Black Metal sempre foi rodeado por controvérsias desde o começo. A história do gênero está envolta em esoterismo, crimes e, mais recentemente, com fascismo (ou pelo menos o uso indiscriminado de imagens de caráter fascista).
Durante o seu crescimento, na chamada segunda onda, bandas como Mayhem, Burzum, Carpathian Forest e outras criaram um estilo tétrico, dissonante, que desafiava (e ainda desafia) muitos dos clichês do heavy metal comercial, exaltando discursos extremos, blasfemos e controversos.
Contudo, com a aceitação de uma parcela grande do público e com a propagação de uma imagem “satânica” por parte da mídia, houve um crescimento e o som se tornava cada vez mais acessível, com bandas como Cradle of Filth, Dimmu Borgir, entre outras, ocupando o cast de gravadoras mais comerciais, grandes festivais de metal e uma pasteurização do discurso original.
Com isso foram surgindo grupos mais experimentais, que traziam uma musicalidade diferente e experimentavam com outros gêneros, como o Ulver, Beherit, Blut Aus Nord, Gnaw Their Tongues, entre outros. Esse experimentalismo ainda os colocava, em parte, dentro da cena black metal e eram sons com um nicho mais próximo do noise e do industrial.
Também surgiu o DSBM (Depressive Suicidal Black Metal), com uma abordagem mais melancólica, agressiva e sentimental, com temas sobre depressão, suicídio, automutilação, morte e misantropia, tendo como seus grandes representantes Livelover, Silencer, Xasthur, Austere e Nocturnal Depression.
Todos esses grupos tentaram uma ruptura com o padrão musical e temático do Black Metal, fugindo das temáticas satânicas e apresentando uma faceta que seria, anos mais tarde, redefinida com uma musicalidade não apenas experimental, mas muito fora do que já tinha se convencionado.
Na segunda metade dos anos 2000 houve um ressurgimento no interesse de jovens no black metal. Esses jovens escutavam também gêneros como rock alternativo, shoegaze, ethereal, post-punk, post-rock e outros estilos que não eram tão próximos do pessoal do metal.
Com isso surgiram várias bandas que misturavam o sombrio e melancólico black metal com elementos de rock psicodélico, shoegaze, dreampop, rock alterantivo, post-rock e outros. Trouxeram um som mais atmosférico, letras introspectivas e que se inspiravam em sentimentos, na melancolia, na literatura e em tantos outros temas.
Por isso vamos aqui fazer uma indicação de vinte discos para você começar a gostar de post-black metal. Vai, dá uma chance que, certamente, você vai gostar.
Amesoeurs – Amesoeurs (2009)
Amesoeurs é com certeza um dos maiores ícones do post-black metal. Vindos da França, apresenta uma fusão única de estilos musicais, incluindo post-punk, shoegaze, dark ambient e black metal, desafiando a categorização tradicional. Infelizmente a banda terminou por conta de algumas divergências.
Altar Of Plagues – White Tomb (2009)
Eu acho complicado rotular o som do Altar of Plagues, porque quando eles surgiram, não existia uma concepção de post-black metal muito precisa e meio que eles foram, juntos com o Alcest, os pioneiros nesse tipo de concepção. "White Tomb" traz todo o peso e brutalidade do black metal com influências de shoegaze, uma musicalidade limpa, agressiva, com partes que passeiam pelo heavy metal e pelo post-metal.
Alcest – Écailles De Lune (2010)
Neige é um dos pais do post-black metal, que alguns tentaram emplacar com o rótulo blackgaze. O seu projeto, Alcest, começou bem forte no black metal, mas é com "Écailles de Lune” que temos uma mudança significativa, incorporando uma influência forte de shoegaze no melhor estilo My Bloody Valentine, com pitadas de post-rock e dreampop.
Sólstafir – Svartir Sandar (2011)
Sólstafir é uma banda da Islândia que era conhecida por fazer black metal sobre temáticas ligadas aos povos antigos do Norte. Antes de virarem um grupo de post-rock/rock alternativo, lançaram “Svartir Sandar”, que é uma mistura de shoegaze, post-rock, sludge e rock alternativo. É um disco que muitas vezes soa pouco black metal, o que faz dele um excelente começo para quem ainda não se aventurou pelo post-black metal.
Deafheaven – Sunbather (2013)
Os americanos do Deafheaven redefiniram as bases do post-black metal com “Sunbather”. Para muitos isso também representa o chamado “hipster metal”, uma vez que esse disco traz influências de post-rock, indie rock, post-punk, hardcore, além de instrumentais com piano. É um disco aclamadíssimo, figurando em listas de melhores do ano de veículos como Drowned in Sound, PopMatters, Spin, Stereogum, Rolling Stone, Decibel e Pitchfork.
Regarde Les Hommes Tomber – Regarde Les Hommes Tomber (2013)
Regarde Les Hommes Tomber é o nome de um filme de drama policial francês, que também nomeia essa interessante banda. É uma versão mais épica do post-black metal, com muita influência de post-rock e sludge doom. Acompanha guitarras bem melódicas, músicas sentimentais e desesperançosas.
Germ – Grief (2013)
Eu podia colocar o Austere, a outra banda do australiano Tim Yatras, mas acho o Germ muito mais interessante por conta desse disco trazer influências bem inusitadas, como o post-punk e o synthpop, numa falta de coesão entre as músicas que torna esse disco muito bom.
An Autumn For Crippled Children – Try Not To Destroy Everything You Love (2013)
Fofo e melancólico não são adjetivos que você vai normalmente ver em uma banda de black metal, mas em “Try Not To Destroy Everything You Love” do An Autumn For Crippled Children temos uma fusão de doom, black metal e shoegaze, explorando uma estética única com destaque para elementos eletrônicos. É um disco agradável, sentimental, intenso, elegante e muita delicadeza. Para ouvir enquanto pensa no seu crush.
Botanist – VI: Flora (2014)
Botanist é um grupo no mínimo estranho de black metal, que usa dulcímeres (um instrumento medieval de cordas) no lugar das guitarras e suas músicas são sobre a natureza e as plantas. O som é único, uma vez que as guitarras quase não aparecem, mas sim dulcímeres, percussão pesada e vocais bem abafados, quase como se eles compusessem uma paisagem sonora. Esse disco representa um salto em termos de qualidade e composição e tem muitas influências de música medieval, post-rock e vários gêneros que não são parte do heavy metal.
Sylvaine – Wistful (2016)
Katherine Shephard é uma amiga minha que pude conhecer graças ao Groundcast e é uma pessoa muito esforçada e dedicada à música. Em seu segundo disco somos agraciados com um álbum ambientalmente denso, com uma beleza emocional e introspectiva, com muitas influências de post-rock e de shoegaze. É um daqueles discos que qualquer pessoa que curte post-black metal precisa passar.
Harakiri For The Sky – III: Trauma (2016)
Eu conheci o Harakiri for the Sky por causa do meu irmão, que tinha baixado no computador o “Aokigahara”. "III: Trauma" é o terceiro álbum deles, que traz uma jornada emocional que passa pelo black metal atmosférico misturado de doom metal e post-rock, explorando temas de desespero, melancolia e a natureza efêmera da vida.
Oranssi Pazuzu – Värähtelijä (2016)
Oranssi Pazuzu nasceu das cinzas do Kuolleet Intiaanit, uma banda de rock experimental finlandesa que já tinha alguns traços que viriam a compor o som da nova banda. "Värähtelijä" é o quarto álbum que incorpora elementos de rock psicodélico e space rock, explorando fronteiras musicais além dos limites convencionais do black metal.
Heretoir – The Circle (2017)
Eu conheço o Heretoir por conta de uma entrevista aqui feita com o King Apathy e garanto que hoje são um dos maiores nomes do post-black metal. "The Circle" é o segundo álbum da banda e mescla elementos de black metal, post-rock e shoegaze, formando uma das coisas mais bonitas para se ouvir em meio a letras reflexivas sobre temas introspectivos, como a dualidade da vida e da morte, com arranjos de arrancar lágrimas.
A Light In The Dark – A Long Journey Home (2017)
A Rússia tem produzido grandes nomes de gêneros como shoegaze e post-rock, como o Life On Venus e o I Am Waiting for You Last Summer. Dentro do post-black metal temos o one-man project A Light in the Dark, produzido por Bogdan Makarov e em “A Long Journey Home” o projeto adquiriu maturidade, com músicas que passam pelo post-rock atmosférico que homenageia grandes nomes como o Explosions in the Sky, ao mesmo tempo que os elementos de black metal prevalecem.
The Great Old Ones – EOD: A Tale Of Dark Legacy (2017)
Bandas com inspiração em H.P. Lovecraft não são novidade e o The Great Old Ones faz um trabalho bonito em "EOD: A Tale Of Dark Legacy". Terceiro álbum da banda francesa, é uma imersão no black metal cósmico, inspirado nas obras de H.P. Lovecraft. Com atmosferas sombrias e complexas, o álbum narra histórias de horrores cósmicos e transmite uma sensação de desolação em músicas inspiradas nos contos do autor americano. Musicalmente é muito mais próximo do black metal, mas com uma sonoridade que se aproxima muito do post-metal e do sludge.
Bosse-De-Nage – Further Still (2018)
"Further Still" é o quinto álbum da banda norte-americana Bosse-De-Nage. O disco combina elementos de black metal, post-hardcore e pós-metal, criando uma experiência sonora intensa e experimental. É um som caótico, denso, emocional, tétrico.
Suldusk – Lunar Falls (2019)
"Lunar Falls" é o álbum de estreia da australiana Emily Highfield, conhecida como Suldusk. O disco mescla black metal atmosférico com elementos folclóricos e acústicos, com muitas referências à música folk e ao folk rock. Ele é interessante como contraponto a outros trabalhos de post-black metal por incorporar temas ligados à natureza e ter uma referência instrumental forte em violões.
Sadness – I Want To Be There (2019)
"I Want To Be There" é um álbum do projeto musical Sadness, encabeçado pelo prolífico Damián Antón Ojeda. Com uma abordagem que combina black metal, shoegaze e ambient, o álbum evoca uma sensação de melancolia profunda, com letras introspectivas e uma atmosfera musical muito próxima do DSBM.
Violet Cold – Empire Of Love (2021)
Violet Cold é um projeto do músico azerbaijano Emin Guliyev, autodidata e que lança muita música. “Empire of Love” é um disco complexo para se ouvir porque tem referências que vão desde pop ao hip hop. Isso tudo num disco que tem uma mensagem positiva sobre a comunidade LGBT+ e é, do contrário de quase tudo que foi colocado aqui, um álbum alegre.
Agriculture – Agriculture (2023)
O primeiro disco do Agriculture foi uma das melhores surpresas desse ano que acabou de morrer e veio para consolidar a banda dentro da cena metal. Embora não reinvente o estilo, a banda revitaliza o gênero, trazendo influências que vão do country ao death metal. O disco tem até uma balada country pop com “The Well” e é um álbum que foi muito bem aceito e reverenciado por publicações especializadas.