Minha lista dos melhores de 2020

6 min


0

Não tem ano sem lista de melhores álbuns e nesse eu não poderia esquecer de colocar aqui o que eu ouvi de mais interessante. É uma tarefa bastante difícil porque ouvi muita coisa em 2020 e boa parte dos lançamentos se deu próximo ao final, pois geral se tocou que a pandemia não iria passar tão cedo. Espero não ser injusto com nenhum artista esse ano.

Para isso estou colocando aqui alguns dos discos que me marcaram e você pode, se quiser escutar, clicar no nome para ir direto a este trabalho. Também vou deixar uma playlist no Spotify aqui para poderem ouvir um pouco de cada trabalho

Morte Psíquica – Suite Nº Zero


Conheci esse projeto quando preparava os discos góticos do dia (que não consegui cumprir, infelizmente). E considero uma das obras mais bacanas em língua portuguesa, com muitas influências dos anos 1980.

The End Of Electronics ‎– Safety Guidelines


O post-punk revival russo veio com força, ainda que eu considere bandas como Molchat Doma bem ruins. Mas alguns nomes legais surgiram como o The End of Electronics mostra que dá pra fazer umas coisas bem legais sem precisar copiar o rock soviético da era da Perestroika.

clipping. – Visions of Bodies Being Burned


Ouvi bastante hip hop experimental esse ano e muito disso é graças a esse disco. É um disco mais acessível para quem não conhece o clipping e recomendo fortemente que escutem.

Neptunian Maximalism – Éons


Um dos melhores trabalhos lançados esse ano de 2020, numa combinação de gêneros impressionante, do psicodélico à música oriental.

Oranssi Pazuzu – Mestarin kynsi


Oranssi Pazuzu lança mais um trabalho e, pelo menos para mim, o melhor da carreira. Além de explorarem o black metal psicodélico, arriscam sonoridades ainda mais experimentais e, claro, as letras em finlandês.

Thy Catafalque – Naiv


No começo do ano teve esse belo lançamento, combinando o metal de vanguarda com post-punk. Não é melhor que o Geometria, mas ainda sim foi um som que ouvi muito esse ano.

Death by Visitation of God – Past Intense


O Will Geraldo, que também pode ser chamado de o homem de muitas bandas, reviveu o Death by Visitation of God e trouxe esse ano um disco pesado, intenso e bastante carregado com um metal industrial bem no jeitão do metal industrial americano. Boa pedida para este ano.

tricot – 10


Math rock no Japão vem crescendo numa velocidade que não consigo acompanhar, até porque muita coisa nem chega aqui. E as minas do tricot fazem um trabalho excepcional com uma música complexa e ainda extremamente acessível.

Cremation Lilly – That Light Lasted Our Entire Lives, Nothing Simple and Everything Alive


Esse foi o ano que descobri o cloud rap (no ano que vem vamos falar desse e de outros microgêneros) e, com ele, dois artistas muito legais: Croatian Amor e Cremation Lilly. Esse disco é uma mistura de trap com noise e um pouco de shoegaze, numa pegada melancólica, pesada, densa e muito bonita.

Anna von Hausswolff – All Thoughts Fly


Eu gosto muito de música experimental e nesse ano pude conhecer e reouvir muitas mulheres que fazem esse tipo de som. A Anna lançou um disco inteiro tocando num órgão, da forma mais estranha e bizarra possível. Escutem.

Sightless Pit – Grave of a Dog


Dizem que a banda perfeita não existe, mas então o que é o Sightless Pit? Pega a Kristin Hayter do Lingua Ignota, o Lee Buford do The Body e o Dylan Walker do Full of Hell, combinando peso, experimentalismo, música erudita e um monte de coisa legal.

Negro Leo – Desejo de Lacrar


Música psicodélica, dissonante, experimental. Daria para fazer uma lista grande de gêneros abordados por esse disco do Negro Leo, inclusive passando por música concreta, scat, MPB e outras, numa dura crítica / resposta ao fenômeno de “lacrar” na internet. Finíssimo.

Mora Prokaza – By Chance


Ouvi ano passado a excelente URATSUKIDOGI, banda de black metal russa que mescla a estrutura do hip hop com o black metal. Nesse mesmo caminho o pessoal do Mora Prokaza chutou o pau da barraca, saindo do black metal convencional e abraçando o trap, sem deixar de lado a força e o peso do black metal, num resultado muito bom, se você não tiver a mente lá muito fechada.

Tantão e os Fita – Piorou


Carlos Antônio Mattos, o Tantão, foi um dos fundadores do Black Future e retornou com seu novo trabalho, Tantão e os Fita lá pros idos de 2017. Piorou, pelo menos para mim, reflete muito esse ano de 2020 e traz uma música de tendência dadaísta, combinando breakbeats, música industrial, fragmentação sonora e alguma coisa que mostra o quão caótico foi esse ano.

Uniform – Shame


Uniform lançou um dos discos de rock / metal industrial mais porradas desse ano. Ácido, forte, com letras de teor crítico à religião, versando sobre o tema da vergonha, da culpa e da mentira.

Primitive Man – Immersion


Depois do excelente Caustic, lançado em 2017, os mestres do sludge/noise mostram ainda mais barulho e ainda mais brutalidade. Pedrada do ano.

Katatonia – City Burials


Depois de um hiato que quase colocou fim à banda, o grupo resolveu lançar o excelente City Burials, que vai para uma linha mais próxima do rock alternativo, mas numa levada diferente do Viva Emptiness e fugindo daquele prog ruim do Fall of Hearts. Acertaram muito num disco emotivo, cativante e diferente.

Messias Empalado – O Evangelho dos Tempos de Ódio


Político, necessário, ruidoso e feito para incomodar a família tradicional brasileira.

Public Enemy ‎– What You Gonna Do When The Grid Goes Down?


Se tem um disco necessário HOJE é esse novo do Public Enemy. Seja pelos protestos contra o racismo, seja porque a gente voltou muitas décadas nas políticas sociais no mundo todo, seja porque continuam matando negro a rodo somente por serem negros, seja porque Public Enemy é foda em todos os sentidos, você tem que ouvir esse álbum HOJE.

Decepções desse ano

Veil of Secrets – Dead Poetry


Confesso que este disco está bem longe de ser ruim. Mas também é algo que precisava ser polido ou talvez ele me incomode por lembrar demais outras bandas e faltar personalidade. Nem mesmo o fato de ter membros de bandas que eu gosto (Vibeke Stene, ex-Tristania nos vocais; Asgeir Mickelson, ex-baterista do Borknagar; Sareeta, violinista do RAM-ZET), nem mesmo a pegada de doom old-school, nada disso me faz gostar desse disco. Ele me lembra muito o The 3rd and the Mortal com uma mixagem bem mais ou menos (notem que os instrumentos estão muito altos), o que mostra para um primeiro trabalho a falta de entrosamento, mas eu acredito que num segundo disco tenha, com certeza, algo muito melhor.

Sepultura – Quadra


Em toda a imprensa musical, eu fui o único que não conseguiu gostar desse disco. Eu consigo entender a proposta de fazer um resgate entre a nova sonoridade e a sonoridade antiga, mas é justamente esse tipo de coisa que eu não esperava depois do excelente Machine Messiah. Assim como o disco do Veil of Secrets, está longe de ser ruim, mas não foi para mim.

Menções Honrosas

Essa última parte se refere aos álbuns que ouvi alguma coisa nesse ano, mas não o bastante para entrarem nessa lista.

Rosetta Stone ‎– Cryptology

The Beauty Of Gemina ‎– Skeleton Dreams

Horror Vacui ‎– Living For Nothing…

Descendants Of Cain ‎– The Anthropo​$​cene Trilogy

Paradise Lost ‎– Obsidian

Draconian ‎– Under A Godless Veil

Vile Creature ‎– Glory, Glory! Apathy Took Helm!

Lucifer ‎– Lucifer III


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.