[Resenha] Sasha Grey As Wife – Ashtar Sheran II: Umbral

3 min


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  1. Gehenna
  2. Larva Migrans
  3. Jerusalem Syndrome
  4. Doppleganger #1
  5. Proxy Paige
  6. Esthetica Bloody Esthetica
  7. Ashleigh Morris
  8. Crackheads
  9. Hoax
  10. Couchlock
  11. Doppleganger #2
  12. Everest
  13. Trauma
  14. New Traditional (LaGiraffa Bathory Tattoo)
  15. DST
  16. The Theory Of Biological
  17. Involution
  18. Umbral

Rock experimental, Tá Na Capa

O mais legal de saber que o Júlio Victor ainda continua com o projeto dele do Sasha Grey As Wife me trouxe bastante alegria, para não falar surpresa, pois no intervalo de poucos dias foram lançados dois discos, continuando pelo nome de Ashtar Sheran. Sua temática reside na situação do ser humano e a internet, seu isolamento do mundo e também a busca por uma identidade dentro de uma era cheia de falsas notícias, problemas de ordem mental, problemas sociais e o constante processo de desumanização. Musicalmente consegue juntar post-rock, grindcore, spoken words, rock psicodélico, black metal, rock industrial, jazz, math rock, entre outros, exigindo músicas mais pesadas que seu predecessor.

O disco começa com Gehenna, que serve de interlúdio para explicar qual a temática principal deste álbum, que é explorar o pior lado da humanidade, daí o subtítulo Umbral, que remete à escuridão. Larva Migrans é o mais puro post-black metal, com bateria programa em blast beat, soando um pouco artificial e o vocal em inglês ressoa num tom desesperador, no melhor estilo Depressive Black metal, evocando a tristeza de se viver e as situações que levam o ser humano a um estado de depressão. Jerusalem Syndrome aposta num rock progressivo com guitarras bem interessantes e algumas levadas de indie rock / shoegaze, intercalado por falas de Júlio acerca da futilidade da religião frente a um mundo digital, importando cada vez mais as aparências e que as pessoas veem influenciadores como seus novos deuses, enquanto o mesmo vocal desesperador canta em inglês ao fundo. Doppleganger #1 é uma música curta, rápida e seca com o melhor do grindcore e algumas partes de rock psicodélico. Mantendo a tradição de nomear pelo menos uma música com o nome de uma atriz pornô, Proxy Paige tem uma levada meio trip-hop / rock industrial, remetendo um bocado ao Nine Inch Nails e discursa sobre a solidão, sexo e os relacionamentos humanos. Uma bateria tribal marca a Esthetica Bloody Esthetica, numa levada na mesma pegada do Godflesh e do Screw, um rock industrial bem old-school que crítica os padrões estéticos como aqueles que te definem por um ideal inalcançável.

Ashleigh Morris é o nome de uma mulher que tem alergia à água e também a sétima música, que procura ir no caminho do rock alternativo e a nossa impossibilidade de manter um diálogo com outro ser humano pela nossa incapacidade de comunicação.     Crackheads é sobre como a gente se vicia em sensações, num hedonismo muito forte que retorna ao grindcore nessa música curtinha, com bateria forte e rápida. Hoax toca na ferida das fake news e do compartilhamento irresponsável num fusion épico e muitos diálogos com o ouvinte. Couchlock tem algumas guitarras puxando levemente pro stoner rock, com distorções e que abre caminho para Doppleganger #2, com mais rock psicodélico e grindcore fritanto a cabeça, com momentos bem rock progressivo, sobretudo pela forte presença das guitarras. Everest começa apresentando um post-rock / metal atmosférico com marcação forte na percussão e vocais etéreos e um bocado de distorções.

Trauma remete sobre os males que marcam a nossa vida e, para tal, vai numa levada post-metal bem na linha do Neurosis, também misturando com rock industrial, bateria tribal e distorções. New Traditional (LaGiraffa Bathory Tattoo) destoa de todo o resto por começar com um folk e narrar um diálogo metalinguístico sobre a concepção dessa música acerca da tristeza, para depois ir num trip-hop bem experimental e ruidoso com rock alternativo, sendo difícil de classificar em que gênero exatamente essa música se encaixa. DST questiona a existência e a condiciona como uma doença transmissível, num prog rock com marcas de bandas dos anos 1970, com forte uso de vocoder na voz, para depois se transformar num sludge dos mais densos. The Theory Of Biological lembra um bocado do Dog Fashion Disco e o Mars Volta, com seu estilo avant-garde marcado por guitarras num estilo meio funk, meio rock, com fortes traços de math rock e também apresenta a temática mais fatalista de todas, sobre a felicidade como algo temporário e frágil. O disco finaliza com Umbral e seus 14 minutos que resumem todas as temáticas do disco, sendo também uma mescla de todos os estilos que apareceram ao longo deste trabalho.

No final, pode-se entender que Ashtar Sheran II: Umbral é um respiro musical dentro de um mar de mesmice, tudo feito de forma muito competente por um único homem. Faça um favor para você mesmo e desfrute deste maravilhoso lançamento.

Sasha Grey As Wife - Ashtar Sheran II: Umbral
  • Nota Geral - /10
    0/10
9/10

Summary

Excelente disco, com uma bem-vinda mudança de sonoridade e uma temática sombria.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.