[Resenha] Ruins of Elysium – Amphitrite: Ancient Sanctuary In The Sea (2021)

3 min


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01. Alexiel – An Epic Lovestory (Ft. Melissa Ferlaak)

02. Queen Of The Seven Seas

03. Belladonna

04. Leviathan

05. Oceanic Operetta

06. Atlas

07. Book Of Seals

08. Amphitrite

09. Okami – Mother Of The Sun (Ft. Föxx Salema)

10. The Ocean Is Yemanja’s (Ft. Rayssa Monroy & Zaiiah)

11. Cathedral Of Cascades

12. Canzone Del Mare

Symphonic Power Metal, Independente

Faz uns anos que eu entrevistei o Drake sobre o Ruins of Elysium e outros assuntos afins. Desde aquela época eu esperava um disco bacana deles, pois sempre achei a proposta de colocar um vocal masculino operístico numa banda de power metal muito mais interessante que o padrão de voz fina que se tem na Europa.

Antes de começar, preciso pontuar que, em geral, o gênero do metal sinfônico anda bem capenga e brega, com bandas cuja sonoridade é uma repetição de clichês que me incomodam. Exceto talvez pelo Bendida, que tem uma proposta musical parecida com a do RoE, geral das bandas não tem feito parte das minhas audições nos últimos anos.

Dito isso, digo, com certeza, que Amphitrite: Ancient Sanctuary In The Sea é um disco corajoso e pomposo. Corajoso por apostar as fichas em um gênero muito desgastado e se sair muito bem na sua proposta e pomposo pelo tom cinematográfico de parte considerável das canções.

No geral, aposta em sonoridades de músicas tradicionais e busca, ainda que repetindo muitos dos clichês, buscar a sua identidade e focar as melodias na voz do Drake e dos convidados. Espere ouvir um power metal que bebe diretamente de fontes como Nightwish fase-Tarja, Kamelot, Stratovarius, Helloween e outros medalhões do Power Metal, além de bandas sinfônicas como Dimmu Borgir e Cradle of Filth. Mas não espere nenhuma cópia ou referências que não funcionam. Aqui tudo funciona e muito bem.

Outro destaque são as convidadas, que somam suas características pessoais ao álbum e não são ofuscadas pelo vocalista. Junto deles temos um Drake apresentando versatilidade na voz de maneira muito agradável, não se limitando apenas ao canto operístico, apresentando alguns elementos próximos do metal tradicional.

Com seus mais de oito minutos, Alexiel – An Epic Lovestory abre com o dueto entre Drake e Melissa Ferlaak, conhecida pelos seus trabalhos nas bandas Aesma Daeva, Visions of Atlantis e Echoterra. Bombástica, épica, tem uma apresentação digna de uma trilha sonora de filme épico e, pelo menos para mim, a canção mais clichê desse disco. Queen Of The Seven Seas continua com o som épico, mas agora aproxima-se do power metal convencional, além de um violino de fundo muito bonito e que vai te fazer lembrar do Rhapsody no começo da carreira. Em Belladonna há uma mudança radical na sonoridade, com uma introdução cheia de blast beats e com o vocalista Drake mostrando todo o alcance da sua voz e versatilidade, inclusive com partes de voz num estilo em que se abre mão de um pouco da melodia vocal e algumas marcas que se assemelham a vocalistas como Russell Allen (Symphony X) e Daniel Gidelow (Pain of Salvation), inclusive uma canção que ficaria ainda melhor sem os corais.

Quando as canções começam a ficar apenas no sinfônico / épico, Leviathan começa no melhor estilo rock de arena. Essa mudança e esse “pé no freio” traz uma mudança muito bem-vinda ao álbum, além de uma mudança dentro da música remetendo ao power metal tradicional. Oceanic Operetta tem influências de música celta e serve como um interlúdio para a segunda metade do disco. Atlas retoma o começo épico, somando as influências das músicas anteriores, numa sonoridade forte e com instrumental muito bem executado.

Mais uma mudança musical excelente fica com Book Of Seals, uma canção de rock com influências de música celta, com poucas partes sinfônicas e que ganha peso conforme a música avança. Flerta bastante com bandas de folk metal como Cruachan e Tuatha de Danann, incluindo o vocal gutural bem inserido e a presença dos blast beats. Amphitrite segue a linha da canção anterior, com mais apelo ao folk rock, ao pop e é a canção menos metal. Okami – Mother Of The Sun, com a participação especial da Föxx Salema cantando em japonês, traz elementos da música folclórica japonesa, aliado ao metal. Lembra de leve a Wagakki Band pelo uso de instrumentos tradicionais. Para mim é a melhor música cantada pelo Drake de todas as canções.

Em The Ocean Is Yemanja’s, com participação da Rayssa Monroy (Vangloria Arcannus) e Naisa Zaiiah traz toda a brasilidade numa canção com influências de muitos ritmos brasileiros e afro-brasileiros, numa levada bem ao estilo Holy Land do Angra. Minha única crítica é que ela soaria muito bem se fosse inteiramente cantada em língua portuguesa, pois as participações fazem as partes em nossa língua e ficam incríveis, trazendo também a força do rap, algo até então inédito dentro do metal, além de uma crítica contra a transfobia aliada a um som que se transforma num belo crossover com forró e metal. Cathedral Of Cascades já aponta para o final da epopeia musical, com muitos corais, muito peso e muita bateria, em uma mistura que vai do neoprog ao power metal. Canzone Del Mare encerra esse trabalho de forma magistral, sem perder a energia e a empolgação.

Destaco também a excelente produção de Vincenzo Avallone para esse disco, mantendo todo o conjunto bem claro e limpo, mesmo em partes mais rápidas e ríspidas, ainda que o timbre de bateria em alguns momentos me incomode um pouco.

No geral, é um disco muito bom, sobretudo por trazer um fôlego necessário ao power metal sinfônico que sempre primou pelos excessos. Se você, assim como eu, não tem paciência para algo tão clichê quando power metal, recomendo a audição. Você vai se surpreender.

Ruins of Elysium - Amphitrite: Ancient Sanctuary In The Sea
  • Nota Geral - 8.5/10
    8.5/10

Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.