Um dos grandes problemas para mim dentro do metal é que ele é um gênero, junto do pop rock e do rock gótico, pouco criativo. Embora tenha surgido de uma insatisfação com as condições sociais e também com a música de massas, ele se tornou parte da chamada indústria cultural e tem se tornado previsível ao extremo. Basta notar a quantidade de bandas clássicas que não conseguem lançar nada de interessante que não seja dar mais do mesmo para os fãs, muitas vezes sem nenhum tipo de vontade de tentar alguma coisa nova.
Não é preciso que todo mundo seja inovador um vanguardista, mas quando se nota que muita gente nova poderia fazer alguma coisa nova ou mudar, a gente percebe o quanto isso se tornou conservador. Entretanto, ainda tem gente que resolve aparecer com uns trabalhos do caralho, muito bons, inovadores e que fogem daquele convencionalismo que tanto incomoda. Caso você, caro leitor, seja como eu, que gosta dessas bandas bem diferentonas, aqui vai uma seleção de dez álbuns que você deveria ouvir para continuar a abrir seus horizontes musicais e, quem sabe, até mesmo começar a gostar de outros estilos.
Monumentum – In Absentia Christi (1995)
A Itália tem alguns nomes bem legais dentro da cena metal, mas a maioria das pessoas conhece apenas as bandas de power metal, como o Rhapsody (com suas divisões), Freedom Call e também pela Cadaveria. O que torna o Monumentum uma banda incrível é a sua mistura bastante inusitada de darkwave com doom metal e também com música experimental, além de muitos elementos presentes no dark ambiente. Nesse trabalho foram gastas 156 horas de produção, o que já mostra o nível de qualidade absurdo das composições, sem contar uma das melhores versões para Fade to Grey do Visage.
The Soundbyte – Rivers Of Broken Glass (2004)
Esse grupo foi formado pelo norueguês Trond Engum, guitarrista e um dos fundadores da maravilhosa banda The Third and the Mortal, cuja sonoridade no último disco, Memoirs, já apontava para alguma coisa diferente do metal. Nesse trabalho há uma mistura muito interessante do shoegaze com o metal, além de música ambiente. Daria até para chamar hoje isso de post-metal, se na época do lançamento o rótulo já existisse.
Melvins – Stag (1996)
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Nenhuma lista que cite algo “não-convencional” é digna de nota ou de respeito sem citar Melvins, um dos grupos mais inovadores até hoje dentro da cena metal. É bem complicado dizer exatamente o que rola nesse disco, pois temos inicialmente um stoner com muita coisa, desde o psicodélico até o rock progressivo, com direito até a scratches de vinis e muito de grunge e punk. Para vocêm terem uma ideia da viagem que é esse disco, nele temos instrumentos como cítara, trombone, órgão, bongos, sintetizador Moog, bateria eletrônica, além dos habituais baixo, guitarra e bateria.
Amenra – Mass IIII (2008)
Formada em 1999 na Bélgica, o pessoal do Amenra é uma mistura muito interessante e muito coesa de post-rock com sludge e, de acordo com o disco, dá para notar referências ao folk rock, ao hardcore, à música drone, tudo isso com um tom extremamente sombrio e melancólico, numa musicalidade densa e profunda, recheada de texturas musicais e distorções. Para mim é uma das pedidas mais que bem-vindas para quem ainda não começou nesse universo de música não-convencional, sobretudo por Mass IIII entregar para quem ainda não adentrou nesse universo complexidade, muitas camadas de som e muita barulheira.
Pan.Thy.Monium – Khaooohs And Kon-Fus-Ion (1996)
Dan Swano é um cara cuja fama como músico e produtor de death metal atrai muita gente para seu estúdio, na Suécia, fazendo com que muita gente queira produzir com ele. Entretanto, muita gente também não conhece muitos dos trabalhos dele além do Edge of Sanity, Witherscape e do Nightingale. Pan.Thy.Monium é um trabalho que mescla coisa para caramba, como jazz, pop rock, death metal e uma cacetada de coisa. É um trabalho bem esquisitão, mas ao mesmo tempo muito bom de se ouvir, sobretudo por ainda ter o death metal como marca principal.
maudlin of the Well – Bath (2001)
Algumas vezes o chamado metal progressivo me incomoda, pois o que se apresenta são bandas de power metal com músicos muito capazes, tal qual acontece com o Angra ou o Symphony X, ou grupos que largam a mão de vez do metal para fazer uma música mais livre, como o Pain of Salvation. O finado maudlin of the Well mostra como é possível fazer um prog metal de alta qualidade sem cair em nenhum desses grandes clichês. Em Bath, lançado em 2001, somos apresentados a um trabalho que é uma mistura muito coerente de metal, incluindo aí doses muito generosas de death e de black metal, além de jazz, new age, bossa nova, pop, entre outros.
Oranssi Pazuzu – Valonielu (2013)
A história do tal “Pazuzu Laranja” (que é a tradução do nome do grupo) é bem interessante. Originalmente o seu fundador, Jun-His, foi vocalista de um grupo de rock psicodélico, o Kuolleet Intiaanit. Então, num dia em que teria o show do Emperor, Jun resolveu fundar o Oranssi Pazuzu para tocar como banda de abertura e surgiu aí um dos grupos mais legais de black metal que eu já escutei. A mistura mais que bem vinda do space rock com o rock psicodélico e a brutalidade de black metal fazem com que o grupo mereça ser ouvido de qualquer jeito. E em Valonielu temos a consolidação de sonoridades muito interessantes, incluindo aí uma pontinha de krautrock e de post-punk.
Botanist – VI: Flora (2014)
Uma das coisas mais recorrentes nesses grupos não-convencionais é trocar os instrumentos principais e ver no que vai dar. Nisso que os americanos do Botanist resolveram que era de boas trocar as guitarras por dulcimeres, que pertence à família dos saltérios e tem origem lá na Idade Média. Também é utilizado um harmônio, espécie de órgão de tubo de tamanho menor. Esse disco é um black metal com uma sonoridade muito peculiar devido aos instrumentos utilizados e também na forma como a música é apresentada.
Primitive Man – Caustic (2017)
Sludge, por natureza, já é bastante pesado e denso. Junte a esse caldo doses cavalares de noise e distorção e você terá um disco ruidoso, violento, agressivo, sujo. Tem uma influência forte aí de música industrial, sobretudo do harsh noise e esse é, como o próprio nome sugere, um disco cáustico, corrosivo, com letras que contestam o sistema econômico, a gentrificação, a própria desumanização do ser humano, entre outros assuntos leves.
Sunn O))) – Monoliths & Dimensions (2009)
Essa lista não poderia ficar completa sem colocar um disco do Sunn O))), grupo que surgiu como referência a outro grupo experimental, o Earth. Qualquer trabalho desse projeto poderia ser citado, mas escolhi colocar o Monoliths & Dimensions por ele ser tão importante a ponto de figurar na lista do Rolling Stone dentre os maiores discos de metal de todos os tempos. Com apenas quatro músicas extremamente longas, uso de drone de guitarra constantemente extendido, além do uso de instrumentos como viola, violino, sintetizador Korg MS-20, trombone, trompete, gongo, harpa, oboé, entre outros, certamente figura dentre os discos mais estranhos, recomendados e necessários para quem espera algo mais do metal.