A minha lista de melhores de 2023

Sabe aquelas listas de melhores discos? Então, aqui vai a minha. 1 min


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Chegamos ao encerramento de 2023, um ano efervescente e profundo, e com ele, surgem as tão aguardadas listas de final de ano. Diversos veículos já divulgaram suas seleções, e aqui você encontrará uma compilação das minhas experiências musicais que tocaram em meus ouvidos ao longo do ano.

Este compilado tem uma variedade de artistas e gêneros musicais, especialmente rock, experimental e metal, mas não apenas isso. E tem artista de tudo quanto é país, cor, sabor, forma e, me arrisco a dizer, cheiro.

Midwife / Vyva Melinkolya - Orbweaving

Midwife é uma das melhores coisas que descobri esse ano e o álbum "Orbweaving" é uma jornada introspectiva, densa, melancólica e que mistura shoegaze, dream pop e ambient. 

As melodias etéreas, os vocais envolventes e a atmosfera densa trazem uma simplicidade e também uma melancolia que toma conta da gente enquanto escuta e se afunda em seus próprios demônios.

Kanga - Under Glass

Eu não sou um grande fã de música pop e achei o disco "Under Glass" uma das obras mais interessantes que já escutei. Com uma mistura ousada de música pop, darkwave e vocais limpos e belos, o álbum cria uma atmosfera intensa e provocativa.

Eu ainda prefiro o "You and I Will Never Die", tanto pela atmosfera quanto pela variedade. O que eu sinto nesse disco é que ele é um bom disco pop, mas ser pop e um pouco repetitivo na temática da hiperfemilidade e na musicalidade.

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo - Música do Esquecimento

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, uma banda brasileira nascida em 2019 em São Paulo, destaca-se no cenário indie rock. Só que eu acho injusto pra  caralho chamar essa banda de indie, sendo que ela tem uma verve experimental muito forte.

Em "Música do Esquecimento", a banda traz uma sonoridade extremamente pop, mas num arranjo muitíssimo estranho, confuso e cacofônico. E acreditem, isso dá uma resultado dos melhores que já ouvi em anos. 

Agriculture – Agriculture

Post-black metal (eu sou velho e não me acostumei com o nome de blackgaze) é um gênero de excelentes bandas novas que trazem um frescor e uma novidade à música extrema. O aguardado álbum de estreia da banda Agriculture é um projeto que redefine o gênero. 

Influenciados por grandes nomes como Deafheaven e Liturgy, Agriculture tece uma narrativa musical sólida, destacando-se pela agressividade e força de suas músicas, que fazem aquela ponte interessante entre o black metal convencional, o post-black metal e o death metal. 

Brasøv - Noel

"Brasøv Noel” é o segundo trabalho da banda Brasøv e é dedicado ao repertório de Noel Rosa. Aliás, a escolha no nome e da capa é um trocadilho pelo lançamento perto do Natal e já demonstra o clima de descontração que esse disco traz.

Com a participação de artistas de peso como Jards Macalé, Pedro Miranda e Zélia Duncan, este disco se destaca pela fusão de muitos gêneros. Aliás, é algo muito gratificante ouvir o Jards cantando em uma música de samba com jazz-fusion. Considero este um excelente tributo ao Noel Rosa, com personalidade e que ainda soa como o bom samba do compositor.

Divide and Dissolve - Systemic

Divide and Dissolve é uma dupla que sempre me impressiona com seu som monolítico, denso, pesado, caustico, ao mesmo tempo que seu instrumental é um grito constante contra o capitalismo, o colonialismo e o racismo.

“Systemic” é a tentativa de demolir todos os problemas estruturais, todos vividos numa sociedade capitalista e que precisa reforçar preconceitos em nome do lucro. Com uma música lenta, pesada e destruidora, esse é um recado importante a todos.


BIG|BRAVE - nature morte

Eu conheci o BIG|BRAVE num split que eles fizeram com o The Body, lançado em 2021 e desde então sigo ouvindo as pedradas sonoras que esse grupo experimental tem a nos dizer.

“nature morte” é um daqueles monumentos ao ruído e à dissonância que a gente precisa ouvir. Escute sem pressa, é um disco que precisa de atenção e cuidado.

HEALTH – Rat Wars

Conheci o HEALTH meio que por acaso, por conta de uma música feita em parceria com o Nine Inch Nails, a Isn’t Everyone. Depois fui ouvir o “Vol.4 :: Slaves of Fear” e, para mim, se tornou uma das bandas mais legais de rock industrial que eu já ouvi em anos, sobretudo por trazer aquele som dos anos 1990 que eu gosto tanto.

"Rat Wars" é a consolidação da evolução da banda, trazendo uma música triste, dançante, com muitas referências ao rock e ao metal industrial, como uma combinação inusitada de Ministry, Deftones, Nine Inch Nails e Godflesh (ainda mais com a parceria em SICKO). É um disco brutal, com as músicas mais tristes e melancólicas já feitas pelo grupo, como ASHAMED e UNLOVED. 

terraplana - olhar para trás

Aqui no Brasil vem surgindo uma leva interessante de grupos de shoegaze, como o Sonhos Tomam Conta e Os Últimos Dias Disso. Minha surpresa fica com os curitibanos do terraplana, que lançaram o seu primeiro disco pela Balaclava Records, gravadora independente com foco em indie, shoegaze e produtora de shows.

Um disco de shoegaze cantado em português, com músicas que não escondem suas referências em medalhões do gênero como Slowdive, My Bloody Valentine, Whirr e Ride, mas sem soar como suas influências. São músicas com muito ruído, mas também muita beleza e que trazem tanto arranjos simples quanto composições com mais complexidade, demonstrando uma leve influência de post-rock em “você”. Essa banda ainda vai voar muito alto.

Slowdive – Everything Is Alive

Slowdive são os responsáveis por eu gostar muito de shoegaze e queria muito dizer algo sobre este disco. “Everything Is Alive” é tudo o que eu espero de um disco do grupo, mas com uma proposta musical atualizada, mais densa e mais melancólica.

Aqui nesse disco há muitas autorreferências, sobretudo aos dois primeiros discos, mas há espaço para muita coisa original. Considero um excelente disco para começar a curtir a banda.

Ken Mode – Void

KEN Mode sempre foi uma banda que me chamou pelo seu hardcore bruto, letras ácidas e uma musicalidade em constante mudança. 

“Void” é uma porrada daquelas bem dadas na orelha, com muito hardcore, crust, post-rock, sludge, post-metal e um monte de coisa que você pode encontrar nesse álbum, que reflete não apenas um amadurecimento musical do grupo, mas uma banda mais coesa e poderosa.

Ragana – Desolation's Flower

Ragana é uma dupla de sludge/crust que usa sua música para trazer o grito contra injustiças e brigar contra a opressão e as estruturas de poder.

“Desolation's Flower” é um disco bonito, denso, pesado, forte, como as duas integrantes em seus discursos e atitudes. Vai lá e escuta que está muito bom.

Anohni And The Johnsons – My Back Was A Bridge For You To Cross

Eu conheço o trabalho da Anohni desde sua antiga banda e era algo mais experimental, mais vanguardista, até o momento de seu hiato em 2015. E seu retorno se dá com “My Back Was A Bridge For You To Cross”, com músicas produzidas com Jimmy Hogarth (Amy Winehouse, Suzanne Vega) e arranjos em parceria com Leo Abrahams, Chris Vatalaro, Sam Dixon e Rob Moose.

Esse é um disco sobre minorias e como os diversos personagens tiveram suas lutas como motivadoras de mudanças sociais, além de temas como o ambientalismo, direitos dos LGBT+, numa musicalidade que mergulha nas referências da música afro-americana dos anos 1950 e 1960.

The Competence Movement - Music for Basic Functionality

The Competence Movement é um grupão que reúne gente de tudo quanto é projeto e idealizado por Adrian Charvat (Dada Jung Riley) e com a ajuda de membros dos grupos The Underground Youth, Patheticist International, Surrealist Temple Band e Morbid Books.

“Music for Basic Functionality” é um spoken words com alguma coisa de fundo, que varia entre o industrial, o punk experimental, o noise e a pura música experimental. Lembra um bocado do “The Second Annual Report” do Throbbing Gristle. Imperdível.


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.