Sylvaine – Eg Er Framand

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Algo que raramente eu gosto de fazer é resenha de EP, uma vez que quase sempre acho um trabalho contraproducente. Contudo, ao ouvir esse novo trabalho da Sylvaine, resolvi abrir uma exceção.

“Eg Er Framand” tem uma abordagem diferente dos seus outros discos, trazendo uma introspectiva e profunda conexão com as raízes folclóricas norueguesas. Kathrine Shepard apresenta um trabalho fortemente calcado numa musicalidade etérea e neoclássica, aliada a elementos da tradição nórdica.

Gravado na Kampen Church em Oslo, este disco é um reflexo da habilidade de Shepard em criar paisagens sonoras que são tão vastas quanto íntimas. Tem um quê de Dead Can Dance, outro de Anna von Hausswolff e um lado fantasmagórico, tétrico, de música ambiente.

“Dagsens Auga Sloknar Ut” (Os olhos do dia estão apagando, em tradução livre) tem uma melodia monotônica em um órgão, quase como um drone profundo e longo, junto de uma voz cheia de vida. “Arvestykker” (Relíquias) conta apenas com voz, com inserção de outras vozes de forma harmônica e sombria, com efeitos de dobra e uma sensação de uma viagem tranquila e sentimental. “Eg Veit I Himmelrik Ei Borg” (Conheço um castelo no reino dos céus) é uma canção tradicional, tem sua origem no hino religioso cristão e usa a melodia da canção folclórica de Hallingdal. Nesta versão ainda se mantém essa tônica religiosa, com instrumentos ao fundo servindo de apoio à voz.

“Livets Dans” (A Dança da Vida) retoma o órgão como instrumento de apoio, numa canção densa, numa melodia monótona, com uma breve percussão que dá um tom épico a algumas partes e uso de camadas de voz. “Tussmørke” (O Crepúsculo) difere um pouco das outras músicas e tem mais cara dos outros trabalhos da Sylvaine, com uma melodia base em piano e o uso de vozes para criar melodias de apoio. O disco encerra com “Eg Er Framand” (Eu sou um estrangeiro), faixa-título apenas na voz, como se fosse um ciclo que se encerra para que outro possa começar.

A capacidade de Shepard de incorporar elementos tradicionais de forma convincente cria um mundo sonoro próprio, com uma mudança radical do post-black metal / post-rock dos seus trabalhos anteriores. Traz leveza, traz novidade, traz algo de muito bacana para os ouvidos de quem não é fã de metal e gostaria de conhecer o trabalho da Sylvaine.

Minha única observação é que, talvez, um pouco de repetição em alguns momentos. A ideia de um EP dedicado a músicas tradicionais, minimalista, é uma ruptura muito grande que, possivelmente, alguns fãs não irão assimilar logo de cara. Mas deem uma chance, é bem legal este disco, que mostra muita paixão não apenas pela música, mas por fazer algo que toque também as almas e corações.

Sylvaine - Eg Er Framand

Artista: Sylvaine

Álbum: Eg Er Framand

Gravadora: Season of Mist

Gênero: Folk / Ethereal

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  • Nota Geral - 8/10
    8/10
8/10

Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.