[Review] Rádio Morto – Testamento (2013)

2 min


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Existem alguns trabalhos que prezam pela originalidade, outros pela coragem. No caso do novo disco do Rádio Morto, temos o extremo dos dois casos, onde o primeiro acaba se tornando a causa do segundo.

Em primeiro lugar, ao ouvinte incauto, trata-se de um trabalho que mescla o post-punk com o experimental, numa linha que remete ao SPK. Aviso muito bem vindo, aliás, pelo fato de a música da Rádio Morto ser de audição difícil, dados alguns elementos descritos abaixo.

Num primeiro momento, parece ser uma gravação de baixa qualidade. E é exatamente este o propósito, soar como algum ruim, mal acabado, malfeito. Com estas qualidades o disco se transforma numa experiência muito interessante para o ouvinte.

“Ad Morten” é uma faixa instrumental esquisita, estranha, que começa com um violão e uma sirene. “Gótica Profana” é uma música de post-punk bem minimalista, já com mostras do que virá no disco, com seus chiados e vocal estourado na maior parte das músicas. ”Misantropia” tem um trecho narrado do finado Alborgheti e continua com um rap bem bacana. “Santa Vadia” funciona como um interlúdio para a próxima música, “Garota Cadáver”. Esta música tem uma percussão em lata remetendo ao experimentalismo do Test Dept, mesclado ao post-punk, criando uma melodia que dissoa do vocal. “O Indigente” é a faixa mais “normal” deste disco, contendo uma melodia de violão e a letra cantada num ritmo diferente do que é tocado. “Vultos Satânicos”, a melhor faixa deste trabalho, flerta com o Power Electronics e com o Noise, lembrando um pouco o trabalho do Disciplina Urbana. “Urubus na Carniça” soa mais post-punk, ainda com algum experimentalismo, enquanto “O Vale da Sombra da Morte” é um trip-hop muito bom. “Testamento”, a faixa título, é um trabalho de post-punk experimental, com variações no vocal e no volume ao longo da música. “A Eternidade” é um trabalho de “spoken words”, um gênero pouco difundido em língua portuguesa e que sempre rende frutos bastante interessantes, ainda mais quando se recita palavras do grande filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche. “Terra dos Sonâmbulos” poderia ser bem uma trilha de algum filme, com um instrumental muito bom e “Apocalipse” fecha o disco, no melhor estilo Test Dept de fazer música.

Enfim, é um disco que exige paciência, que será recompensada, para absorver toda a densidade deste trabalho. É um disco nacional inovador em sua proposta e, por conta de tudo o que foi dito, deve ser escutado.

Tracklist

1 Ad Mortem   4:34

2 Gótica Profana   3:43

3 Misantropia   4:35

4 Santa Vadia   1:39

5 Garota Cadáver   3:28

6 O Indigente   1:59

7 Vultos Satânicos   2:46

8 Urubus na Carniça   2:30

9 O Vale da Sombra da Morte   4:12

10 Testamento   3:21

11 A Eternidade   6:20

12 Terra dos Sonâmbulos   4:35

13 Apocalipse   5:18

E quem quiser ouvir o disco, é só clicar neste link.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.