezes e o uso bem interessante do sintetizador, embora ainda tenha uma base mais orgânica. Ephialtes inicia com um drone e constrói sua música com um meio termo entre o post-rock e o space rock, lembrando também um bocado algumas músicas do Enigma. Conquistador usa um efeito sonoro de fundo, junto com um drone de sintetizador, seguido de bateria e guitarra de maneira épica, tornando quase uma música cinematográfica de alguma produção de ficção científica, com várias passagens de rock progressivo e de psicodélico.

Jesuit Satanist é a música que apresenta aquilo que eu mais espero de um grupo experimental. Usando um micro-korg e bateria, começa de modo quase etéreo, pesado, uma linha de guitarra que propositadamente não se alinha com esse conjunto, para depois trazer marcas de post-rock e de jazz. Para mim, essa é a melhor música do disco todo exatamente por conta de tantos elementos e tanta experimentação. Transmutation é uma faixa mais eletrônica e muito mais influenciada pelo krautrock, com quase metade da música com sintetizadores, para depois apresentar a mesma batida tribal e as guitarras distorcidas, formando uma gênese que casa bem e remete ao Gong e a uma outra banda que conheci recentemente, o Neptunian Maximalism. Temple of Jupiter é um tributo mais que perfeito a um dos grandes marcos do krautrock, o Ash-ra Tempel, com uma melodia repetitiva, experimental, com forte uso de sintetizador e uma presença de bateria marcante.

Pariah apresenta mais um pouco de influência de krautrock e também de space rock, com um capricho na percussão e no uso adequado de instrumentos eletrônicos, onde a guitarra perde quase que totalmente o seu papel, formando uma das músicas mais bonitas desse trabalho. Varuna parece a continuação da faixa anterior, com um pouco menos de velocidade, usando mais drones e mais sons ambientes. Cortège já retorna com um instrumental com maior complexidade, mais uma vez remetendo a uma musicalidade tribal forte, com muitos toques de acid rock. E para fechar, Arkane é uma faixa ambiente, como o encerramento de todo um caminho para se chegar até o final deste disco.

No geral, é um excelente trabalho nacional, que prece mais destaque sobretudo numa cena cada vez mais carente de experimentalismo.

Kosmovoid – Crisálida
  • Nota Geral - 9.5/10
    9.5/10

Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.