[REVIEW] An Earth in Darkness (2011)

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A Sombrati Records traz a público mais uma de suas famosas compilações, recheada de muito gothic rock. E o que esperar deste disco virtual, afinal de contas?

Neste volume a organização se deu por bandas de países como Inglaterra e Grécia, tentando cobrir várias localidades. O que se pode destacar é que houve uma tentativa de pôr bandas que fossem menos eletrônicas e mais “orgânicas”, talvez para fugir um pouco da tendência eletrônica que o gótico vem passando.

A primeira música abre muito bem o disco virtual. Tocada pelos ingleses do Pretentious, Moi?, Witchhouse tem peso, agressividade e um ritmo muito dançante, mostrando claras influencias de hard rock no seu som.

The House Of The Last Lantern segue com Just Dance, uma música bem contagiante, com um toque bem interessante de new wave. Vindos diretamente da Rússia, não decepcionam e continuam muito bem o trabalho colocado na abertura do disco.

Na terceira música podemos conferir o grupo Opened Paradise, da Grécia, com Dancing With Shadows. Eles mesclam metal e gothic rock, na mesma linha do The Fields of Nephelin. Agrada quem gosta do Fields, Garden of Delight e outras, mas espera algum som mais gótico e menos com cara de “rock’n’roll”.

Lightbringer, do conjunto austríaco Whispers in the Shadows retoma o espirito iniciado pelo Pretentious, Moi?, com um toque mais punk. Guitarras pesadas, um refrão com passagens bem grudentas e uma melodia contagiante colocam este grupo como um dos grandes expoentes da cena gótica e, ainda por cima, traz algo diferente, inovador.

Da Argentina vem o Amáutica. É um grupo que surpreende, cantando em espanhol e não fazendo um som saudosista. É moderno, elegante e, ainda por cima, não-previsível. Não poderia ser chamada propriamente de gothic rock, mas talvez um hard/gothic rock ou algo assim. Nota-se influencias de The Cult, mas sem copiá-los.

A banda Das Projekt, nova encarnação da antiga Das Projekt der Krummen Mauern, aparece com a música Arabian Beauties em uma versão ao vivo bem interessante. Só que a qualidade da gravação é um pouco precária, prejudicando um bocado o som. Pode-se notar, entretanto, que é uma banda de gothic rock que pende muito para o metal e o hard rock, com pouquíssima coisa de post-punk, bebendo de fontes como The Cult. Aliam um rock’n’roll bem marcante com uma linha de baixo que lembra muito The Sisters of Mercy. A presença de solos de guitarra também torna a música diferente das anteriores, mostrando que o gothic rock não precisa do eletrônico para se renovar.

Merciful Nuns, do grande Artaud, vem com Funeral Train. Peso, melodia, agressividade, tudo isto é característico do som deles. Uma linha de baixo bem marcada, acompanhada de um vocal grade faz da música uma grata surpresa, complementando a anterior. Não é uma música “dançável”, mas mesmo assim merece todos os méritos.

A grande banda Plastique Noir é representada pela música Never Look For People Like Us. É uma música boa, mas destoa bastante das outras bandas presentes no disco. Talvez a escolha de alguma outra música ou ainda a inclusão de mais bandas na mesma linha de som talvez justificasse a escolha desta banda brasileira, uma vez que esta é uma faixa mais influenciada por new wave e tem um toque mais próximo do post-punk do que as outras músicas do disco.  Os sul-africanos do ANKST aparecem com a música Epitaph. É muito difícil ouvir e não notar as influências de Paradise Lost na fase mais eletrônica. Ainda sim, é uma banda com personalidade, estilo e que não cai no marasmo das outras bandas góticas, mostrando que os africanos serão, sem dúvidas, um novo país rico em boas bandas góticas.

Mais uma da grande mãe Russia, o Para Bellvm, com The City of Men, marca sua presença neste disco. Fortemente influenciados por Bi-2, um grande nome do post-punk russo, o grupo também diverge um pouco das outras composições, trazendo uma leveza maior. É uma música para ser ouvida com calma.

Da Alemanha vem o Aeon Sable. Agnosia mescla letras em inglês e espanhol, além de trazer uma boa mistura entre o gothic rock e a música eletrônica. Talvez seja possível traçar um paralelo do som deles com o Clan of Xymox, de onde a banda mostra ter muitas influências.

A banda ucraniana the Nightchild tem em sua sonoridade um ritmo dançante, marcante, como pode ser ouvido em Whispers In The Night. Para quem curte Paralysed Age é certamente um prato cheio, com uma pegada mais pesada e mais agitada. Lembra um bocado a música do Plastique Noir, talvez soando menos destoante que a deles.

†13th Moon† vem do Japão e mostra que existem boas bandas fora do círculo do “j-rock”. 13th Moon é a faixa que demonstra claras influências de Christian Death, inclusive possui uma melodia de guitarras muito próximas da fase com o lendário Rozz Williams.

De Belarus vem o Kaltherzig aparecem com a faixa Dead, marcada pelo ritmo eletrônico e dançante. É bem próximo de um synthpop, muito bem executada e que não deixa a peteca cair próximo ao final da compilação.

Encerrando a coletânea temos o grupo franco-alemão Arts of Erebus.  Book Of Blood (Devil’s Dance Mix) é um remix interessante, sendo talvez complementar à música anterior. Lembra bastante The Sisters of Mercy misturado com Depeche Mode, num final que impressiona e marca o fim do disco de forma grandiosa.

Podemos dizer que este primeiro disco que tenta abranger o mundo gótico feito pela Sombrati Records cumpre bem o seu papel. Talvez com uma ou outra música que poderia ter sido trocada, no geral é um resultado muito bom e muito interessante para conhecer bandas novas e que estão produzindo muito material de qualidade. Então não perca tempo e faça aqui o seu download.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.