Tracking, por Wazzara

4 min


0

Foto por Manuel Vargas Lépiz

Tracking é parte entrevista musical, parte crítica, com um artista que comenta um álbum e conta um pouco sobre a produção. Nossa primeira entrevista-resenha é com a banda Wazzara e falamos com George (guitarrista) e Barbara (vocalista)

Como foi o processo de produção de OMBREINE, seu novo EP?

George: como sempre tivemos que nos esforçar muito para ficar tudo pronto a tempo. O processo de produção começou no início de 2022, quando Barbara escreveu algumas músicas (chuto que foram pelo menos umas 11). Daí nós dois fizemos a pré-produção e escolhemos as três que mais soaram interessantes para nós. Depois enviamos as músicas para o Deniz, nosso baterista, para ele fazer a pré-produção da bateria. Barbara anotou todas as tablaturas no Guitar Pro, os guitarristas pegaram as tablaturas e incorporaram suas ideias. Quando terminou o dia fomos até o The Clockwork Studio para gravar as partes finais e depois fizemos as vozes e os outros instrumentos em casa mesmo, para depois enviar para a mixagem final. Os últimos retoques foram feitos pelo Jonas Ekström da Northmastering. Foi tão bom o trabalho que tivemos de fazer apenas uma única revisão.
Se alguém estiver interessado em alguns detalhes técnicos:
Baixo: Eu uso Dingwalls há 2 anos e estou superfeliz com a forma como soam e funcionam com o heavy metal. A corda mais grave é simplesmente incrível devido ao design com trastes em leque. Você pode substituir pelo menos 5 guitarristas com esse monstro de equipamento.
Guitarras: Mäsi usa suas próprias guitarras e ele é muito chegado em trastes customizados. O Tom usa guitarras ESP.
Bateria: Deniz usa exclusivamente caixas da Resonance, que dá a opção de usar dois cabos com diferentes com afinações. Soa incrível na sala e na gravação.
Vocais: usamos um SM7b com pré-amplificador Heritage Brit strip com compressão e um leve aumento de equalização high-end dentro de uma cabine vocal transportável da Imperative áudio
DI: Avenson Audio ISO DI, eu diria o DI mais incrível do mercado

Qual foi a inspiração para as músicas do OMBREINE?
Barbara: “Ombreine” pode ser visto como a terceira parte de uma espécie de trilogia. “zessa”, o primeiro EP lançado em 2019 foi muito inspirado na imagem de uma nascente que se transforma em cheia e por isso pode ser visto como o “álbum de nascimento”. “Cycles” foi dedicado à fertilidade e simboliza a jornada da vida. “Ombreine” foca no fim de todas as coisas, na vaidade de nossa existência. Representa, digamos assim, a terceira parte de um ciclo de vida, determinado pelo desapego e pela morte. Essa foi a principal motivação para compor as músicas e escrever as letras. Também me influenciei pelo meu amor à arte e à poesia da era “Danse Macabre”, que surgiu durante o início do período moderno, em tempos de peste e de uma grande incerteza e medo coletivo na Europa. A visão artística da única certeza na vida – a morte – me fascina desde criança. A natureza e toda a sua beleza, mas também a sua capacidade de destruição, é uma grande fonte de inspiração para mim. E a história de repressão contra as mulheres – ou a energia feminina – que se abate sobre nossas sociedades desde milênios me impulsiona bastante. A injustiça e a monstruosidade ali contidas me levaram a escrever a letra de “visiûne”, assim como “Solanum” e “Fissures” em nosso álbum de 2021 “Cycles”.

Qual é a melhor música desse trabalho, na sua opinião?

George: Eu gosto muito de Guggisberglied. É inspirado por uma canção folclórica tradicional suíça muito conhecida e Barbara fez um arranjo e composição mais melancólicos que na versão original. Eu gostei muito do resultado.

Eu amei a capa. Quem é o artista e o que representa?

Bárbara: Muito obrigada, fico feliz em saber que você gostou. Fiz essa imagem de duas formas diferentes. Mäsi voltou de suas férias trazendo com ele esta fotografia impressionante que ele mesmo tirou de uma teia de aranha. Era evidente que seria perfeita para nossa próxima capa. Quando decidimos que “Ombreine” focaria na transitoriedade e na vaidade, tive vontade de adicionar um símbolo para destacar esses assuntos. E qual imagem melhor simboliza tudo isso do que um espelho? Eu também tinha em mente a imagem “do espelho que não lisonjeia”, mostrando um esqueleto, representando a morte, segurando um espelho com essa inscrição que pode ver na minha ilustração. É do livro “Danse Macabre”, publicado em 1639, e muitos provavelmente o conhecem pela capa do álbum do Machine Head. E toda a poesia desta obra teve uma importância enorme nas músicas e letras, bem como na arte da capa.

Você pode nos dar uma análise faixa a faixa deste EP?

George: Acho que fizemos o máximo com essas três novas músicas! O último trabalho estava no caminho que a gente queria, mas este é mais sujo, pesado e intenso. Na minha opinião, constrói uma atmosfera de melancolia e desespero, mas mantém as luzes positivas acesas. Não é como se você quisesse se matar, mas captura um pouco do abismo que enfrentamos de vez em quando.

O que está por baixo, Visiûne, Guggisberglied: Eu saio pela porta dos fundos do artista e deixo para o ouvinte decidir que tipo de imagem evolui ao ouvir essas músicas.

O que você espera que as pessoas pensem sobre OMBREINE?

Barbara: Estaria mentindo se dissesse que não me importaria caso ninguém curtisse nossas novas músicas. Considero minhas composições como meus filhos, cuido delas e, portanto, revelá-las ao mundo me deixa em um estado de ansiedade e excitação. Mas, afinal, estou apenas curiosa sobre como serão recebidas e como as letras serão interpretadas. Cada ouvinte olha para o material de uma perspectiva diferente e com base em sua própria experiência e visão individual do mundo. Ao compor música e escrever letras, quero que esse espaço não seja fechado, mas aberto. No momento em que você lança uma obra para o mundo, ela desenvolve vida própria e isso é dos aspectos mais interessantes de criar coisas.

Eu realmente quero agradecer a sua paciência e tempo em responder. Deixe uma mensagem para nossos leitores.

Barbara: Obrigada por esta entrevista e seu interesse em nosso novo lançamento. Agradeço a todos por lerem esta entrevista. Ficaríamos muito felizes se conferisse “Ombreine” após seu lançamento em 30 de abril de 2023 e nos seguisse no bandcamp e em nossos canais de mídia social. Muito obrigada.

Links Relacionados

https://www.wazzara.com/

https://wazzara.bandcamp.com/


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.