Velvet Ocean: “uma mudança radical e permanente nas pessoas é algo muito difícil de acontecer”

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Estamos com mais uma excelente entrevista, dessa vez com o pessoal do Velvet Ocean, uma banda que conecta suas músicas com as emoções. Batemos um papo com Riitu Ronkaine, vocalista e Jake Ronkainen, guitarrista. Confiram!

A Finlândia sempre me impressiona com uma cena musical muito rica. Começando nossa entrevista, poderia nos contar um pouco sobre a história do Velvet Ocean? Por que escolheram esse nome?

Jake: Obrigado! Velvet Ocean é uma banda de metal melódico com sete integrantes de Oulu, norte da Finlândia.

Ela foi fundada originalmente por mim e pelo vocalista Riitu em 2015, quando começamos a fazer músicas juntos. A ideia era tentar descobrir o que sairia se a gente colocasse algumas ideias no “papel” e depois fizéssemos um álbum completo a partir disso.

Como logo descobrimos, o projeto de co-composição avançou surpreendentemente bem e começamos a juntar músicos primeiro para tocar com a gente no estúdio e depois na banda. O nome “Velvet Ocean” é de uma letra que escrevi muito antes para uma banda de metal progressivo a qual eu cantava. Em uma música, havia uma frase: “sinking in velvet ocean of time”, que é uma metáfora para a morte. Por outro lado, acho que o nome também descreve bem a nossa música. O oceano às vezes pode ser aveludado e calmo, às vezes mais violento e intimidador.

Quem ou o que te inspirou a fazer música? Porque, pelo menos para mim, a sua banda soa como uma boa mistura entre Evanescence, Lacuna Coil, Paradise Lost, com alguns tons mais pop.

Riitu: Essa é sempre uma pergunta difícil, pois ouço muita música de gêneros diferentes e acho que, de certa forma, tudo me afeta. Influências de pop certamente aparecem porque eu escutava muito pop e também “schlager” finlandês quando era mais novo. As minhas primeiras bandas foram Metallica e Stratovarius. Depois conheci Within Temptation, Evanescence, Music e Amorphis. A música clássica também é interessante, bela e dramática, na minha opinião. Acho nossa própria música melódica, um metal muito original com influências de vários gêneros diferentes, incluindo pop e grunge, assim como metal gótico, sinfônico e progressivo. Nossas músicas também são muito honestas e emotivas. Não queríamos limitar nossa música a nenhum gênero , mas sim fazer o tipo de música que vem à nossa mente naturalmente.

Jake: É claro que há um monte de bandas que ouvimos no passado e não diria que nossos gostos musicais dentro da banda são parecidos. A ideia original é não tentar imitar uma banda ou um estilo musical. Pelo contrário, a gente concordou em considerar todas as ideias possíveis, mesmo as mais estranhas, para então encontrar um estilo para a nossa banda. Então acho que poderia dizer que na nossa música vocês pode ouvir metal em conjunto com todas as outras diferentes bandas e estilos que escutamos, seja intencional ou não.

Você poderia nos descrever como é o seu processo criativo? Onde você encontra ideias para melodias, letras etc.

Riitu: Ideias normalmente me aparecem do nada. Pode ser a qualquer hora e lugar. Algumas podem surgir no meio da noite e algumas vezes quando vejo algo especial na paisagem. As letras surgem de alguma sensação ou experiência que tenho com o momento. Também tenho uma imaginação fértil e isto ajuda muito a compor músicas.

Jake: Acho que geralmente encontro ideias para canções e riffs apenas experimentando. Apenas toco guitarra ou algumas vezes no piano, que eu pessoalmente não sou muito bom, de forma libre e se alguma coisa interessante aparece, gravo com o telefone para usar mais tarde.

Acho que novas ideias não são difíceis de surgir, mas é muito mais difícil reconhecer as boas realmente boas e que também sejam as melhores de serem usadas. Nas letras uso a livre associação apenas. Claro que isto requer o estado de espírito adequado, mas posso apenas escrever uma frase em um papel e tentar expandir a ideia, continuar o pensamento ou dizê-lo de outro jeito.

Costumo não escrever letras para uma canção em específico, o que me faz precisar reorganizar essas ideias aleatórias mais tarde para encaixar na melodia.

Quais as suas influências? Quais artistas você admira ou te inspiram?

Riitu: Sou fascinado por cantores que são versáteis e que usem suas vozes de modo diferenciado. É importante que a voz tenha emoção e sensibilidade, mas também dinâmica e força quando necessário. Nesse quesito, eu acho que se encaixam Anna Eriksson, Laura Voutilainen, Sharon den Adel, Haley Reinhart, Amy Lee, Matthew Bellamy e Freddie Mercury.

Jake: Considero meu gosto musical bastante versátil e tenho ouvido rap, jazz, música clássica e grunge além de muitos estilos de rock e metal. Os primeiros discos que comprei foram Sergei Rachmaninov’s Piano Concerto No. 3 e um de jazz, Trio Töykeät – G’Day. Escuto também Led Zeppelin, Deep Purple, Gary Moore, Steve Vai, Helloween, Iron Maiden, Metallica, Dio, Dream Theater, Protest the Hero, Pearl Jam, Guns ‘n’ Roses, David Lee Roth e Skid Row, entre muitos outros.

Este ano vocês lançaram um novo trabalho, Purposes and Promises. Como foi a produção? O que vocês gostaram mais?

Riitu: Gravamos e produzimos o álbum de forma independente, mas foi mixado e masterizado na Suécia no Fascination Streets Studios. Para falar a verdade, compor as músicas foi muito fácil, mas arranjá-las, gravá-las e produzi-las foi muito difícil e demorou um bocado. No entanto, ficamos bastante satisfeitos com o resultado final. Para o próximo single, estamos trazendo um produtor externo que certamente trará uma nova perspectiva sobre as coisas. Estamos ansiosos para ver onde poderemos chegar com esse produtor.

Jake: Acima de tudo, vejo o primeiro disco como um tipo de aprendizado e processo de amadurecimento para a banda. No começo ainda não tínhamos uma ideia claro sobre qual tipo de música estávamos fazendo e agora é ainda interessante continuar a fazer novas canções com essa mesma visão.

Uma pergunta bem desconfortável: como a COVID-19 te afeta? Você acha que o mundo irá mudar após a pandemia? Pessoalmente eu não acho que as pessoas serão mais simpáticas umas com as outras e penso que as coisas ainda serão iguais.

Riitu: Isto é muito triste e assustador. Felizmente, a gente continua saudável. Parece que, pelo menos para mim, a situação teve algum impacto. Acho que posso ser feliz com as pequenas coisas da vida. Cada momento de saúde é um presente e tenho que curtir cada um mais que o anterior. De alguma forma, pensamos que a situação mudaria as pessoas, mas agora percebe-se como tudo é facilmente esquecido e continua como se nada tivesse acontecido. Pessoalmente, tento mantes meus olhos abertos e ser cuidadoso não apenas comigo, mas com todos que eu amo. Algumas vezes parece difícil de lembrar como a situação está. Ainda sinto como se fosse um sonho ruim.

Jake: Acho que uma mudança radical e permanente nas pessoas é algo muito difícil de acontecer e que requer mais que uma pandemia. E eu concordo contigo. Entretanto,

Devo dizer que há muita injustiça, desonestidade e desigualdade no mundo que alguma coisa tem que ser feita e muitas coisas precisam mudar a longo prazo. Como faremos isso é uma questão muito difícil, mas ficar reclamando dessa dificuldade é uma desculpa preguiçosa para não fazer nada. Durante a pandemia, tivemos a sorte de continuarmos saudáveis, mas realmente espero que isto fique melhor e que não acontece nada de pior.

Continuando a pergunta anterior, e as lives? Qual sua opinião sobre músicos que se apresentam em lives no Instagram, Facebook, YouTube? Aqui é um pouco comum para aristas mais famosos.

Jake: Acho que é um modo excelente de engajar os fãs enquanto os shows ao vivo estão Claro que não tem algo que substitua shows de verdade, mas lives ainda proporcionam uma conexão com o público. Também participamos do “DarkStream Festival” em maio agora, mas reservamos um pouco do tempo extra para preparar mais material para um futuro lançamento.

Riitu: Claro, isso é ótimo, especialmente nesta situação. Se piorar novamente, acho que devemos pensar também em um mais shows por streaming. Isto torna mais fácil de alcançar um público global nas redes sociais e qualquer um que esteja interessado pode ver a apresentação de sua banda favorita, Ainda bem que essas coisas estão sendo feitas.

Somos um site brasileiro de música e, claro, sempre perguntamos sobre bandas daqui do país. Você conhece alguma? Quais você curte?

Jake: Devo admitir que poderia estar mais atento à música brasileira, mas sei que a sua música tradicional, como samba e bossa nova, são muito populares. Também devo mencionar Sepultura, claro, assim como Angra e Shaman, lideradas pelo André Matos que, infelizmente, nos deixou há pouco tempo. O guitarrista Kiko Loureiro, que também toca no Megadeth, e acredito que more na Finlândia atualmente.

Riitu: Para falar a verdade, conheço pouco sobre as bandas do Brasil. Conheço Sepultura apenas. Não sou uma grande conhecedora da música deles, mas sei que eles vão muito populares. Isto é uma grande conquista por parte deles. Preciso conhecer mais bandas de metal brasileiras!

Você vive da sua música ou tem outro emprego? Aqui no Brasil é bem difícil ser um músico em tempo integral, pois equipamentos são caros e o dólar não tem ajudado. As pessoas também não apoiam bandas novas e preferem pagar por um show caro a ajudar um artista local.

Jake: Dois de nós, o violoncelista Arto e o tecladista Jami, são músicos profissionais, mas o resto da banda trabalha durante o dia. Acho que é um problema universal, quando você decide a ter uma carreira musical séria, que os custos começam quase imediatamente, e o dia que isso começa a ser rentável muitas vezes leva anos. Acho que é preciso ter algum planejamento sobre o que fazer e quando fazer e como isso se financia. É bastante natural que as pessoas queiram estar no lado dos “vencedores” e, portanto, é preciso trabalhar um pouco mais e mais do que o esperado para obter visibilidade e popularidade suficientes para que as pessoas comecem a ir para os shows. Também é preciso amar tanto fazer música que esteja pronto para pegar toda a porcaria e seguir em frente.

Riitu: Não vivemos apenas de música. Não temos um nome grande o bastante para isto. É bem difícil alguém sobreviver apenas fazendo música por aqui. Apenas precisamos de dinheiro o bastante para viver. Espero que um dia consigamos viver fazendo apenas música sem outros afazeres.

Amo muito música e quero fazer dela um trabalho. Isto exige muito, mas estamos prontos para isto.

Tem alguma recomendação de bandas locais? Recentemente descobri algumas bandas finlandesas de post-punk e acho que a gente aqui não sabe como é rica a cena aí.

Jake: É fato que há muitas bandas pouco conhecidas por aqui. Acho que muita gente conhece o Nightwish e o Amorphis. Uma banda das antigas que vale a pena conhecer é o Kingston Wall. É um grupo de rock progressivo que tem um status de “cult” hoje aqui na Finlândia. Laika and the Cosmonauts é um caso peculiar. Algumas outras bandas menos conhecidas e bem interessantes são Dark Sarah, Shadecrown e Dark Flood, entre muitas outras. Também poderia recomendar, para quem gosta de jazz, Iiro Rantala e Trio Töykeät, e o Sibelius, para quem é mais chegado em música clássica.

A gente aqui agradece o seu tempo e gostaríamos muito que deixasse algumas palavras para os nossos leitores. Manda bala!

Riitu: Muito obrigado por esta entrevista! Fique saudável, ouça boa música e pense em coisas positivas! Cuide de seus entes queridos e diga-lhes que você os ama. Isso é importante nestes tempos. Juntos vamos sobreviver em qualquer lugar!

Jake: Muito obrigado por esta entrevista! Deem uma conferida na nossa música. Ela pode surpreender você positivamente! Fiquem saudáveis, pessoal!


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.