Juvi – Músicas pra Ex, Vol. 1: Só Gatilho Foda (2022)

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Hyperpop, independente.

Eu não curto muito o chamado hyperpop, até por ele dizer muito pouco sobre o que você vai ouvir. E acredito que a maior qualidade do gênero seja exatamente essa: ser um som acessível, ao mesmo tempo que é experimental.

Juvi consegue trazer aquilo que torna o hyperpop interessante: o exagero, a hipérbole, o colorido, o melancólico, o crítico, o auto-crítico e até mesmo o deboche. E muitas vezes tudo isso ao mesmo tempo.

O álbum começa com Esse Som Não é Pra Você e lembra um bocado o que já fora feito em trabalhos anteriores, como no single de Boy Lixo Detox. Dá para notar uma leve influência de metal na estrutura do teclado e a letra melancólica vai abrindo espaço para a canção seguinte. Eu Quero Te Dar tem aquela pegada forte de música emo e de música de anime. A letra é muito bacana porque carrega um sentimento de contradição, apelando para uma linguagem quase surrealista.

Bumbum de Homem, o grande single desse trabalho, é uma versão experimental de tecnobrega. Fala sobre a forma como a gente encara as relações sexuais e tem uma intertextualidade com uma certa música de pagode dos anos 1990s… Isso é Ghosting ou Depressão? é mais uma música com influência de indie e de emo, com uma linha de guitarra bem marcante e o uso de vocoder que esconde qualquer tipo de identificação de timbre de voz, alternando entre uma música melancólica e uma mais agitada, representando possivelmente os picos dentro de um estado de depressão.

Em Meu Pau Na Sua Mão há um forte apelo ao electro e ao trap / cloud rap. Aqui tem um eco do seu trabalho anterior com o Sasha Grey as Wife, com fortes críticas à hipocrisia e à religião. Piscina continua na esteira das referências ao electro e aqui quase vai para o electro-rock, com batidas ruidosas e pesadas e uma pegada no melhor estilo U.D.R.

Fliperamas e Pantones começa com um drone eletrônico e uma voz quase apagada pelo uso de efeitos e se mostra uma canção mais tranquila, mas simples, quase uma baladinha pop e ela é, sem dúvidas, a canção mais acessível desse disco. Soultera tem um acorde eletrônico que faz um tributo aos grupos dos anos 1980 e penso ser uma das canções mais bonitas em termos de composição e aquela com letras mais concisas.

Queria enviar uma variante minha para te conhecer ano passado é o mais puro emo em essência, com uma pegada bem rock alternativo e ainda conta com a participação mais que especial do Arthur Mutanen do Bullet Bane. Tem aquela angústia adolescente característica e isso a torna a canção mais rock desse trabalho. Sapo Cyborg Gladiador tem umas influências de música oriental e algumas linhas de heavy metal bem escondidas, quase como uma música de videogame.

100% Digital é um retorno ao que Juvi fizera em Cyberemo 2020, só que de um modo mais maduro, mais bem acabado e com algumas cacofonias muito interessantes na sobreposição de instrumentos e voz. Ahegao (Yamete Kudasai) é praticamente uma música de videogame e trabalha com um trocadilho, uma vez que Yamete Kudasai é uma gíria usada no hentai, assim como Ahegao.

Saldo geral: é um bom trabalho, é a evolução da carreira pós-Sasha Grey as Wife. Contudo, pelo menos para mim, algumas repetições em temas e em linhas de voz me incomodam um pouco, a despeito de instrumentais e de referencias dentro do meu gosto, incluindo muita coisa de noise / industrial.

Vale uma ouvida bem atenta.

Juvi - Músicas pra Ex, Vol. 1: Só Gatilho Foda (2022)
  • Nota Geral - 8/10
    8/10
8/10

Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.