Lagrima Negra: Entrevista com Davi de Graaff

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O Brasil não possui muitos expoentes em gêneros que são muito difundidos na Europa e nos EUA. O Dark Electro é um deles. Talvez seja por termos ainda um público limitado ou mesmo a falta de interesse em produzir algum material diferente, é fato que devemos e muito valorizar os artistas que cá aparecem. O Lagrima Negra, idealizado por Davi de Graaff é, seguramente, nosso melhor representante, junto do Fernando Nahtaivel, de alguma coisa que certamente tem de tudo para crescer em nosso país.

Davi e seu home studioGROUNDCAST Temos a honra de entrevistar Davi de Graaff, fundador do projeto Lagrima Negra e lançando seu novo disco, intitulado “The Flower of My Loneliness”, pela gravadora Wave Records. Então, para darmos início, poderia nos contar sobre a sua história como músico?

DAVI DE GRAAFF Ao escutar o álbum ‘Roots’ do Sepultura aos 14 anos e mais adiante varias bandas de Metal Gótico e Black Metal Sinfônico, me despertou um enorme fascínio pela guitarra, foi onde comecei a ter aulas particulares. Pouco tempo depois ingressei no conservatório da minha cidade para fazer aulas de teclado, canto e violão, lá conheci uma grande amiga e professora de canto lírico cuja qual montei em parceria um projeto na época intitulado “Lagrima Negra & La Madre”, o foco era criar novos arranjos para peças eruditas, cujas quais eram eletronicamente produzidas, chegamos a gravar uma demo com 10 músicas mais ou menos. Já o interesse pela musica eletrônica para pista vem desde que me entendo por gente, acredito que aos 12 anos já me empolgava com Euro dance, o estilo de som que era na época acessível. Consequentemente o interesse e busca por ferramentas de trabalho eletrônicas foram inevitáveis. Aos 16 anos tive meu primeiro teclado e descobri os softwares como Fruity Loops e Samplitude nos quais produzi minhas primeiras obras. Bom, desde então tenho parado e voltado a estudar por conta própria uma serie de vezes a guitarra, violão e o teclado. O foco tem sido mesmo na produção e composição

GROUNDCAST Olhando os seus projetos no Soundcloud, noto que existe uma variedade muito grande de estilos abordados, indo do EBM ao Trance. Então, como você define musicalmente o Lágrima Negra?

DAVI DE GRAAFF O que posso afirmar com certeza é sobre meu gosto musical, sou um grande fã de EBM, Industrial, Trance, Electro, Neo-Folk, Synth Pop, 80’s, gêneros variados de Metal como Goth, Folk/Pagan, Symphonic Black metal etc. Entretanto eu deixo a definição do meu estilo a critério do ouvinte. Lagrima Negra será o que você quiser que ele (a) seja.

GROUNDCAST O que te influencia? Pessoas, livros, escritores, anões…

DAVI DE GRAAFF Sou influenciado pelo meu dia a dia e por tudo e todos passam por ele. Seja uma nova ideia que tenha ouvido, um novo lugar que tenha conhecido, um novo filme que tenha assistido, uma nova pessoa com quem tenha conversado, uma nova música que tenha ouvido, uma nova experiência que tenha tido.

GROUNDCAST Já trabalhou em outros projetos/bandas?

DAVI DE GRAAFF Fora o projeto que mencionei anteriormente [Lágrima Negra & La Madre], com qual trabalhávamos em cima de peças clássicas criando e produzindo novos arranjos, tive algumas bandas com amigos, mas nada que tenha se concretizado por além de um curto período de tempo.

GROUNDCAST Eu conheci o Lagrima Negra por conta do remix que você fez para a música Audition, do Nathaivel, presente no disco novo do teu projeto e na compilação do Groundcast. Além disto, você também remixou músicas de outros artistas, como o The 3 Cold men. Como foi realizar este trabalho?

DAVI DE GRAAFF Eu tenho o maior prazer em remixar músicas de artistas que conheço e desconheço, e para isto acontecer basta que o som original agrade aos meus ouvidos. Remixar é uma ótima maneira de aprendizado para um músico, pelo menos funciona pra mim. Assim como dizem que o melhor escritor é aquele que mais lê do que escreve, creio que o melhor músico é aquele que mais ouve, estuda e homenageia seus artistas favoritos com covers, remixes, versões etc.

Disco “The Flower of my loneliness “

GROUNDCAST Conte-nos sobre seu primeiro disco, o “The Flower of My Loneliness”.

DAVI DE GRAAFF Acho que cada música que surge é fruto de momentos diversos de minha vida, por exemplo, uma nova experiência que vivenciei, os arredores, minha condição emocional etc. Portanto poderia levar horas falando a respeito. Sinceramente o mais importante é o que você Fabio, ouvinte, críticos e Cia tem a me dizer sobre a obra, quais foram os sentimentos que lhe despertaram, que visões tiveram etc.

GROUNDCAST Recentemente você se apresentou na casa noturna Madame (antigo Madame Satã). Como foi a experiência? E a reação do público?

DAVI DE GRAAFF Na verdade não houve show, só foi mesmo uma festa de lançamento. No momento ainda estou à procura de membros para o projeto antes que possa me apresentar. Já estou preparando ensaios com uma cantora bem talentosa e peculiar, Lumedora Montfort (vocalista e feiticeira dos Pecadores) e gostaria de encontrar mais um (a) vocalista ou dançarino (a). Fica aí o recado pra quem estiver lendo a entrevista!

GROUNDCAST Você acompanha ou participa da cena gótica? Por quê?

DAVI DE GRAAFF Gostaria antes de saber de você qual a sua definição da “cena gótica” e quem faz parte dela. Seria um grupo de pessoas que gosta de 80’s e vai para a balada a caráter, ou quem sabe uma galera que se encontra no cemitério para beber vinho e recitar poemas? Indivíduos fascinados pelo período e arte medieval? Fãs de Tim Burton e Stephen King? Ou ainda os fãs da música Industrial e Ebm que nem sempre gostam de ser chamados de ‘góticos’, ou até mesmo um headbanger fã de Tristania? Se de alguma maneira a sua resposta é um sim para minhas perguntas eu poderia dizer que participo sim da cena gótica. É simplesmente um mundo diverso e complexo que me traz conforto e prazer!

GROUNDCAST Você consegue viver de música? Como é a situação de um músico cujo estilo ainda é pouco difundido no Brasil?

DAVI DE GRAAFF Eu ainda estou me preparando para minhas primeiras apresentações com o Lagrima Negra. Apesar de já estar situado sob a situação do músico underground por intermédio de amigos do meio com mais experiência que eu, ainda é muito cedo pra dizer se tratando de mim, afinal nunca se sabe. E devido a essa incerteza meu foco no momento é no exterior, principalmente Europa onde a arte (seja lá’ qual forma de arte for) é tratada com mais seriedade e respeito do que no Brasil. Entretanto, assim como Marky e Patife o fizeram, espero levar a importância e o valor da musica eletrônica do meu país mundo afora e consequentemente acordar o próprio brasileiro para as riquezas que ele dispõem mas não se da conta.

GROUNDCAST Li que você estudou produção musical na Holanda. É mais fácil trabalhar lá com música do que aqui?

DAVI DE GRAAFF De certa forma sim. Percebi que o holandês e acredito que o europeu no geral trata a arte e o artista com valor, diferentemente do brasileiro que pensa no artista como um boêmio desocupado. Não só na música como em qualquer outro campo da arte as possibilidades são maiores. Enquanto aqui musica experimental é tratada como motivo de piada por muitos, lá’ existem universidades que dispõe de cursos para estudo da Música Concreta (Musique Concrète).

GROUNDCAST Bem, certa vez olhando o seu Soundcloud, vi que você fez uma versão para nosso maravilhoso clássico, a música Lambada, da banda Kaoma. De onde surgiu a ideia de fazer esta versão para Lambada?

DAVI DE GRAAFF A versão de Lambada foi lançada um pouco depois do meu nascimento e posso dizer que a escutei por ai durante minha infância e adolescência por um bom tempo, sou frenético por sonoridades dos anos 80. Assim como para ‘Kaoma – Lambada’ tenho feito e farei durante toda minha carreira varias outras homenagens a meus ídolos e músicas marcantes em minha vida. Até o momento fiz alguns tributos para artistas como: Sisters of Mercy, Nena, Korpiklaani, Sepultura, Dulce Liquido, Suicide Commando etc. Alguns deles também estão disponíveis para free download no meu soundcloud!

GROUNDCAST Quais os equipamentos que você utiliza? Usa softwares?

DAVI DE GRAAFF Tenho um teclado midi, um controlador midi para performances, dois laptops, microfone, placa de áudio, guitarra, violão etc. O que é por sinal um home estúdio bem básico, nada exageradamente caro, apenas bastante para atender as minhas necessidades momentâneas. E sim, uso softwares, eles são sem dúvida minha maior ferramenta de criação, logo que comecei na produção utilizava Fruity Loops, Reason e Samplitude, de alguns anos para cá abracei de vez Pro Tools e Logic, ambos me acompanharão por mais muitíssimos anos, creio.

GROUNDCAST Quais as dicas que você dá para quem quiser começar a fazer música eletrônica?

DAVI DE GRAAFF Não só pra quem quer trabalha com música eletrônica, mas qualquer outro estilo musical, talvez a mente aberta para a diversidade seja o primeiro passo. Sem dúvida a intolerância vai nos acompanhar a cada dia de nossas vidas, cabe a nós tentar evitá-la em certos momentos para que tenhamos a oportunidade de conhecer o desconhecido. Pessoalmente é a medida que tenho adotado já há algum tempo e o que me possibilitou conhecer e gostar de estilos que por um instante imaginei jamais conseguir apreciar. E é partindo deste conhecimento diverso que você terá a condição de criar algo realmente novo.

GROUNDCAST Você disponibilizou muitas músicas e versões suas pelo Soundcloud e isto me remete a pergunta: o que você pensa do compartilhamento de mp3? Qual sua posição sobre isto?

DAVI DE GRAAFF Francamente eu nunca comprei um cd original ou um mp3 pela internet, e a não ser que seja da vontade do indivíduo eu não espero que os outros não façam o mesmo se tratando de minha música. Todos sabem que o músico em sua maioria ganha seu sustento fazendo shows. Quanto mais de suas músicas alcançarem ouvidos interessados mais serão as chances de surgirem novos shows. Portanto esse é meu objetivo.

GROUNDCAST Você já recebeu convite de shows ou de artistas para trabalhar junto ou remixar músicas?

DAVI DE GRAAFF Se tratando da música como ‘negócio’ é tudo muito novo para mim. O lançamento do álbum foi um pequeno empurrãozinho para o início da minha carreira. Muita coisa ainda estar por vir, espero. Até o momento os convites para remixes foram feitos pelo Alex Twin (Wave Records), dentre os artistas estão: Nahtaivel, Pecadores, 3 Cold Men, Dominion, Florence Foster, Evadam Grabar.

GROUNDCAST Quais artistas você recomenda? (Vale qualquer estilo)

DAVI DE GRAAFF A lista é enorme, portanto vou sintetizá-la mencionando alguns artistas que me acompanharam e ainda me acompanham: Sisters of Mercy, Nobuo Uematsu, Dark Sanctuary, Ataraxia, Mauro Giulianni, Andy LaPlegua, Sesto Sento, Vibe Tribe, Infected Mushroom, Dimmu Borgir, Nightwish, Children of Bodom, Korpiklaani, Tristania, Ultravox,

Suicide Commando, Laibach etc.

GROUNDCAST Então, agradeço demais, senhor Der Graaff, pela entrevista concedida. Agora é aquele momento em que você pode falar algumas coisas para nossos leitores. Manda bala.

DAVI DE GRAAFF Carreguem consigo por onde andarem o ódio e amor de forma balanceada, ambos em conjunto foram e serão responsáveis por revoluções e mudanças significativas no mundo em que vivemos. Porém nunca deixe que um deles tome controle absoluto sobre você e seus ideais. Para que haja harmonia é preciso que haja desarmonia!

Muito obrigado mesmo a Fabio Melo, Groundcast e Cia pela oportunidade! Apoiarei e acompanharei o crescimento de vocês de perto!!

Grande abraço.

Links Relacionados

Facebook: http://www.facebook.com/Lagrimanegramusic

Soundcloud: http://soundcloud.com/lagrima-negra



Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.