A minha famigerada lista dos melhores do ano de 2019

6 min


0

Todo mundo publica uma listinha de melhores do ano e faz um tempo que a gente não faz isso. Então acho que antes de mais nada, é legal também falar um pouco de como foi esse ano.

Neste ano houve muita turbulência política em diversos países, não apenas aqui. No Brasil, o recrudescimento da extrema direita vem motivando artistas a lançarem obras de protesto e muita gente a sair daquela posição cômoda de fazer reclamação genérica.

Também foi um ano legal em termos de lançamentos mais diferentes, então espero mesmo fazer jus a tudo de legal que consegui escutar e espero que, para o ano que vem, eu consiga colocar ordem no Groundcast. E caso queira acompanhar, fiz essa playlist com uma música de cada disco.

Her Name is Calla ‎– [Animal Choir]

Her Name is Calla é um grupo que, dentro da cena post-rock, se diferencia por apresentar melodias épicas, mescladas com um rock alternativo puxando para o post-punk, com muita distorção e peso. E que trabalho lindo eles lançaram esse ano, que está quase um darkwave.

Sunn O))) – Life Metal

O Sunn O))) este ano lançou dois trabalhos e confesso que fazia tempo que um disco deles não me empolgava. Life Metal trouxe o que eu esperava de um bom disco de drone doom, aliado a uma atmosfera mais palatável. Não é um Flight of Behemoth, mas ainda é bonito.

Tool – Fear Inoculum

Eu tinha muito medo desse disco ser um grande fiasco. Muito tempo para ser lançado, muita enrolação para, no final, ter o que eu considero uma obra prima.

Astronoid – Astronoid

Uma das descobertas mais legais que fiz esse ano foram os singles desse álbum. I Dream in Lines tem aquela mistura bem legal de power metal com um jeitão meio Cult of Luna que todo mundo deveria dar uma chance.

Thief – Map of Lost Keys

Dylan Neal, conhecido pelo seu trabalho no Botanist, sai do black metal para adentrar no darkwave e no trip hop. Em seu segundo disco sob a alcunha de Thief, Neal apresenta algo que seria um intermediário do Portishead com alguma coisa mais noise. Coisa fina.

The Dogs ‎– Rid Me Of Knives

Fazia um bom tempo que eu não ouvia um garage rock daqueles bem sujos. The Dogs segue essa proposta, com uma simplicidade encantadora. Recomendo sobretudo porque garage rock é um estilo que tem tudo para retornar nesse ano de 2020.

Full of Hell – Weeping Choir

Fazia muito tempo que uma banda de grindcore não me chamava a atenção e conheci o Full of Hell no disco colaborativo que fizeram com o Merzbow. De longe Weeping Choir é o trabalho mais consistente e maduro da carreira dos americanos.

L’Acéphale – L’Acéphale

O black metal americano tem mostrado muitas coisas interessantes nos últimos anos e fazia tempo que o L’Acéphale não lançava nada. E esse novo trabalho está um arregaço, muito bom de ouvir, experimental e sem os clichês tolos do gênero.

Possessed – Revelations of Oblivion

O grupo retorna com esse disco, que é uma baita pedrada. O que mais me deixou contente ao ouvir é que tem tudo do Possessed ali, mas sem soar saudosista demais.

The Ascent of Everest ‎– Is Not Defeated

Eu amo post-rock e confesso que fazia muito tempo que nada no gênero me impressionava tanto quanto os americanos do The Ascent of Everest. Tem elementos de rock alternativo e de ethereal muito bem colocados.

Drab Majesty ‎– Modern Mirror

Não tem como não falar do que já considero um dos grandes clássicos modernos do darkwave. Gênero que, aliás, carece de bons lançamentos tem um tempinho.

The Physics House Band ‎– Death Sequence

Eu não sou muito chegado em indicar EPs e singles, mas preciso confessar que o The Physics House Band ficou um bom tempo no repeat com o Death Sequence. Lembra muito aquele som desajustado do Blut Aus Nord, mas numa versão jazz / fusion com rock psicodélico que só escutando para entender.

Life On Venus ‎– Odes To The Void

Esse ano eu descobri essa banda de shoegaze russo, que supriu bem minha carência por discos bons do gênero esse ano. Inclusive eles também lançaram um EP com um cover para Girls, da banda Fawns of Love)

Lingua Ignota ‎– Caligula

Denso, sombrio e extremamente necessário em tempos como o nosso.

CHON – CHON

Este foi um dos anos que mais escutei math rock e com certeza o Chon contribuiu muito para isto. Este disco tem uma levada mais jazz e mais progressiva, somada a complexidade de guitarras e bateria.

True Moon ‎– II

Eu me arrisco a dizer que neste ano tivemos muitos discos interessantes de post-punk e o do True Moon ocupou um lugar especial no meu coração, sobretudo porque lembra um bocado as bandas femininas da década de 1980.

Hide ‎– Hell is Here

Graças ao maravilhoso Cvlt Nation eu conheci esse disco sensacional de música industrial, com fortes influências de punk e alguma coisa de leve de darkwave. Foram lançados pela mesma gravadora do Drab Majesty, que se eu fosse vocês, iria até o canal do YouTube para dar uma olhada.

Violet Cold ‎– Kosmik

Em praticamente todas as minhas listas de lançamentos aparecia alguma música do novo disco do Violet Cold, que para mim é um black metal atmosférico muito mais interessante que boa parte das bandas nessa pegada puxada para o shoegaze / rock alternativo.

Botanist ‎– Ecosystem

O que eu gosto do Botanist é a sua capacidade de realmente não ligar para o fato de parecer ou não com metal. Em Ecosystem eles continuam com um dulcimer no lugar das guitarras e fazendo o melhor black metal de todos os tempos. Ou não.

Wear Your Wounds ‎– Rust on the Gates of Heaven

Trabalho solo do vocalista do Converge, Jacob Bannon. É um rock alternativo com elementos de metal e shoegaze, muito diferente da pancadaria sonora de sua banda principal.

Boris ‎– LΦVE & EVΦL

Para mim o Boris é uma banda completa em todos os aspectos. Eles conseguem tocar em praticamente qualquer estilo possível, do pop ao noise e neste último disco eles voltaram às origens, apostando numa musicalidade drone, com muito experimentalismo e tudo aquilo que fez a glória do trio nos seus primórdios. Além disso, é mais um lançamento da Third Man Records, a gravadora do Jack White (sim, o mesmo do The White Stripes), que vem apostando em bandas menores e com mais qualidade.

Surra – Escorrendo pelo Ralo

Considero este ano, por conta de todos os nossos problemas com nossa política ultraconservadora, o melhor ano para o hardcore e o punk nacionais. E o Surra lançou um dos melhores discos da carreira.

Labirinto ‎– Divino Afflante Spiritu

Eu ouvi este antes do lançamento, ainda no ano passado e já sabia que seria, com certeza, um dos melhores discos de 2019. Embora eu ainda goste muito do Gehenna, este trabalho trouxe pela primeira vez uma música com vocal e espero que mais sons assim apareçam nos próximos álbuns.

Cadu Tenório ‎– Corrupted Data孤独死

Se eu posso dizer alguma coisa do Cadu Tenório é que hoje ele representa o melhor da música experimental / industrial brasileira, com diversas abordagens e formas. Corrupted Data soa exatamente como uma junção de tudo isso aí, com influências que vão desde o industrial mais cru até músicas de desenho animado / videogame. Ambicioso e bastante corajoso este álbum.

Picanha De Chernobill ‎– Sobrevive

Rock é lugar de protesto e conheci essa banda maravilhosa nos releases que recebi esse ano e também pela excelente música “sobrevive”, que fala sobre todos aqueles que foram mortos na luta contra a opressão.

E vocês, o que andaram ouvindo de bom este ano? Conte pra gente.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.