Rock e machismo

8 min


0

Existe alguma maneira de fugir disto?

Opções existem, inclusive muitas delas têm aparecido com as bandas que possuem membros femininos. Fora do rock é muito mais fácil vermos isto e dentro dele existem algumas excelentes exceções que merecem ser pontuadas.

Angela sempre destoando do padrão de mulher delicada

O metalcore, gênero muito criticado pelos fãs mais ardorosos de metal, tem aberto espaço para mulheres se apresentarem sem precisar da super exposição ou mesmo se transformarem em fetiches. Candace Kucsulain, do WALLS OF JERICHO, é uma mulher bonita, mas que não precisa parecer angelical ou pura para demonstrar feminilidade e vigor. Alissa White-Gluz, do THE AGONIST, também envereda pelo mesmo caminho, sempre demonstrando a sua beleza sem necessariamente cair no machismo ou dentro de algum modelo machista..

Sonya Scarlet, do grupo THEATRES DES VAMPIRES, abusa do obsceno e do sexo como forma de expressão artística. Ela explora o lado fetichista num tom explícito, com um lado feminino e até mesmo bem sensual exposto. Isto justifica o sucesso dela entre as mulheres, pois a obscenidade, que deveria atender aos preceitos masculinos, torna-se agressiva. Também soma-se o fato de Sonya ser a líder da banda, cantar letras com alto conteúdo sexualizado e a vocalista ter destaque pela imagem que ela traz à banda e não apenas uma “mulher linda e gostosa com cara angelical”.

Angela Gossow, do ARCH ENEMY, também possui uma imagem em torno de si que contraria o machismo do rock. É uma mulher bonita, sem cuidados exagerados, com uma postura sempre desafiadora, imponente e forte, fazendo frente a uma banda de metal extremo e com vocal gutural, tão característicos dos homens. Nesta mesma linha podemos também destacar a CADAVERIA, líder de uma banda composta por uma mulher (no caso, ela) e mais quatro homens, sendo que ela não faz o tipo “mulher doce e indefesa” e muito menos aquela que precisa atrair os olhares masculinos somente pela beleza.

Dos grupos formados apenas por mulheres, podemos começar com as japonesas do GALLHAMMER, fazendo uma mescla entre o doom metal e o crust punk, sem apelar para a imagem de mocinhas meigas e fofas, tão típicas a outros grupos orientais de música formados por mulheres (sobretudo dentro do pop). E sem esquecer das gregas do ASTARTE, mesclando uma beleza natural com a agressividade do black metal.

Porque afinal, punk rock não é só para o seu namorado

Grupos como ELUVEITIE, MY DYING BRIDE, EARTH, MINDLESS SELF INDULGENCE, EAGLES OF DEATH METAL, MELVINS, COAL CHAMBER, SONIC YOUTH, A PERFECT CIRCLE, JEFFERSON AIRPLANE, WHITE ZOMBIE têm ou tiveram mulheres em suas bandas com outras funções que não de vocalistas. São mulheres com o mesmo nível de profissionalismo que os homens, sem a necessidade de estarem na banda apenas por representarem um corpo e um rosto bonitos.

Sarah Jezebel Deva, vocalista que se destacou por participar do grupo britânico CRADLE OF FILTH, é uma mulher de excepcional talento e técnica, que foge dos padrões de beleza das demais vocalistas líricas de metal. Participou e fez apresentações ao vivo para grupos como MORTIIS, THE KOVENANT, THERION e outros, participando sempre de forma muito competente, técnica e profissional e tendo muitos admiradores de suas capacidades como cantora.

Existem grupos dentro de outros gêneros, como o punk e o hardcore, cujas mulheres são abertamente feministas e contrárias ao discurso machista imposto ao mundo e ao rock. Um destes grupos, o PUSSY RIOT, inclusive foi preso justamente pela defesa deste manifesto em prol de um mundo igual de oportunidades para as mulheres e de respeito pelas diferenças, além do seu ativismo político. A banda brasileira BULIMIA também traz este manifesto em músicas como a Punk Rock. Estas bandas se alinham com o movimento das Riot Grrrl, com uma força muito grande no Brasil, em nomes como Dominatrix, Surface, Bertha Lutz (cujo nome foi inspirado por uma das maiores feministas brasileiras, Bertha Lutz, que lutou ativamente pelos direitos das mulheres brasileiras).

E você, leitora do Groundcast, o que pensa disto? E você leitor, concorda com os pontos levantados? Gostaríamos muito de saber.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.