Mono: Confira nossa entrevista exclusiva

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Mono 01

MONO é uma destas bandas que você tem que ouvir. Este quarteto japonês tem galgado seu nome através da Ásia, Europa e América com suas performances espetaculares. Com temas melancólicos e tristes, sua música colocou o post-rock num patamar mais alto e seu sucesso é uma combinação de talento, criatividade e originalidade. Estamos muito honrados com esta entrevista feita ao senhor Takaakira Goto, guitarrista e líder da banda.

Muito bem senhor Goto, agradeço por esta entrevista. Poderia nos dizer um pouco sobre a história do MONO? Como é a cena post-rock japonesa? Pergunto isto porque aqui no Brasil (e, talvez, em todo o mundo não-oriental), as bandas mais conhecidas do seu país são Visual bands, como X-Japan, Dir en Grey, B’zo ou alguns grupos de heavy/hard, como Eizo Sakamoto, Anthem e Sex Machineguns.

Desde que formamos a banda, nunca realmente estivemos envolvidos com a cena japonesa, pois tocávamos fora do país, então não tínhamos conhecimento do que rolava por aqui. O gênero post-rock é muito popular hoje no Japão, então há, aparentemente, muitas bandas do gênero por aqui, mas ainda não sabemos muito sobre elas. Há alguns grupos fantásticos que respeitamos, como o Boris, mas sua música está mais próxima do hardcore do que do post-rock.

Takaakira”Taka”Goto
É dificil tocar em uma banda de post-rock? Algumas vezes tenho a impressão que o “underground” e o mainstream não estão preparados para algo mais experimental.

Desde o começo nós estivemos sempre focados em nossa visão das coisas, então nunca nos importados muito se nossa música seria aceita no mainstream ou no underground. Apenas nos mantivemos convictos em nós mesmos e escrevemos canções que representavam nossas emoções e vidas e sempre pensamos que seria muito bom se pudéssemos tocar e compartilhar estas músicas com todas as pessoas do mundo.

Sobre turnês, poderia nos contar sobre a recepção do público nos shows? Vi alguns vídeos e as pessoas entram em transe durante as músicas.

Nosso público ao redor do mundo geralmente nos assiste sem falar nada, como se estivessem vendo um filme num cinema. Achamos que cada um sente sua própria história, de forma bastante pessoal, à partir de suas próprias experiências e memórias, através da nossa música, quase como uma viagem espiritual. E, por causa disto, penso que estamos controlando a nossa dinâmica nas músicas para chegar neste nível com o passar do tempo.

Conheço a banda desde o “One Step More and You Die” (que tem a minha música favorita, Com (?)) e noto que a cada trabalho a música se torna mais melancólica e triste, com uma beleza sombria em cada canção. Isto é proposital?

Os dois novos álbuns, “Rays of Darkness” e “The Last Dawn” estão chegando em outubro. Um é sobre a escuridão e o outro sobre a esperança, então decidimos lança-los juntos, ao mesmo tempo. Queríamos deixar o caos ainda mais caótico, e fazer o positivo o mais positivo possível. Ambos são discos opostos, pois o segundo é sobre escapar das trevas e encontrar a luz.

Sobre o seu processo criativo, o que te inspira? Quem são suas influências?

De Beethoven a Led Zeppelin, claro, mas eu também escuto muito Ennio Moricone, algumas trilhas sonoras de filmes antigos, assim como também My Bloody Valentine, algumas bandas mais pesadas como Neurosis e até mesmo um artista de Dubstep como o Burial. Há tantos artistas que me influenciaram que eu não consigo medir.

Takaakira”Taka”Goto 02O grupo começou suas atividades em 1999 e continuou com muita vitalidade e evolução. Quais são as dificuldades que vocês enfrentaram para continuar este tempo todo juntos?

Para ser honesto, quinze anos passam voando. Viajamos o mundo juntos todo o ano e sentimos como crescemos juntos gradualmente de crianças para adultos. Tudo que viemos era novidade, tudo era uma aventura frente ao desconhecido. O processo todo foi como um aprendizado do que é essencial para a vida através da nossa música e das viagens. Criar uma ponte chamada música é o nosso trabalho e, por conta de todas as pessoas, colegas, amigos e fãs ao redor do globo que temos encontrado ao longo dos anos, passando por esta ponte que criamos, podemos continuar a fazer o que fazemos. Somos verdadeiramente agradecidos por tudo.

Como é a experiência de viajar fora do Japão? Poderia nos contar algo importante que aconteceu durante as apresentações?

Estamos sempre em busca de um som que seja original e único, não qualquer coisa que já tenha sido feita ou tente ser uma cópia. Sentimos que deveríamos criar algo que fosse como uma linguagem aceita de forma universal além dos países, história e cultura.

Sobre o novo disco, o que podemos esperar?

Como disse antes, lançaremos os dois em outubro. Os dois álbuns irão representar os contrapontos da vida, luz e escuridão, esperança e desesperança, amor e perda, as emoções que não conseguirmos expressão, a dor que você não consegue colocar em palavras, a felicidade que não pode ser simplesmente medida. Também, ao mesmo tempo, sentimos e esperamos que eles possam, de alguma forma, exceder a escuridão.

Você conhece alguma banda brasileira? Aqui o post-rock está crescendo, com bandas como Labirinto, Herod, E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, com a ajuda do netlabel brasileiro Sinewave.

Não, não conheço. Mas irei ouvir todas, obrigado.

Já recebeu algum convite para tocar por aqui? Tivemos recentemente o Overload Music Festival, com God is an Astronaut como atração principal.

Infelizmente, ainda não tivemos a oportunidade de tocar no Brasil. Estamos esperançosos por tocar aí num futuro próximo e compartilhar alguma coisa especial através de nossa música e com as pessoas.

 

Takaakira”Taka”Goto


Editor, dono e podcaster. Escreve por amor à música estranha e contra o conservadorismo no meio underground.